O som da terceira chamada ecoava alto ao ouvido direito de Seokjin enquanto seu esquerdo era bombardeado pelo silêncio. Ambos nunca estiveram tão altos.
Era comum não receber respostas. Às vezes, você não estava pronto para recebê-las, outras, era algo que não lhe dizia respeito; Mas ultimamente, a ausência delas estivera mais frequente, e parecia carregar consigo alguns questionamentos, uma espécie de desafio para sua moral. Talvez, pensou, não devesse estar tentando ver as possibilidades dos outros com a intenção de mudá-las. Cada um detinha seu caminho, e controlá-lo não era um dever que recaía em suas meras mãos mortais. Mas, o que você faria, se pudesse de alguma forma, reduzir o sofrimento desnecessário de alguém? Alguém próximo? Querido?
Ele não ousaria dizer que é injusto ter poder para certas coisas e não para outras, era a ordem natural do universo, todavia, insistiria na ideia de que poderia fazer algo. E de fato, não só poderia como pretendia. Seokjin apenas evitava pensar em quão graves seriam as consequências para si. Caso elaborasse bem, seria o único a sofrer algum castigo. E caso o universo fosse justo, não seria algo tão rigoroso.
Era estúpido, ele sabia, um praticante de magia pensar assim. Ignorara o crocitar repetitivo de Namjoon, mas não ignoraria essa chamada indo parar no correio eletrônico. Hoseok precisava atendê-lo antes de responder àquela mensagem. Puta merda, garoto.
Pressionando a tela de seu celular novamente, Seokjin ligava para o mais novo pela quarta vez. E, pela quarta vez, não era atendido.
Diante a óbvia rejeição, encarou a tela extremamente clara do celular em contraste com o cômodo e conforto de seus olhos. Rangeu os dentes, bufou. E, ouvindo Namjoon reunir paciência para crocitar novamente, acabou por lançar um olhar irritado ao animal empoleirado.
Pelo visto teria que apelar. Abriu as informações do contato do amigo, fechou os olhos. Era preciso respirar fundo, e Seokjin sentia que puxava todo o ar do recinto para dentro de seus pulmões. Pressionou o nome de Hoseok com força, e imaginou o espasmo do garoto. Soltou o ar lentamente.
Procurou manter a calma recém alcançada e esperou. Seu método não lhe falharia agora e como esperado, o celular começou a tocar pouco tempo depois. Não sequer fez menção de abrir os olhos. Expulsou mais ar de si, aliviado. Atendeu com um estalar de dedos.
– Alô? – procurou pronunciar com a voz mais calma que dispunha, abrindo as pálpebras para encarar Namjoon banhando-se na luz que a lua emanava através de sua janela, desafiando a coruja claramente descontente.
– Você tem alguma coisa a ver com o choque que acabei de levar? – inquiriu o mais novo de imediato, e Seokjin podia ver com clareza a carranca irritada do menino estampada na face do seu familiar de penas.
– Não – tentou devolver no mesmo tom calmo, calculado, mas falhou, com deboche se alastrando pela colocação seguinte – Mas, sabe, às vezes nós temos o retorno imediato por nossas ações.
– Então, qual é a porra do seu retorno – questionou Hoseok, ressaltando o palavrão – por me importunar quando eu estava fazendo algo importante?
– Esse "algo importante" – proferiu aspas com os dedos, como se o outro pudesse vê-las –, por acaso, é decidir qual desculpa você vai dar àquela garota para desmarcar o encontro de última hora?
A pergunta pairou no ar, o que não era algo novo quando se tratava dos comentários casuais do bruxo sobre acontecimentos que Hoseok não o informava. Manteve-se em silêncio, aguardando a repreensão.
O suspiro exasperadamente familiar de Hoseok se fez ouvir, em alto e bom tom:
– Você sabe que me sinto desconfortável – chiou, frustrado – quando você advin– vê – corrigiu apressadamente ao notar o vacilo pois sabia que o mais velho odiava a palavra "advinhação"; Jung Hoseok deveria ser uma das poucas pessoas que buscavam manter a consideração que tinha pelos outros até mesmo estando chateado – minha vida assim. Não é justo, hyung!
E claro, eles já haviam tido essa conversa antes, ainda na época quando Hoseok havia morado com o bruxo por alguns meses. Seokjin também já havia explicado que não via as coisas voluntariamente. Bem, pelo menos não naquela época. Entretanto, agora, essa era uma informação que ele tinha a intenção de reter consigo.
– Tudo bem, mas posso só te dizer uma coisinha? – perguntou, disposto a insistir na curva de retorno – Você não deveria se sentir mal por desmarcar para ir assistir filmes com o Yoongi. Vai ser muito mais divertido ouvir os comentários extremamente críticos dele, e todos nós sabemos.
Jin sentia-se quase perdidamente tentado a perguntar quando Hoseok os apresentaria, afinal de contas, porém ainda dispondo de um pingo de noção - e mais alguns goles de certeza – que lhe alertava que aquilo seria estresse demais para o menor no momento, mordeu sua língua. Quem sabe um outro dia. Definitivamente outro dia.
– Então – concluiu o de cabelos vermelhos, acompanhado de uma risada incrédula –, você decide sumir e não dar notícias por meses apenas pra voltar com as suas visões e conselhos pra cima de mim?
E se Seokjin dissesse que não compreendia a revolta do menor, estaria mentindo descaradamente. O parecer que ele decidiu sumir, deixar laços irem pelos ares... Mesmo que Hoseok não fizesse a mínima ideia de que não havia muito o que se fazer, que Jin deveria se afastar desse mundo... O bruxo estava disposto a deixar entendimento ser uma via de mão única, seu garotinho não imaginava como o caminho era árduo e que ele próprio era a razão pela qual o mais velho seguira esse rumo. Contudo, decidira que não poderia virar as costas para ele agora, por mais contraditório tudo aparentasse. Regras não o fariam abandonar o menor. Não agora, ao menos. Não sem garantir que ele ficaria bem. Mesmo que doesse mais à frente, ele esperava que doesse somente nele;
– Eu vou desligar, ok? – anunciou o mais novo, baixo, soando magoado e Seokjin não podia deixar de perceber como essas ligações haviam se tornado um padrão – Tenho que arrumar minha mochila para ir à casa Yoongi hyung...
E Jin sorriu meio que contentemente, disposto a ignorar certa melancolia atingindo-lhe o peito, sentia-se aliviado ao ouvir a última frase. Hoseok iria se encontrar com Yoongi, e esse era o caminho certo. O mago não sabia se suas cordas vocais conseguiriam emitir algum som quando o de cabelos vermelhos completou: – Não suma.
Antes que pudesse ao menos cogitar se responder que não, não iria sumir... Que estaria mais presente do que esteve em meses era o certo a se dizer, a ligação já havia sido encerrada. E apenas após alguns minutos de silêncio, sendo encarado por uma Namjoon com olhos arregalados em espanto, percebeu que lágrimas escorriam gélidas por suas bochechas.
Suspirou e sorriu terno, levantando-se para acariciar as penas de sua companheira do outro lado do recinto. Por mais que não concordasse inteiramente, ainda assim o ajudava, e, ele sabia, estaria consigo até o fim.
– Agora, Namjoon – disse, por fim, deslizando os dedos entre as penas escuras da coruja que buscava seu toque ansiosamente – Esperamos eles virem até nós.
VOCÊ ESTÁ LENDO
what would you do? (a sope fanfiction)
Fanfictionseokjin jamais desperdiçaria sua energia e poderes com yoongi e hoseok novamente. (190428)