Insone

Três e trinta e dois da manhã. Irritação. Agitação. Nervosismo. Insônia. Me levanto. Vou ao quartinho de bagunça, fuço num monte de caixas. Me xingo de otária meia dúzia de vezes. Volto ao meu quarto. Acendo a luz - meu marido se agita na cama. Apago a luz - o coitado não merece passar pela mesma apurrinhação que eu. Me xingo de idiota mais uma meia dúzia de vezes.
Quatro da manhã. "O cretino ficou com meu dinheiro. E o que eu fiz pra impedir? Nada. Por quê? Porque eu não consigo lidar com conflitos - eu travo na hora, não consigo falar o que sinto, não consigo expressar o que se passa na minha cabeça. Travo." Repito esse pensamento vezes sem conta. Já estou cansada, mas o sono não vem. Quatro e quarenta. Continuo repitindo a história pra mim mesma. "O cara está ficando com meu dinheiro e eu não consigo fazer nada. O safado prometeu que, assim que vendesse meu apartamento, me daria o dinheiro, tudo o que a imbecil aqui precisaria fazer seria passar uma procuração para ele. Passei a tal da procuração. Cadê o dinheiro? No bolso dele, claro."
Quase cinco horas da manhã e o sono não chega. Pelo jeito não vai chegar por um bom tempo.