I'm sorry - Anny santos

1° Capitulo

Era 5 horas da manhã quando o despertador me acordou, e que ótimo, estava tudo bem, eu estava bem, estava viva. Mas por que não me sentia assim? 

— Come alguma coisa antes de sair
— Eu estou sem fome mãe
— Você não comeu nada ontem a noite Maria Julia.
— Porque também estava sem fome. Mas assim que der fome eu vou comer algo
Ela ergueu as sobrancelhas.
— Eu juro.
Levantei uma mão cruzando os dedos com a outra
— Certo. Fica bem e boa aula
Me deu um beijo e sai.

Eu sei oque você deve estar pensando "Isso não é legal com sua mãe". E sim, realmente não é, mas oque eu posso fazer? Havia semanas que quase nunca sentia fome e sentia preguiça só de pensar em ter que comer, e minha mãe já é cheia de problema, não quero ser só mais um pra ela, e sei que no fundo você deve me entender, pelo menos espero que entenda, mas não cobro, nem eu me entendo.

— Maju?
— Oi Ana?
— Está tudo bem?
— Está?
— Que bom. Pensei que estava mal
Na verdade foi uma pergunta, ela entendeu como resposta. E tudo bem..., tudo bem..., será que está?
— Leonardo me ligou ontem.
— Quem é Leonardo?
— O Menino que conheci no Clube, falei dele pra você
— Falou? Não lembro desse nome me soar familiar
— Talvez não tenha prestado atenção
— Eu lembro que falou do Lucas, Do Marcos, José, Felipe, Carlos. Mas esse Leonardo é novo pra mim
— Esquece os outros, esse é futuro. Já vejo até meu vestido de casamento bordado
— Boa sorte com mais esse futuro
— É sério, ele é demais.
— Não duvido disso.
— Ele disse que me ama.
— Você disse que também.
— Como sabe?
— Era de se esperar.
— É diferente
— Como da ultima vez.
— Estou falando sério.
— Eu também. Afinal, oque aconteceu com Pedro e todo seu amor por ele?
— Boa pergunta
— Disso eu sei, agora só queria uma boa resposta
— Eu acho que acabou
— Você acha?
— É, você sabe tudo que aconteceu
— Eu sei que ele foi embora
— Que seja, ele me abandonou
— Ele precisou ir.
— De qualquer maneira, acabou.
— Espero que esteja certa disso.
— Eu estou. Leonardo é meu futuro — Ela desceu correndo do ônibus e abraçou um garoto, desci logo em seguida e parei os olhando
— Esse é Leonardo. Falei dele pra você
— Ah, Oi
— Leo, essa é a Maju. Minha melhor amiga.
Sorri, eu já tinha escutado ela me chamar assim outras vezes, mas hoje eu percebi que eu realmente era a melhor amiga dela, não a única amiga, mas a única que conhecia ela, e permanecia ali.
— Oi Maju.
Ele pronunciou e soou doce. Ele era lindo, oque era de se esperar, Ana era maravilhosa à proposito, Loira, com olhos castanhos claros e um corpo de botar inveja em outras garotas, e botava, realmente.
— Ma, eu vou ali com Leonardo, a gente se ver mais tarde
— Tudo bem.
Sozinha. Outra vez. Não que não gostasse de estar sozinha, eu gostava, mas era um saco, perceber que era só você a amiga na amizade.
Talvez eu devesse comer algo como disse à minha mãe que faria, mas a fome me abandonou faz tanto tempo que já nem sei se ela ousaria voltar em algum momento.
— Maria?
— Noah.
— Cadê Ana? Não veio hoje?
— Está por ai, andando com seu novo namorado
— Ela está namorando?
— Aparentemente sim
— Uma pena
— Como assim?
— Ah, deixe isso para lá
— Ah não, não me diga que está afim de Ana?
"Por favor, não diga" - Implorava eu em pensamentos. "Você não, por favor"
— Talvez esteja
"Droga, Droga, droga. Mil vezes droga" - Pensei, mas só consegui dizer:
— Uau!
— Oque houve?
— Estou surpresa
— Por que? Ana é maravilhosa.
— Sim, é, eu sei que é.
— Tem algo ruim nisso?
— Eu só estou surpresa, posso ficar, não posso?
— Claro que pode. Mas aí, bem que você...
— Bem que eu oque Noah?
— Bem que poderia me ajudar com ela.
— Já disse. Aparentemente ela está namorando
— Quando ela terminar. Ela sempre termina
— Dessa vez pode não ocorrer.
— Vamos saber com o tempo.

