Prólogo

39 9 4
                                    

Essa história começa no fim de 2010, quando a casa velha ao lado foi comprada.
Minha mãe, como a fofoqueira que é, fez questão de acompanhar e espalhar pela vizinhança que a nova família era constituída por apenas dois membros: os irmãos Jung.

Pela informação corrida - e aumentada à cada esquina, os pais haviam sido brutalmente assassinados em Incheon, mas que, sem suspeitos evidentes no caso acabou engavetado no departamento policial; o que levou seus pobres e órfãos filhos a procurar um novo lar (e um bom advogado para acelerar a chegada da herança, segundo mamãe).

Nessa época eu ainda era fã de Crepúsculo demais para me importar com qualquer coisa que não fosse relacionada à saga e o novo filme, mas fiquei ligeiramente receoso com a notícia de que o garoto, Hoseok, passaria a estudar no mesmo colégio que eu.

O lugar era, no mínimo, rigoroso. Nós tínhamos regras de vestimenta, regras de horário, regras de convivência. Tudo que torna a vida de um adolescente no auge dos 14 um inferno.

Portanto, se Hoseok fosse como eu, certamente sofreria com a adaptação, e confesso que uma parte de meus pensamentos esperava por isso. Se Hoseok também fosse um fracasso, eu não seria a única aberração disponível para sofrer isolado. Talvez nós até fôssemos amigos!

Entretanto, ao contrário do que imaginei, Hoseok parecia extremamente confortável em seu primeiro dia.

Sua apresentação foi simples. Seu nome dito em voz alta e uma breve curvatura em sinal de respeito.
Ele era alto demais para a idade e seus cabelos eram tão escuros que me perguntei quantas vezes alguém precisava pintar o cabelo para alcançar aquele tom de preto, mas ele não parecia vaidoso o suficiente para perder tempo com isso.

Se sentou sozinho no intervalo exceto por uma bandeja simples com pão e suco na mesa, parecendo ser suficiente para seu protótipo de café da manhã. Mas, para minha estranheza (e inveja), poucos minutos depois outro rapaz, Yoongi, de nossa aula de física, acenou para ele, sentando-se ao seu lado como velhos amigos fazem.
Eles falavam alto e riam, chamando a atenção de outras pessoas no refeitório, que logo se juntaram a dupla.

Isto me incomodou.

Principalmente pelo fato de que só haviam trocado duas ou três palavras durante a aula, no máximo algum comentário sobre a matéria. Não era possível que alguém fizesse amigos tão rápido.
Jung Hoseok era um ímã social?

- Qual foi a do teu novo amigo?

Jungkook colocou a bandeja ao meu lado e o estalo alto do metal me trouxe de volta à realidade.
Ele sorriu quando sentou ao meu lado.

- Ele não é meu amigo, idiota - dei de ombros - É meu vizinho.


- Se apaixonar por vizinhos é o cúmulo do clichê, puts. - balançou a cabeça, negando com um sorrisinho - Mas bem que ele faz seu tipo.

- Eu não tô apaixonado, Kook. - revirei os olhos, batendo em seu ombro - E qual é o meu tipo?

- Ah, você sabe. - beliscou o sanduíche, dando de ombros - Alto, misterioso, bonitão. É tipo o Edward, mas asiático e com cara de que vai matar alguém a qualquer momento.

- Acho que ele não mataria alguém nem se quisesse. - sussurrei - Só se mudou pra cá porque perdeu os pais. Parece que foram mortos e ninguém sabe como.

- Sinistro. - Jungkook concordou - Gostoso e com uma história de fundo trágica. Vai que é tua!

- Isso nem faz sentido, Kook.- gesticulei - Além do mais, eu...

Foi quando percebi os olhos negros de Hoseok em nossa mesa.

Ele passava os olhos de mim para Jungkook com um sorriso aveludado nos lábios, levantando-se de sua própria mesa e vindo em nossa direção com passos tranquilos.

Exibia uma postura impecável, com as costas eretas e a cabeça erguida, mas ainda parecia muito simpático enquanto se movia

- Então esse é o gay panic? - Jungkook murmurou, paralisado. - Ele vai vir aqui?

O suor se acumulava em minha testa, me deixando ofegante. Algo em Hoseok me deixou extremamente tenso.
Era como se ele tivesse uma aura superior que oprimia qualquer um que não fosse perfeito como ele.
Nós não parecíamos bons o bastante naquele momento.

Quando se sentou à nossa frente, seu rosto permanecia gentil.

- Oi. - sorriu.

Jungkook parecia travado demais para dizer algo, mas ainda foi forte o suficiente para pisar no meu pé por baixo da mesa, me forçando a responder.

As palavras se perderam em meu raciocínio quando formulei a resposta

- Oi. - engasgado, disse. Hoseok franziu a testa por um momento, mas prosseguiu risonho.

- Vocês podem me passar o horário? A tinta da impressora na secretaria acabou e a diretora não parecia disposta a copiar para mim.

"Copiasse você mesmo, oras." Pensei.

Contudo, Jungkook foi mais rápido, passando a ditar todas as aulas da semana. Hoseok tinha a caligrafia bonita, alinhada com a palta de sua agenda, mas não era apenas seu capricho que chamava atenção.

Jung era lindo no sentido mais claro da palavra.

Sua pele era bronzeada, dourada na luz do refeitório; os cabelos negros caíam como uma cortina sobre a testa e sobrancelhas enquanto seus olhos estavam concentrados na folha em sua frente. Os lábios eram cheios, moldados num sorriso discreto e atencioso.
Por um segundo me perguntei qual seria sua real textura - e por que fiquei tão interessado em saber disso.

- E na sexta temos a aula dividida com a classe B de novo, em inglês. - mencionou Jungkook, por fim. Hoseok se curvou, agradecendo.

- Obrigado...?

- Jeon Jungkook. - Kook piscou, deslumbrado. Eu cruzei os braços, ainda questionando meus pensamentos anteriores.

Não conhecia nada de Hoseok além de seu nome e endereço, como podia estar obcecado tão rapidamente no que ele dizia, fazia ou possuía?

- Obrigado, Jungkook - se curvou novamente, olhando para mim em seguida com um ar risonho, superior. - E Taehyung. - se despediu, indo em linha reta até às portas prateadas para o corredor.

Jungkook parecia encantado. Ele acenou, mesmo que Hoseok não estivesse mais em vista e encostou o queixo nas mãos, suspirando de forma patética.

- Ele é gentil, pelo menos. - riu, mas o ar de graça em seu rosto sumiu ao encarar o meu. - Taehyung, o que foi? 'Cê tá suando!

- Kook...- minhas sobrancelhas formaram um vinco, a mente trabalhava rápido demais - Hoseok me chamou pelo nome.

- Chamou. - sorriu confuso - E o que tem?

Engoli em seco, mirando seus olhos grandes embasbacado. Jungkook esperou, assustado.

- Eu nunca disse à ele meu nome.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Sep 12, 2019 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Eu Sei O Que Você Fez No Verão PassadoOnde histórias criam vida. Descubra agora