Após meu banho, me joguei no sofá esperando notícias de Lilith. Meus pais haviam saído tão apressadamente que eu realmente sentia que algo mais sério havia acontecido, afinal, na nossa casa eles nunca se preocupavam com coisas que não fossem quase que um risco de morte.
Meu peito palpitava enquanto eu controlava a respiração, na tentativa inútil de reestabelecer as pulsações cardíacas para o nível normal de uma pessoa em repouso. Para me distrair, resolvi ligar a televisão, colocando um filme qualquer para rodar, até que minha atenção é interrompida com um toque de celular, me fazendo por consequência, pegar o aparelho eletrônico o mais rápido possível para atender o telefone, sem sequer checar o número.
"Atendendo rápido desse jeito? Quem é a garota?" Ouvi a voz de Mathias, com um fundo de risada, o que me fez bufar de raiva. No momento tinha coisas mais importantes a me preocupar do que qualquer garota que eu jamais pudesse gostar.
"Lilith está no hospital, estou esperando notícias, agora fala o que você quer!" Respondi friamente, tentando não xingá-lo, era uma grande perda de tempo gastar saliva com isso.
"O que aconteceu? Enfim, vai ter uma festa, quer vir? Vai ser bom 'pra' você espairecer, nós dois sabemos o quanto demora um diagnóstico médico." Ele tinha razão, toda vez que acontecia algo, meus pais demoravam em média umas 5 horas para ligar, mas isso era algo deles, nunca os vi passarem um diagnóstico ou qualquer coisa que fosse precipitadamente.
"Não sei cara, o treinador hoje pegou pesado, eu to cansado... mas me passa o endereço que eu vou aí rápido e volto, aproveitando que tem um carro livre aqui." Ouvi o endereço que meu amigo havia passado, anotando em um papel e desliguei o telefone, subindo para o quarto logo em seguida, pegando a primeira roupa que eu havia visto ao abrir o guarda-roupa, um jeans escuro, uma blusa preta e um tênis da mesma cor da blusa.
Antes de passar meu perfume e sair, olhei para a cama, vendo os cordões identificados que geralmente os soldados levavam para o exército. Eu sempre me certificava de que estava com eles, não pela identificação ou pelo "estilo", mas aqueles pedaços de latão tinham um grande significado para mim. Meu falecido avô tinha servido ao exército dinamarquês na grande guerra com a Inglaterra, antes do nosso país ganhar e a grande potência entrar em acordo, casando a princesa Sophie da Inglaterra com o príncipe Liam da Dinamarca, como se fossem objetos de comércio, eu achava aquela forma de governo uma babaquice, mas me orgulhava de ter um avô que lutou com bravura, venceu e ainda viveu um bom tempo contando a história. Infelizmente seu coração não estava em bom estado, o que fez com que ele infartasse com seus 75 anos, não podia negar que eu sentia falta dele, mas quando se tem 17 anos e precisa lidar com pais médicos, você passa a se acostumar fácil com a ideia da morte, ainda mais para um senhor de 75 anos com um coração comprometido.
Coloquei a corrente no meu pescoço e fui até o banheiro do meu quarto, espirrando perfume pelo meu corpo, sentindo a névoa aromatizada cair sobre mim. Passei a mão no cabelo, deixando-o desgrenhado e franzi a testa ao ver a barba que estava crescendo no rosto, precisava tirar aquilo, o quanto antes.
Antes de sair, fechei a porta do meu quarto, me certificando que não tinha deixado nenhuma luz acesa e desci as escadas em passos apressados, indo em direção à porta principal, pegando a chave do carro em cima da mesa de centro e logo saindo em disparada até o carro, entrando no mesmo em seguida.
Dirigi até o local que eles haviam me dito, agradecendo a Deus por meu pai ter esquecido a sua jaqueta de frio no carro, pois eu havia esquecido de pegar a minha e logo desci do automóvel, colocando a jaqueta e caminhando para dentro da festa, analisando aquele movimento todo, até que ouvi um barulho de choro, não sabia se me importava o suficiente para ir checar então apenas continuei meu caminho, entrando na casa tumultuada por jovens bêbados. Mal havia começado e já era notório que algumas pessoas não sabiam beber, e o pior de tudo era ver que todas elas estavam acompanhadas, mas ninguém se importava se elas estavam bem ou não.
Continuei andando, agora mais calmo, olhando para os lados tentando encontrar Mathias, desviando de algumas pessoas alcoolizadas que vinham em minha direção, até que sinto uma mão em meu ombro, seguida por uma risada, Mathias.
- Achei que a Cinderela não viria mais. - Ele disse em um tom descontraído e leve, tudo que eu não estava naquele momento, pelo contrário, estava surtando por dentro, enquanto por fora parecia a pessoa mais entediada do mundo, essa era a minha forma de esconder meus sentimentos.