*Sinal toca*

— Olha que pena, temos que subir.
— Nos vemos na sala de química.
— Até lá.
E ele sumiu pelos corredores. 
Talvez eu seja egoísta por isso, mas veja bem, era o Noah. Já conheceu alguém cujo você gostaria de ter para sempre? Ele era essa pessoa pra mim, e imaginar ele gostando da minha melhor amiga me partia o coração, eu só queria que ele me amasse, mas me colocando em comparação com Ana, eu era só mais uma e ela era a garota dos sonhos de qualquer um, e eu não tinha oportunidade de ser essa garota um dia, não quando se tem uma melhor amiga como Ana por perto.
— Demorei?
Perguntou Ana, entrando no corredor.
— Não tanto. Mas conta, estão namorando?
— Que nada, acho que tu tinha razão.
— Sobre oque?
— Ele não é meu futuro.
— Mas você estava falando que ele era, hoje de manhã.
— Ah, mas pensando bem, ele é chato ao excesso.
— Ele me pareceu simpático.
— E realmente é. Mas fica muito no pé, você me conhece, sabe que isso não me deixa confortável.
— É. Eu conheço, ninguém te deixa confortável, e mesmo assim você vive dizendo a eles que os ama, e oque acontece depois? Você chega como quem não fez nada e diz que não era bem assim, que talvez tenha confundido gostar com amar, e eles ficam morrendo de amores como sempre, já você? Você sai assim, sem sentir nada, nem ao menos ressentimento pelo coração que quebrou, e ainda assim, todos te amam.
— Maria.
— Oque foi?
— Eu te fiz alguma coisa? Por que está falando assim comigo?
— Você não fez nada Ana. Eu só não consigo aceitar sua forma de amar
— Eu só tô tentando acertar o tempo todo, eu não escolhi ser complicada
— Mas pode escolher não envolver pessoas nessa confusão.
— Eu acho que preciso de ar.
E ela saiu, sem deixar eu falar qualquer coisa pra me redimir por algo que eu achava que estava certa em dizer, mas que eu podia não estar, porque eu estava fazendo a mesma coisa que estava julgando errado nela. Eu tinha magoado alguém, por estar machucada, por estar com ciumes. Ela era linda, e não tinha culpa disso, não tinha culpa de fazer garotos babar ao ver ela passar. Mas sempre foi mais difícil pra mim aceitar que ela era o tipo de garota que os garotos queriam, e eu não.

Subi para a aula com 10 min de atraso.
— Está atrasada.
Professora disse ao me ver entrar.
— Me desculpa, tive alguns contratempos.
Era estranho deduzir que meus contratempos era meus próprios pensamentos.
— Que isso não aconteça de novo Maria.
— Tudo bem professora.
Sentei do lado de Ana que aparentava estar chateada, e eu sabia que ela estava.
— Me desculpa, as vezes eu falo demais, deveria me controlar nas palavras, eu sei. Você é a pessoa que convive comigo todos os dias, eu não deveria ter dito aquelas coisas, eu sei que te magoei e entendo se nunca mais querer estar perto de mim novamente, porém me desculpa Ana, minha intenção nunca foi te magoar.
— Tudo bem Maria. Sabe oque mais me magoou?
— Oque?
— Você ter razão.
E eu vi pela primeira vez tristeza nos olhos de Ana, e ela não era aquela pessoa que demonstrava estar triste,
— Sabe Maju? Eu não escolho por quem eu vou me apaixonar, e eu nunca me apaixonei realmente, mas meus sentimentos fazem malabares com meus pensamentos e eu acho que estou apaixonada, eu não sei deduzir quando é ou não é, e isso acaba magoando os outros, e talvez eu não perceba, eu só não tenho controle disso, eu juro, se eu pudesse escolher, eu escolheria saber quando é real.
— Não é hora de conversas paralelas meninas.
Disse a professora nos fitando com os olhos.
— Me desculpa Ana.
Falei sussurrando. Ela apenas assentiu com a cabeça.
Quando a aula acabou percebi que não tinha prestado atenção em nenhum porcento dela, oque provavelmente me atrapalharia lá na frente.
— Vamos para a casa minha princesa?
Sorri antes de virar, sabia que era Noah, ele sempre falava assim
— Vai para sua avó hoje?
— Vou passar um tempo lá, preciso tirar férias da minha casa
— Eu tô tão feliz
Ele me olhou confuso e eu continuei apressadamente
— Não por você estar querendo tirar férias da sua casa, imagino que as coisas não devem estar boas por lá. Mas sim, por que você vai estar perto de mim por um tempo, como era antes.
— Sinto falta disso.
Senti cócegas no coração, e provavelmente minha cara de boba deixou à prova isso. Noah e eu crescemos na mesma rua, perdemos o bv um com o outro quando vimos um casal se beijando na rua e ambos tivemos curiosidade em saber como era aquilo. Noah era meu melhor amigo, e era o único que eu conseguia chamar assim sem fazer uma revisão total, como fazia com todos antes de pronunciar a frase "Amigo". Ele não era só meu amigo, ele era o melhor que eu tinha. Eu o amava
— Oi Noah.
Disse Ana, chegando perto
— Oi Ana.
Ele sorriu.
— O ônibus já esta vindo.
Ela avisou e se afastou.
— Que amiga gata você tem.
— Eu sei
— Ai, ai, se eu tivesse chances.
— Você faria oque?
Dei risada
— Eu casava.
Sorri forçado.
— Acredito.
— Deveria mesmo
Ele sorriu e entramos no ônibus.
Cada um foi pro seu lado, Ana já estava com aquele brilho se sempre, e fiquei feliz por isso. Noah estava animado com a ida para a casa da avó e eu estava despedaçada, e não tinha uma ideia de como me reconstruir.
— Você comeu hoje Maria?
Perguntou minha mãe.
— Comi.
Menti.
— Que bom minha filha
Ela me deu um beijo no rosto.
Fiquei pior, mentir pra minha mãe, já não bastava mentir pra mim mesma?
As horas passaram voando naquela tarde e quando me dei conta ja estava na cama, refletindo sobre o dia que tinha passado, apaguei a luz, desliguei a tv e pensei:
E os pensamentos, tem como desligar?