( Capítulo 1 ) - Pesadelos

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Acordei em meio a noite novamente, meu cobertor feito com pele de tigre (ele era branco e macio) estava ao lado de minha cama de palha, minha testa transpira frio, abro a gaveta do criado mudo e pego um pequeno graveto com uma substância vermelha na ponta, atrito a ponta na madeira áspera saindo uma pequena chama, e acendo a vela ao meu lado, olho o meu pequeno quarto de madeira, pequeno mas aconchegante, a janela ainda estava aberta como a havia deixado para ventilar o quarto, ele fica abafado com o ar do verão, abro a porta que range, me movo cautelosamente para fazer o minimo de barulho possível, pois sabia que o pouco de esforço faria as taboas me entregar, desço as escadas arrastando minha mão pelo corrimão, com medo de torcer o pé como já tinha feito quando ainda era uma pequena criança, mas agora tenho quase 18 anos. Cheguei no meu destino como em toda noite em que acordo... A cozinha, pego o bule de chá feito de metal velho e manchado pelo passar do tempo, saio da casa inspirando o ar que acaricia meus pulmões e apreciando as estrelas na noite escura, pego um balde d'água direto do poço e entro novamente, acendo a lareira e esquento a água, retiro de um pote de madeira ervas que foram colhidas na floresta, ou como chamo o quintal.
Água esquentando, sento na cadeira e espero.

- se você quer sair do quarto sem fazer barulho aconselho deixar a porta aberta por que ela range - disse Ritha, minha mãe, saindo da escuridão, esboçando seu belo sorriso e indo preparar o chá no fogo.

- acho que vou pensar nessa na próxima vez que sair do quarto - falei num tom brincalhão.

- rimos

Ela coloca o chá em pequenos copos de argila e se senta na cadeira, no caminho ela acaricia delicadamente meus cabelos, meu cabelo tinha uma cor branco-gelo que se arrastavam até o meio das minhas costas.

- o que foi dessa vez?

- o que? - me fiz de desentendida, mas sabia muito bem o que ela estava falando, sobre os meus pesadelos noturnos.

- vamos! me conte - Ritha segura minha mão como uma espécie de consolo.

- eu não sei muito bem, esse sonho foi diferente - olhei seriamente nos olhos a minha frente, olhos azuis, meio cinza com o decorrer da idade, minha mãe possuía cabelo curto e claro, um tom de castanho desbotado, bem diferente dos meus, não aparentava ter muita idade, uns 30 no máximo.

- como assim diferente?

- não sei, não lembro dos meus pesadelos, mas esse era... Era como se eu estivesse lá, só observando, e desse eu lembro nitidamente - o arrepio sobe pela minha espinha só de lembrar.

- o que viu? - eu conseguia sentir o receio e a curiosidade na sua voz.

- estava em um corredor, as paredes eram feitas de blocos de pedra maciça, pudia sentir a umidade na parede. Eu andava, e o longo caminho era cheio de curvas e acessos que pareciam não ter fim, sentia uma adrenalina no sangue que corria a mil na minha veia, escutei vozes ao longe, mas não as entendia pela distância. No fim do corredor havia uma grande porta de madeira vermelha detalhada com o símbolo de um corvo negro, abro a porta e vejo um homem deitado no chão com uma faca cravada em suas costas.

- o que mais? - indaga Ritha com um olhar curioso.

- mais nada, o sonho acaba aí, o engraçado é que não vejo o rosto da pessoa no chão.

- foi só um sonho, logo deve acabar esses pesadelos - mamãe guardava a xícara no armário, passou a mão no meu cabelo e sumiu na noite - boa noite.

- isso é o que eu também espero. - diz Shankara beliscando o chá.

GuerreiraOnde histórias criam vida. Descubra agora