O dia começou ruim para Patrícia, que acordou atrasada e para completar estava chovendo muito. Ela sabia que sair na chuva usando roupa branca era uma péssima ideia, mas não tinha alternativa, essa era a regra do curso de esteticista. Paty agradecia a Deus por esse ser o seu último ano de curso, pois era difícil conciliar casa, trabalho, estudo e igreja, mas com muito custo ela iria se formar e trabalhar no que gosta.
Ela vestiu seu casaco e saiu correndo na esperança de ainda pegar uma condução, no entanto já era tarde demais o ponto de ônibus estava vazio.
▬Ótimo. ▬ Patrícia reclamou consigo mesma, dando uma olhada em volta e constatando que estava sozinha realmente, era certo que iria ficar esperando por mais ou menos uma meia hora. Pensou em ler enquanto aguardava o próximo coletivo, mas lembrou que tinha deixado o livro que estava lendo em cima da cama, será que o dia poderia ficar pior?
A chuva aumentou conforme as pessoas iam chegando, elas foram se espremendo embaixo da proteção do ponto de ônibus até que o espaço ficou mínimo. O fedor de perfume barato estava forte e extremamente enjoativo, causando náuseas em Patrícia. E como se não fosse o suficiente o vento estava espalhando água por todo lado, era impossível não se molhar. Paty começou achar que seria melhor voltar para casa e dormir, mas não podia perder a prova de Estética Corporal II porque tinha ido mal na ultima avaliação e precisava recuperar a nota caso contrario ficaria devendo essa matéria.
Quarenta minutos depois ela desceu do ônibus, se atrapalhando toda para abrir seu guarda-chuva, e saiu rapidamente tomando cuidado ao passar por umas poças de água, como se já não estivesse toda molhada, seus pés estavam encharcados e faziam aquele barulho de borracha rangendo que é muito irritante. A enxurrada de água estava aumentando, e a chuva cada vez mais forte, ela só torceu para que o dia não fosse um prelúdio de como seria sua prova.
Faltavam poucas quadras para chegar até a faculdade. “Bem que o ônibus poderia parar mais perto.” Pensou Paty. Estava terminando de atravessar uma esquina que geralmente tinha pouco movimento e um carro em alta velocidade passou com o pneu dentro de uma poça de água molhando-a dos pés a cabeça.
▬ Mais que merda. ▬ Patrícia estava totalmente encharcada, sua roupa branca agora estava laranjada, não poderia ir para o colégio assim e também não podia voltar para casa. Ela ficou com tanta raiva que nem reparou que o carro que a molhou parou a alguns metros adiante, por isso foi pega de surpresa quando uma voz masculina chamou sua atenção.
▬ Moça, me perdoe. Tentei diminuir a velocidade, mas como estava muito perto não consegui. ▬ Patrícia se esforçou para entender o que ele dizia, mas o barulho da chuva dificultava as coisas, nessa hora uma rajada de vento passou e levou o guarda-chuva dela, pensou em correr atrás, mas como já estava toda molhada mesmo, preferiu deixar para lá e evitar mais esse constrangimento. Voltou sua atenção para o “babaca” que tinha acabado de lhe dar um banho e estragado sua roupa, que nunca mais ficaria branca novamente. Tinha vontade de meter a boca nele, mas quando o olhou de verdade para ele perdeu a voz, pois o homem era simplesmente lindo. As palavras malcriadas que ela tinha pensado evaporaram, enquanto observada cada detalhe do rosto masculino a sua frente. Notou que ele assumiu o semblante preocupado, com uma das sobrancelhas levemente levantada, o deixando praticamente irresistível.
Patrícia respirou fundo tentando recuperar o controle do seus pensamentos e falar alguma coisa coerente.
▬ Tudo bem, não tem problema. ▬ “O que?” Ela não acreditou no que tinha acabado de dizer, não estava bem coisa nenhuma. O que iria fazer agora? Toda molhada daquele jeito, e o pior era ficar sem reação diante de um estranho, não era do seu feitio.
▬ Posso te dar uma carona? Quem sabe levá-la para se trocar? ▬ Das coisas que ela imaginou em fazer, essa era a única que jamais faria, nunca mais cometeria o erro de entrar no carro de um estranho novamente.
▬ Ahn... Não, não precisa, já disse que não foi nada... ▬ Espantada com a reação do seu próprio corpo diante de um estranho, decidiu que era hora de sair dali. ▬ Esta tudo bem. ▬ Dizendo isso ela virou as costas para ele e saiu correndo na chuva, o homem era insistente e tentou mais uma vez, parando o carro novamente ao seu lado.