- Achou errado, agora me passa esse copo e vai pegar outro pra você. - Puxei o copo com cerveja ainda cheio de sua mão e o vi bufar, saindo de perto para ir pegar outro para ele, o local estava realmente cheio, e antes que pudessem cair em mim, derrubando toda a minha bebida na jaqueta de couro do meu pai, resolvi sair, indo para o jardim com o copo, até que escuto novamente o choro que eu havia ouvido ao chegar no ambiente, droga, no fundo eu sabia que me importava.
Me aproximei da dona daquele choro delicado, não me parecia algo próximo de birra, e sim algo sério, o que fez com que lá no fundo, eu sentisse dó e me preocupasse com a garota loira que estava no chão, encolhida, com os cabelos em frente ao rosto, me impossibilitando de ver sua face.
- Você está bem? - Parei em frente à ela, dando um gole na bebida e logo ouvi ela se esforçar para parar de chorar, respirando fundo, concordando com a cabeça, levantando a face na minha direção, me fazendo automaticamente revirar os olhos.
- Você? Tenho certeza que é só mais um de seu dramas para chamar atenção das pessoas ao redor. - Falei um pouco rude e respirei fundo, tentando não me estressar com aquilo.
- Se você não quer ajudar, não enche o saco! - Annabeth me olhou com os olhos e nariz vermelhos, mesmo que sua expressão facial não demonstrasse que ela estava chorando e logo se levantou, passando a mão no vestido para limpar o que seja lá que acabou sujando.
- Tá, Annabeth, que seja, o que aconteceu? - Revirei os olhos e antes que ela pudesse se levantar por completo, se desequilibrou, me fazendo por impulso segurar ela, a ajudando a ficar em pé.
- Meu salto quebrou e eu estou com frio! - Ela Disse com uma voz manhosa e no fundo eu senti um ar de que ela estava mentindo para mim, como se tivesse algo a mais, mas eu não me importava, nem um pouco, então só respirei fundo e ajudei ela a caminhar até o meu carro.
- Eu acho que tem uma sandália da minha mãe no carro, se a "grife" for suficiente pra você, eu posso te emprestar e você me devolve depois. - Disse no tom sério de sempre e a levantei, fazendo com que ela se sentasse em cima do capô do carro, enquanto eu abria a porta do motorista para pegar a sandália. Minha mãe sempre tinha uma reserva porque nunca aguentava muito tempo de salto, mas acho que ela não sentiria falta, e qualquer coisa, eu deixaria Annabeth em casa para poder pegar naquela mesma noite.
Fucei as coisas até que finalmente achei, pegando aquela rasteirinha, como a Sra. Pillsbury, minha mãe, costumava chamar e fechei o carro, indo até a garota loira, entregando a sandália para ela.
- Você bem que poderia tirar meus sapatos para mim não é? - Ela disse com um sorriso meigo enquanto eu tirava a jaqueta para entregar para ela, eu não me comovia fácil com sorrisos e garotas fúteis e soberbas.
- Você não acha que eu estou fazendo demais por você? Podia te deixar ali com frio e com o salto quebrado, deveria era me agradecer o favor. - Cruzei os braços, me encostando ao seu lado enquanto ela me dava língua, como uma criança costumava fazer, tirando os saltos logo em seguida - O que uma garota como você faz em uma festa da 'plebe'?
Disse com uma risada irônica, olhando para algumas pessoas que estavam vomitando na grama com uma cara enojada.
- Obrigada, senhor ranzinza. - Ela disse com os lábios franzidos, claramente com raiva de mim - E eu estou aqui porque não tinha nada melhor para fazer, e porque Joseph me chamou.
Claro, Joseph sempre fazendo besteira, eu não ligava para as garotas que ele chamava, a única coisa que me espantava é ele não estar praticamente engolindo ela em algum cômodo da casa.
- E ele provavelmente te largou pra ficar com outra, típico dele. - Falei, olhando para ela rapidamente, ainda com os braços cruzados, mas logo voltando a olhar para o céu que estava bem estrelado.
- Quase isso... - Ela disse com um sorriso sem graça. - Ste, você pode me levar em casa?
Por um segundo em pensei em ser extremante rude pelo pedido, por um milésimo de segundo. Mas acabei cedendo, não era babaca o suficiente para deixá-la naquelas condições, ainda mais imaginando o que Joseph podia ter feito a ela.
- Tudo bem, entra aí! - Desencostei do capô do carro e fui em direção ao lado do motorista, eu também não estava mais aguentando aquela festa.
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As Crônicas do Amor e do Ódio
Teen FictionDizem que amor e ódio andam lado a lado, e não poderia ser diferente em um típico clichê adolescente... mas tudo muda de rumo quando diversos acontecimentos os impedem de ficar juntos, não seria a primeira nem a última vez que dois jovens precisaria...