Obra em degustação, apenas um capítulo disponível. Para adquirir a obra completa mande um e-mail para catarinalmeida@yahoo.comLos Angeles,
oito de maio, 02:45 PM.
Sharon Raydor não é alguém paciente.
Paciência é uma virtude rara em tempos de tecnologia, mas para a capitã Raydor é algo que a cerca desde sua infância, quando ela furtivamente desembrulhava seus presentes de natal na madrugada do dia anterior apenas para saber o que ganharia. Ou em sua adolescência quando cansada daquela espera interminável para que seu par a convidasse para o baile, ela mesma, embebida de coragem, tivesse erguido-se entre as mesas do recreio e firmemente convidando o garoto de cabelos loiros para o evento. Em sua idade atual, paciência é uma das qualidades que ela não se orgulha de não possuir, em seu emprego, lhe pouparia muitas dores de cabeça. Agora mesmo, debruçada sobre aquela pilha de papéis envoltos em pastas pardas, sua testa já lateja e seus olhos ardem. Talvez se fosse apenas um pouco mais paciente ela poderia usar aquele tempo para tomar uma xícara de chá morno, ligar para seu filho na faculdade e pergunta-lhe como foi a apresentação de seu seminário ontem ou até mesmo ir ao banheiro e checar aquelas bolsas roxas instaladas bem abaixo dos seus olhos brilhantes.
"A suspeita está aqui." Uma batida na porta de madeira escura com riscos perpendiculares seguidos da cabeleira negra de Flack me avisando sobre o ocorrido, cruzo as mãos em meu colo antes de me erguer e fechar os documentos em uma das muitas pastas pardas na mesa. "Ela é mais assustadora que nas revistas." Comenta, abrindo a porta para me dar passagem e abrindo aquele botão do seu blazer preto.
"Deixe-me avaliar isso com meus próprios olhos." O moreno ofereceu-me um sorriso enquanto seguíamos silenciosos até a sala de interrogatório, tínhamos que aproveitar o tempo enquanto nenhum advogado matador entrava por aquela porta e a mulher não falaria mais nenhuma vogal dentro da sala espelhada.
O restante da equipe já estava posicionada sobre o vidro fumê ao lado da porta de entrada, dois rostos carregados olhando para a figura sentada na mesa central na sala cinzenta. A mulher tinha cabelos castanhos escuros caindo sutilmente em seus ombros e formando cachos abertos e nada assustadores, sua postura ereta parecia extremamente profissional, ela estava acostumada a sentar-se em mesas duras como aquelas para fazer negócios e não ser interrogada. Encarei as pupilas dilatadas de Flack e dei-lhe um aceno antes de tocar na maçaneta gelada e abrir a porta com cuidado, o vento frio de dentro da sala fez minha epiderme arrepiar-se, fechei a mesma e permaneci encarando a mesa enquanto puxava a cadeira desconfortável e me sentava sobre ela. A essa altura, eu já estava sentindo o olhar quente como lava da mulher sobre mim, como um enorme raio de sol mirado bem entre meus olhos e me deixando parcialmente cega.
"Senhora Hella Dummas, sabe porque está aqui?" E aquilo era um truque, eu sabia exatamente como se pronunciava aquele nome bonito e imponente, mas queria testar até onde o orgulho daquela mulher seria capaz de ir. Pelo que era falado ao seu respeito por toda mídia, ela seria uma daquelas cheia de ego, que se entregam fácil escorregando nas próprias mentiras e cooperam por um acordo fora dos jornais. Escorrendo meus olhos por seu rosto mosaico eu quase perdi o fôlego presente em meus pulmões, e espero que isso não tenha estado estampado por todo meu rosto. Uma vez escutei que pessoas gregas parecem perfeitas porque são descendentes dos deuses, ao ver o semblante da mulher em minha frente eu posso afirmar isso com a clareza de um lago raso. Os olhos fundos em sua pele parecem letárgicos como dois pedaços de mármore negros, redondos e circundados por uma linha negra e bem feita. Suas sobrancelhas grossas e despenteadas são naturais como seus cabelos, bagunçados e escuros, como se estivessem sendo constantemente puxados. Seu queixo impositor parece tão quadrado quanto minha mesa, sua mandíbula extremamente magra e bem delineada teria parecido esquisita e feia em qualquer outra pessoa no mundo que não fosse a mulher exuberante sentada em minha frente. O cheiro que vem dela me lembra plantações enormes de jasmim e erva doce.
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Antagonista
RomanceSharon Raydor se vê presa em uma teia de novos sentimentos assim que uma advogada excêntrica invade um de seus casos.