Prelúdio

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Estava no fundo do copo de uma bebida qualquer a coragem que eu procurava. Resolvi, vez por todas, colocar pra fora tudo que guardei por todos esses anos.

Quando você foi embora de nós me senti amputada. Mas não amputada de um dedo mindinho, amputada de uma perna, de um braço. Amputada de um membro que me forçou a reaprender a existir para tarefas básicas. E você me doeu como um membro fantasma. Latejava fundo, profundo, sem estar ali. Sem que desse pra abafar com qualquer sorte de analgesia.

Aleijada de você, fui reaprendendo a ser eu, mas não queria te deixar ir. Entre um trago e outro pingava uma palavra teimosa que eu fazia questão de engolir, pra de alguma forma te manter aqui. Nem que fosse presa nas minhas entranhas, na forma de palavras regurgitadas.

Vou abrir mão do mal estar. Tomar um antiácido. Chegou o momento de te vomitar.

O (re) começo do (des) caminhoOnde histórias criam vida. Descubra agora