10 dias *:･ﾟjhs

零

— Hobi — eu senti uma mão pequena e macia me sacudir. — Já chegamos, acorda — passei alguns segundos ainda sem saber onde eu estava ou como ao menos havia parado ali, mas então me lembrei que estávamos em um avião voltando pra Coreia, depois de algumas semanas nos Estados Unidos. Abri os olhos lentamente, apenas para ser agraciado com a visão de Park Jimin usando uma almofada de pescoço que parecia estar o engolindo, já que só conseguia ver suas bochechas e seus olhos, que evidenciavam um sorriso por estarem apertados formando dois riscos fofos.

— O que foi? — perguntei, tentando me manter acordado, mas o sono era tanto que tornava esse simples feito bastante complicado. Exausto é uma palavra que se encaixava muito bem no meu estado agora.

— Você dormiu a viagem toda, só acordava pra comer ou ir ao banheiro. Parecia até um bebê recém-nascido. — Brincou Namjoon rindo. Todos os outros membros estavam juntando suas coisas para desembarcamos. Resmunguei um pouco e apenas joguei minhas coisas dentro da mochila que estava comigo, sem me importar muito.

De nós sete, fui o último a sair do avião. Diferente de Taehyung, que saiu desesperadamente, arrastando tudo junto, eu não estava com pressa e o tempo que esperei foi o suficiente para que aos poucos o sono se fosse e desse lugar à minha animação de sempre.

Estávamos finalmente em casa, e isso era o que eu mais queria.

Com toda essa correria da vida de idol, eu passei a amar a simplicidade de um cotidiano tranquilo. Como as tardes de domingo em que a cama é o único lugar onde você quer estar, uma xícara de café quente de manhã, o doce som que as páginas de papel de um livro fazem quando são viradas, ou a sensação das meias escorregando contra o chão gélido ao andar.

Peguei o pequeno papel no meu bolso, para que pudesse buscar minha mala e sair logo daquele aeroporto lotado, e caminhei lentamente até a esteira, por onde as malas saíam do avião. Quanto mais próximo eu ficava, mais aparente se tornava a silhueta da garota em minha frente.

— Não, não, não, não — a ouvi dizer repetidamente, em um tom de voz irritado e também frustrado. — Droga de esteira! — cobriu o rosto com as palmas de suas mãos delicadas e deixou sua postura relaxar, como se desistisse de tentar novamente.

— Parece que você precisa de uma mãozinha — eu disse sorrindo por baixo da máscara preta que usava, ela retirou as mãos do rosto e rapidamente se virou em minha direção quando ouviu minha voz.

— Sério? Vai mesmo me ajudar?! — seus olhos castanhos brilharam com esperança e alegria, o que eu achei simplesmente adorável. Ela não parecia ser uma fã, não havia me reconhecido, e nem mesmo parecia ser de Seul.

— Que tipo de pessoa eu seria se não ajudasse uma garota com problemas no aeroporto? — tombei a cabeça um pouco pro lado enquanto erguia uma sobrancelha, fazendo ela reagir com uma careta que transparecia a ideia de "para de enrolar e me ajuda logo". — Qual é a sua mala? — Não pude evitar um sorriso. Além de ser bastante bonita, ela parecia ter um gênio forte, o tipo de pessoa que cativa qualquer um.

— Aquela branca presa embaixo das outras — ela apontou para a mala que se aproximava lentamente no ritmo da esteira — Não consigo puxá-la, e olha que eu já tentei bastante.

Enquanto esperava até que a mala estivesse em meu alcance, pude estudar melhor as feições da garota envolvida pelo cachecol verde. Ela parecia ter saído de dentro de um anime, dorama ou de um filme da década de 90.

O seu nariz arrebitado estava vermelho por conta do frio, lhe deixando com um aspecto fofo, os olhos castanhos se escondiam por trás dos óculos de armação arredondada e seus lábios eram cheios, parecendo ter um tom natural de rosa, que complementava perfeitamente seu rosto delicado. Não era muito alta, mas também não muito pequena, e sua pele aparentava ser tão branca quanto a do Yoongi. Eu tinha a leve impressão que apenas uma respiração mais pesada seria capaz de quebrá-la por sua delicadeza, mas ao mesmo tempo tinha a aura de alguém que não se deixava abalar facilmente.

Meus pensamentos foram desviados pela chegada repentina da mala. Estiquei meu braço e segurei a alça firmemente, a puxando do monte sem muita dificuldade e fazendo as outras malas se espalharem. Senti o olhar da garota sobre mim como se estivesse admirada, e logo coloquei a mala de rodinhas diante seus pés, lhe entregando a barra metálica que servia de puxador.

Meus dedos roçaram levemente contra os dela. Seu toque era gélido e percebi que suas bochechas coraram com o simples contato.

— Muito obrigada. — Ela sorriu timidamente tentando se esconder por trás do cachecol depois de se curvar educadamente. — Você fez parecer tão fácil. — Eu poderia dizer que foi paixão à primeira vista, mas isso soaria muito clichê, então vamos apenas falar que a minha empatia por essa desconhecida era forte.

Qual a probabilidade de que eu realmente consiga ficar com ela? Mínima. Mas eu sou o protagonista da minha própria história e eu acredito que a sorte está do meu lado.

— Sou Jung Hoseok. — Abaixei a máscara, aquela parte do aeroporto estava vazia, então eu não corria o risco de ser parado por algum fã, e não seria nada educado da minha parte manter meu rosto coberto enquanto me apresentava.

— Kwon Yoora.

— É um belo nome — sorri amavelmente e logo suas bochechas ficaram da mesma coloração avermelha que seu nariz afetado pelo frio. Meu sorriso ficou maior depois que percebi que ela me olhando como se estivesse estudando meu rosto. Com um tom de voz um pouco mais brincalhão e pretensioso eu disse: — Agora é a parte em que você me passa o seu celular pra eu salvar o meu número.

Ela parecia relutante no início e surpresa, mas então me emprestou o celular, com o mesmo sorriso singelo pintado nos lábios. Não demorei para devolvê-lo, mas nossa conversa foi deliberadamente interrompida pela repentina aparição de algumas garotas segurando cartazes. Definitivamente fãs. Tinha que me despedir antes que notassem minha presença.

— Salvei meu contato, e liguei para o meu próprio celular, então se você não me mandar uma mensagem primeiro, eu vou. — Sorri voltando a cobrir meu rosto com a máscara. — Verde definitivamente é a sua cor... — Estiquei meu braço e tirei minha própria mala da esteira —Tenha um bom dia, Kwon Yoora.

Me despedi e fui na direção contrária, tentando evitar a aproximação das garotas. Eu adorava passar tempo com os fãs, mas depois de horas de viagem não se tem cabeça para essas coisas.

Os outros rapazes já haviam saído e apenas me esperavam na van disponibilizada pela empresa.

— Hobi-hyung! Você demorou — essa foi a primeira coisa que ouvi quando entrei no veículo, me sentando ao lado de Jin, e havia sido dita por ninguém menos que Jungkook, o mais novo entre nós.

— Me desculpe, estava conversando com o amor da minha vida — eu disse brevemente, e recebi risadas desacreditadas em retorno.

Kwon Yoora... Eu daria de tudo para ver a sua reação quando perceber que salvei meu contato como "Hobi-Oppa".