Eu, Bela!

Capítulo 1

Estava deitada em minha cama quando escuto passos rápidos subirem a escada, logo vejo meu pai ofegante com uma carta na mão. Ele me olha e abre um largo sorriso, só pela sua expressão já sei do que se trata, minha carta da faculdade chegou. Há 6 meses me inscrevi na faculdade de Artes da Universidade de Mirandelle, meu sonho de infância sempre foi estudar lá.

Pego a carta das mãos de meu pais e começo a ler em voz alta.

"Temos o prazer em informar que Isabela Connor foi aceita na Escola de Belas Artes da Universidade de Mirandelle... "

Não conseguia mais ler o resto, meus olhos se embaçaram com lágrimas de alegria, meu pai veio e me deu um abraço de urso que só ele sabia dar, aquele momento era único.

-Eu falei que você conseguiria! Sua mãe estaria orgulhosa.

-Eu espero que ela esteja seja lá onde ela está. - disse sorrindo ao lembrar de minha mãe. Infelizmente a perdi quando tinha 3 anos para o câncer de mama.

Passaram-se 2 meses desde quando recebi a carta, tive vários altos e baixos nesse período. O fato de ter que deixar meu pai aqui sozinho me machuca, depois que minha mãe morreu sempre foi eu e ele, mas sei que isso vai ser bom pro futuro dos dois.
Neste exato momento estou arrumando minha mala para a faculdade e a maior parte dela se resume em livros, amo ler desde criança.

-Querida vem jantar! - grita meu pai da cozinha. Desço rapidamente e quando chego a cozinha vejo que meu pai fez o meu preferido arroz, feijão, purê de batata e bife. Sim, é simples, mas eu amo.

-Está preparada? - meu pai pergunta sorrindo.

-Não, mas estou muito animada, até agora não acredito.

-Estou muito orgulhoso de você filha.

Assim continuamos a jantar entre conversas e brincadeiras. Meu pai é muito jovial e tem um ótimo senso de humor, irei sentir saudades disso, minha alegria é que nas férias estarei aqui de novo. Após o jantar eu e meu pai fizemos nossa sessão de cinema, sempre fazemos isso, é uma formar de nos deixar próximos.

-Esse filme é realmente bom! - comenta meu pai após terminarmos de assistir Onde Está Segunda?

-Sim, até agora não acredito no que aconteceu.

-Acho que já deu a hora de irmos dormir, está tarde e amanhã você tem uma longa viagem para fazer. - disse meu pai olhando para seu relógio.

-O senhor está certo, boa noite pai!

Dou um abraço em meu pai, subo ao meu quarto e me preparo para dormir. Já na cama fico pensando nas mil e uma possibilidades que estão por vim. Uma nova cidade, uma nova faculdade, novas pessoas. Novas pessoas? Tinha me esquecido desse fato, digamos que não sou muito boa para fazer amizades, acho que fui entrando em uma área que meus amigos se tornaram os personagens dos livros. Enfim, que venha o novo.

Tuuum tuuum tuuuum

O despertador soa em meus ouvidos, me levanto sorrindo, hoje começa uma nova etapa em minha vida, faço minha higienes matinal e desço para tomar o café, já da escada sinto o cheiro do café pairar no ambiente dando uma sensação de aconchego. Na cozinha encontro meu pai fazendo panquecas, tentando no caso. Em uma jogada mal calculada a panqueca acaba caindo no chão, não me aguento e começo a rir, só assim ele percebe minha presença.

-Tá achando graça né mocinha? Vou por pimenta na sua panqueca pra ver se é bom. - disse ele dando uma risada "maléfica".

-Meu Deus pai. - falo ainda rindo.

-São quantas horas de voo? - ele pergunta.

-5 horas, depois que me levar no aeroporto você vai para a oficina?

-Não. - disse ele olhando para baixo, já sei que está mentindo. Meu pai é um inventor, se fosse por ele ficava o dia todo dentro daquela oficina e tenho certeza que quando eu for para a faculdade ele ficará a maioria do tempo trancafiado lá.

-Senhor Mauricio é sério, me prometa que não vai ficar o tempo todo dentro daquela oficina e que vai se alimentar direitinho.

-Okay minha filha, irei tentar. - não acredito muito na fala de, mas confirmo com a cabeça.

Termino de tomar café e subo para terminar de me arrumar, estou levando uma mala de mão com meus livros preferidos e meu notebook e apenas uma mala grande, não tenho muitas roupas e acho desnecessário já que temos um incrível tecnologia chamada máquina de lavar.

Enquanto desço com as malas o sentimento de saudades e despedida me invade, é estranho sair de uma casa em que vivi a minha vida inteira. Estou animada, mas há um resquício de medo dentro de mim, nunca havia vivido uma mudança tão drástica, espero conseguir lidar bem com a situação.

-Está pronta? - meu pai pergunta assim que termino de descer as escadas, confirmo com a cabeça e ele pega as malas para por no carro.

Durante a ida ao aeroporto meu pai não fala nada, só coloca uma música na radio e pergunta se está okay, agradeço por isso, me sentia chateada por estar deixando meu pai aqui se eu pudesse embalava ele em uma caixinha e o levava junto.

O aeroporto estava cheio, não sabia que tantas pessoas viajavam no sábado, a cara do meu pai olhando as pessoa era impagável, havia muita gente de nariz em pé como uma senhora que tinha acabado de passar do nosso lado com sua poodle tingida de rosa, tadinha!

-Não acredito que vi um cão rosa, aposto que deve se chamar Peppa Pig. - diz meu pai e caio no riso junto com ele.

Fomos até a área de check-in e tomei uma surra para aquela maquinha e não tinha uma alma para ajudar e pra melhorar meu pai só sabia rir de mim. Depois desse desastre ficamos sentados observando as pessoas que passavam e tentando adivinhar a vida delas.

Ouço chamarem meu voo, meu coração estava frenético, meu pai me olha e me dá um sorriso.

-Vamos, chegou sua hora, minha universitária!- ele se levanta e estende a mão para mim, pego a sua mão e me levanto, vamos em direção ao portão de embarque. 

Parece que tudo a minha volta se passa em câmera lenta, um misto de sentimentos me envolve e em minha mente uma tempestade se forma, tenho uma vontade enorme em sair correndo, mas uma excitação maior ainda de encarar essa aventura. 

Sinto meu pai me abraçar, a pior hora, a despedida. Ficamos olhando um para o outro, aquele olhar dele me dizia tudo, não havia necessidades de palavras. Me curvo para que ele possa beijar minha testa e saio em direção ao avião, penso em virar e olhar para ele como naquelas cenas de filme, mas eu não sou esse tipo de pessoa, sei que esse não é um fim é apenas um começo extraordinário.