▬Moça, por favor, não posso deixá-la desse jeito, vai ficar doente, deixe-me ajudá-la. ▬ Patrícia o ignorou e continuou correndo, já estava quase chegando à faculdade. ▬ Posso pelo menos saber seu nome? ▬ Essa foi a ultima frase que ela escutou antes de entrar no prédio, sem nem olhar para trás.
Por onde passou Patrícia deixou um rastro de água, não sabia o que fazer, não tinha outra roupa para colocar. Era uma situação desagradável e constrangedora, parecia que havia um imã nela, todas as pessoas que estavam no corredor se viravam para olhá-la.
▬ Nossa menina o que é isso? Você esta parecendo um pintinho molhado. Você não pode assistir à aula assim. ▬ Falou Denise a diretora do curso.
▬ Mas Denise, o que eu vou fazer? Tenho uma prova importante hoje, que não posso perder se não irei reprovar e não tenho roupa para me trocar.
Denise analisou a situação por alguns segundos e decidiu que não tinha condição de Patrícia ficar para a aula, se ela ficasse com certeza iria adoecer, e não seria justo que ela perdesse essa avaliação por causa do mal tempo.
▬ Vou liberá-la da prova, como hoje é sexta-feira fará a prova semana que vem, agora vai para casa e tome um banho quente e troque essas roupas antes que fique doente.
▬ Obrigada... ▬ Era um alivio imenso para Patrícia, ter a liberdade de voltar para casa, pois já sentia o corpo ficando lesado e ela torceu para que fosse apenas coisa de sua cabeça e não uma gripe.
▬ Segunda-feira venha na minha sala para pegar a autorização para a prova.
▬ Vou sim. Mais uma vez obrigada. ▬ Paty estava agradecida bem mais do que podia demonstrar, essa era a primeira coisa boa que aconteceu desde que levantou da cama, no entanto ela conseguiu lembrar-se de mais uma coisa boa que aconteceu e um rosto se formou em sua memória, tentou desesperadamente apagar aquelas lembranças.
***
Aquele dia tinha começado estranho para Victor Maier, não é todo dia que se dá um banho de enxurrada em uma deusa, sim desde que viu aquela bela mulher toda molhada, não conseguia controlar as cenas sensuais que invadia sua mente, era realmente lamentável que ela não aceitasse a ajuda dele, se bem que se ela entrasse no carro dele, só Deus sabe se conseguiria se controlar.
Já estava andando de carro há mais de uma hora, tinha saído apenas para comprar um jornal e alguns pães para o café da manhã. Aquele breve episódio não devia ter ficado em sua cabeça, não tinha feito aquilo por querer, e depois ele tinha tentado ajudá-la, mas ela não aceitou e ele não entendia o porquê teimava em pensar que tinha alguma coisa de errado com aquela garota. Lógico que o fato de uma mulher se recusar a entrar no carro de um estranho era até normal, mas a maneira como ela pareceu tão afetada com a presença dele, tanto quanto ele estava com a presença dela e ao mesmo tempo assustada a ponto de sair correndo, incomodou Victor. Estava quase passando reto quando viu uma panificadora, estava na hora de voltar para casa, “talvez nunca mais veja a deusa novamente”, e esse simples pensamento o deixou triste.
Comprou os pães e o jornal e voltou para casa, tinha o dia inteiro para preparar a reunião que teria com os outros representantes dos Colchões e Cia, hoje era dia de apresentar resultados e ele estava bem animado, sua equipe tinha vendido super bem esse mês, e a possibilidade de ganhar o premio do mês era grande, fariam uma festa no fim de semana seguinte ganhassem o premio, sua equipe merecia essa comemoração pelo trabalho árduo. Ele pegou seu note book e começou a passar os dados das planilhas nos slides, levou o restante da manhã e quase a tarde inteira para terminar, mas tinha valido apena, o trabalho ficou muito bom.
Depois que terminou o trabalho Victor não conseguiu mais evitar as cenas indesejadas com uma mulher que nem conhecia, imaginou ajudando ela retirar aquela roupa molhada e percebeu que estava enlouquecendo, decidiu então que era hora de tomar um banho frio.
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Segredos
RomancePLÁGIO É CRIME! OBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL. O amor as vezes prega peças, Patrícia é uma mulher traumatizada pela vida, que aprendeu a não confiar em nenhum homem, e acredita piamente que a vida é muito melhor e mais segura vivendo sozinh...