Eu deveria me sentir tranquilo e feliz por ter livrado uma menina inocente da podridão que poderia manchar sua alma tão limpa. Mas, nunca na vida me senti tão abominável e ridículo ao mesmo tempo.
Sem qualquer aviso, ela vem interrompendo os meus pensamentos desde que rejeitei continuar andando sobre o fio de navalha em que estávamos tentando nos equilibrarmos afim de não sairmos feridos.
Basta lembrar daquele seu melancólico olhar decepcionado para que eu sinta ainda mais repulsa de quem sou. E venho tentando de todas as maneiras, convencer minha pesada consciência de que o que fiz foi o melhor para a minha aluna, mas parte de mim recusa-se a aceitar. É só esquecer. Vai passar. Tem que passar.
— Estamos prontos? — Lana sorriu assim que pegou o meu olhar na sala dos professores, vazia após o término das aulas.
— É claro. — Ponho um sorriso educado no rosto e acompanho a entusiasmada senhorita Griffin até a Coffee Empire. — Por favor. — Abro e seguro a porta para que passe.
Lana parece extasiada comigo. Um tremendo exagero, eu avalio.
Somos conduzidos até uma reservada mesa próxima à vidraçaria e nos sentamos, discutindo o nosso pedido. Um caprichado cappuccino para mim e uma xícara de Earl Grey para a delicada Griffin, e inclui ainda dois deliciosos muffins de mirtilo para acompanhar nossas bebidas.
— Manhã agitada, não é mesmo? — Griffin comenta depois de receber sua xícara de chá preto e deliciar-se com um grande gole.
— E produtiva. A turma do terceiro ano tem sido surpreendente.
— Isso é ótimo, Enzo. Mas, por que parece tão preocupado?
Olho advertido para Lana. Controle-se Raymond.
— Questões familiares. — Disfarço, apreciando o meu fantástico cappuccino. — As reuniões são um tanto quanto monótonas.
— Eu te entendo. No meu caso, minha maior dor de cabeça é a Eva.
— Sua irmã, não é isso?
— Oh, você lembrou. — Lana ruborizou de alegria e sorriu. — Ela tem dezenove, mas um comportamento de uma adolescente, sabe?
— É complicado lidar com irmãos, independente de serem mais novos ou mais velhos. Alguns podem serem bem tóxicos e o laço fraternal pode nos impedir de enxergarmos isto. — Uma traiçoeira lembrança do passado tenta soterrar minha mente mais uma vez, mas dispenso.
— Você tem irmãos, Enzo?
— De consideração, sim. Talvez, um dia, cheguem a conhecê-la.
Seus olhos foram iluminados por uma doce esperança.
Ao virar o rosto para a vidraçaria, percebo um incomum tumulto pela rua.
— Oh, meu Deus... o que está acontecendo lá fora? — Griffin arregala os olhos por trás dos óculos, cheia de curiosidade.
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Amores Proibidos - Vol. 1
RomanceA tempestade costuma castigar a cidade de Dreamland e não é uma novidade a nenhum de seus habitantes. Mas, atrasada para a aula de literatura do senhor Raymond - a brilhante, encantadora e jovem Anna Hayes não esperava contar que justamente naquele...