Randômicos

Evoluir é sofrer por novos motivos (poema)

Das incontáveis palavras providas pelas lágrimas

Nenhuma me completará

Nem em pensamento, nem em desabafo

Porque me preenchi de ti

...

Partilhamos de nossas tragédias amorosas

Das semelhanças e encaixes,

Como retalhos que deixaram de estarem soltos

Fizemos, nós mesmos, pilar um do outro

O encanto aflorou, desprovido de intento

Mas carregado de malícia no desejo

Orgânico, como raízes a perfurarem e pétalas a penderem

Os elos se fizeram, secretos, e quem sabe, almejados

Permitimos sentir, mais do que o carnal provia

Removendo os impedimentos e a guarda

Havia uma promessa, sempre bela, na harmonia

Sempre tentadora, pois valia o risco de sofrer

Esperança podia ser cultivada, ao menos

Apesar da obviedade dos desafios

Ainda assim consentimos, uma verdade em ilusão

A singular junção seria plausível

Ternura, gentileza, tons confortáveis

Projetar o futuro é fácil no êxtase do impulso

Encontrar a influência no âmago era inevitável

Dançamos sobre o abismo, viciados na troca de olhares

Mas em sobriedade, os sonhos se sobrepunham, sem mescla

Os tons eram incríveis, mas errados, cinzentos em demasia

Nossas músicas, já marcantes, ganharam um novo sentido

Não nos demos conta de como quebrávamos fácil

Desmoronamos, em nós mesmos, em nossos alicerces

Envoltos de frustração, no desespero de buscar a razão

Despertar cruel, do fim do que nunca fora por pura injustiça

Era a punição que recaia, sem piedade, por termos acreditado

O presente trocado em sentimentos será selado em lacrimejar

Mesmo as promessas vaguem, permeando e assombrando

O desejo nunca será arrefecido por inteiro em nossos peitos

Por mais que a realidade assim demandesse

Não havia perdão para ser dado, pois culpado não existia

Restava o aprendizado mútuo, no curto laço interrompida

E constatar a grande verdade na ironia da vida

Que evoluir é sofrer por novos motivos

Basta-me talhar em minh'alma rasgada; 

Fique bem, minha desejada