Girei o a colherzinha nos dedos, encarando a bagunça no quarto e automaticamente fazendo bico. Podia jurar que já havia arrumado isso tudo na noite passada, o que não significava nada no final das contas, tinha tempo o suficiente para desfazer meu próprio trabalho. Faziam duas semanas desde que voltei da casa de praia e nenhum sinal dela ainda. Os dias pareciam passar se arrastando, quase que carregados por uma lesma. Talvez a culpa disso seja minha, há dias que não faço nada além de olhar o celular.
Minha conversa com Isac ainda estava gravada na minha cabeça e parece que alguma das minhas miniaturas de Billie fazia questão de colocar no replay quando menos esperava. Até agora não sei bem se entendi o recado, ou se entendi e estou bloqueando o resultado. Penso que talvez eu devesse conversar com o Dante sobre aquele dia, porém, ao mesmo tempo descarto a ideia só de imaginar a cena.
No momento, ocupei meu tempo buscando o que faria da minha vida. Mais precisamente, qual trabalho tentar. Enquanto não decidia, arrumar o quarto parecia um ciclo infinito.
Joguei as meias na gaveta e fechei, me virando e puxando o pano da parede, pegando a caneta permanente e escrevendo. As paredes literalmente falam aqui, são enormes diários e o cadeado é um lençol.
Encarei o nome na parede e suspirei. Adeus paz e estabilidade emocional.
Cobri o espaço e guardei a caneta, travando ao ver a tela do celular. Qualquer desconhecido ligando era um medo diferente, ou ela estava muito bem ou estava tão mal que lembrou meu número.
Atendi e esperei responderem.
— Feliz ano novo atrasado! — gritou e eu afastei o celular, fazendo careta e rindo baixo. Acho que estamos bem. — Eu sei, eu sei... fiz falta na sua vida.
Revirei os olhos e neguei. Eu sei que isso não significa nada, mas é tão estranho ver ela desse jeito sabendo o que tem. É como se fossem pessoas diferentes em um mesmo corpo.
— Hmm... não. — brinquei e pude ouvir o riso baixo, me fazendo sorrir. — Soube que foi transferida, está tudo bem?
— Quer saber se ainda penso em suicídio?
Sim.
— Pode falar, Eilish. Ainda não criminalizaram a palavra.
Neguei e passei minha mão pela minha nuca. Eu nunca sei como falar, algumas pessoas não gostam. Ela me parecia ser o tipo já que evitava o assunto, mas ao mesmo tempo fazia soar natural.
— É brincadeira, Juvia Lockser.
Ri baixo e olhei o meu cabelo. Tons diferentes, mas gostei da referência.
— Sério... estou bem, acho que seu disk ajuda virou disk papo furado.
— Isso é bom. Agora sou inútil, mas pelo menos está melhorando.
— Sim. Demorei algum tempo até que me liberassem para o mundo exterior de novo, tive que mentir na terapia.
— Isso não afeta o tratamento?
— Billie, eu não menti que estava bem — resmungou. Maldita mal humorada. — Só disse que você era minha namorada.
Arqueei as sobrancelhas e senti meu coração acelerar com o nervoso. Juro que não sei quem é mais louca, ela ou eu que me meti nessa. Porra.
— Acharam que ter acesso à você talvez ajudasse. — explicou e ouvi ruídos dela se mexendo. Neguei e baguncei meu cabelo. — Mas se quiser, posso desmentir e tiram... tudo bem.
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Blue
FanfictionBillie e a família visitam o hospital na véspera de natal como voluntários. Enquanto o resto da família entregava os presentes, Billie achou um sozinho na sala de recriação; uma paciente, uma amiga. Observações: Billie vai ter 18 e não vai ser famos...