Capítulo II – O Baile
Passei a tarde toda lendo meu livro e escutando as conversinhas das minhas irmãs com a minha mãe. Elas só falavam no baile. Como arrumar o cabelo, qual colar usar, qual roupa vestir, qual maquiagem passar e qual sapato calçar. Não se falava mais nada nessa casa. Falavam tão alto que dera para escutar tudo do meu quarto – estava difícil concentrar-me na história.
A noite chegara com asas ligeiras e eu não percebera. Grace fez questão de arrumar todas: uma por uma. Estava chegando na minha vez – a última filha. Pensei em dizer a ela que estava passando mal, mas era óbvio que não acreditaria, era muita coincidência passar mal junto no grande dia do baile dos príncipes.
- Katherine! – Ouvi-a gritar antes de entrar no meu quarto. – A senhorita não está pronta ainda?
- Nem comecei.
- Vá se aprontar imediatamente.
- Mãe, eu não vou ao baile.
- Por quê?
- Eu não quero.
- A senhorita vai querendo ou não. Vamos.
- Mãe, eu não quero ir.
- Eu não vou permitir que você seja uma chance perdida para os príncipes. Estou torcendo que os dois príncipes escolham duas de vocês.
- Mãe, Maisie tem apenas doze anos.
- Quanto mais jovem, melhor. Dê-me isso. – Ela tomou o livro de minha mão.
- Mãe! – Eu não gostei.
- Eu devolvo mais tarde se a senhorita for ao baile.
- Eu vou. – Eu disse nervosa.
- Não se esqueça de trajar-se melhor.
- Tudo bem.
Fui tomar meu banho. Deixei a água cair pacientemente e levemente como uma cascata enquanto eu me ensaboava. Após terminar, coloquei meu vestido curto verde-musgo em tons degradê – que terminara com a ponta do vestido no tom de verde-escuro. No meio do vestido, era um verde-claro que predominava, é um vestido muito bonito. Prendi meu cabelo em um coque. Desci as escadas e todos estavam esperando-me.
- A senhorita não vai assim! – Disse Grace.
- O que? – Fiquei surpresa com o que ela disse.
- Está faltando fazer uma coisa.
- Mas eu me arrumei do jeito que a senhora pediu.
- Deixe-me arrumá-la. – Ela se aproximou de mim e desfez meu coque facilmente. – Assim está melhor, vamos.
Sem que ela visse, rapidamente peguei um prendedor de cabelo e coloquei no bolso único do meu vestido. Quando fui para fora, uma carruagem estava à nossa espera. Todos nós subimos nela e logo os cavalos começaram a andar. Enquanto a carruagem era puxada por dois cavalos, eu fitava a paisagem que passava rapidamente, mas podia perceber o quão estrelado estava o céu. Estrelas grandes, pequenas, umas brilhavam mais, outras menos. Minha mãe falava baixo para as minhas irmãs como se portar em um baile, o que deve-se dizer ou não, como ser gentil, sofisticada, moderna, entre outras coisas.
Tecnicamente falando, andamos um caminho considerável. Metade de mim queria chegar logo ao salão de festas do castelo para que tudo acabasse logo e a outra metade nem queria ir ao baile. Os príncipes estão procurando provavelmente uma dama que se pareça com uma princesa. Como se algum deles fossem olhar para mim. Não perderão o seu tempo, olhando para mim. Minha mãe deve estar louca pensando que isso vai acontecer. O que ela sempre quis foi que nós nos casássemos com homens ricos – isso desde que a fábrica do meu pai faliu. Ela só pensa na economia da família, no dinheiro, sendo que na verdade o que importa é o amor e isso não é algo dos contos infantis.