Sabe aquelas referências que os autores renomados e cultos colocam em seus livros? Eu detesto isso.
Sei que o fazem para parecerem mais inteligentes, ou deixarem a leitura mais rica... acho um saco. Nem gosto de utilizar um vocabulário muito rebuscado quando escrevo. Não vejo a menor necessidade disso. Meu intuito sempre foi ser o mais claro possível, deixar tudo óbvio, sem rodeios e refinamento. Este sou eu, nu e cru.
Sujeitos inteligentes sempre me rodeavam na época da escola e da faculdade. Eu os odiava e odeio até hoje... "ah, porque Nietzsche blá, blá, blá... Dostoyevsky disse lá, lá, lá...". Irritante demais.
O povo da faculdade de Letras, meu Deus! Que gente mais insuportável! Sabe, eu até gosto de uma conversa mais inteligente, não para me colocar acima do próximo e sim pelo prazer de compartilhar experiências de vida, agregar algo ao nosso conhecimento de mundo. Em um dia de aula, uma das minhas professoras, que por acaso descobriu que eu escrevia poesia, me pediu para que eu lesse um dos meus poemas para a turma. Eu li. Todos me ouviram e depois criticaram, para não dizer "tacaram o pau sem cuspe". A cada palavra que ressonava, eu só me imaginava dando um soco na cara de cada um.
Qualquer ex-colega meu do tempo da faculdade vai dizer que eu era chato. Sim, não tinha muitas amizades, nem queria contato com nenhum deles. Todos eram esnobes demais, "inteligentes" demais e falavam bosta. Não me comparem a nenhum "letrando". Isso soa como uma ofensa pessoal.
Fiquei tão traumatizado depois desse episódio que parei de escrever poesia. Não quis mais saber de rimas, paixões em verso, lágrimas inventadas nem sorrisos entreabertos. Queria sangue, isso sim, o de cada um dos meus queridíssimos colegas de classe. Futuramente, meus concorrentes a vagas de emprego de professor. Será que eles lembravam que estavam todos na merda e se acabariam de estudar para fazer um concurso e ser mal pago por um Estado, ou melhor, um país que não valoriza os educadores? Se imaginariam sendo xingados por marginais, que não tinham a menor culpa de serem como eram, afinal foi o sistema que os fez assim, tão grossos e desrespeitosos...?
Agradeço a Deus por não ter visto mais nenhum deles. Soube que uns dois ou três eram mestres e estavam ensinando em universidades federais. Nossa, como devem estar insuportáveis agora! Coitados dos alunos...
Vida de estudante é um inferno, jamais pensaria em voltar a ser acadêmico. Simplesmente não tenho mais paciência para as perguntas desnecessárias, colocações sem fundamento, trabalhos com temas nada a ver que não influenciam em nada o sistema, já que a educação hoje em dia é o tijolo que sustenta a imbecilidade brasileira. O conhecimento é livre, com a internet ninguém precisa mais decorar nada. Colocações, anos, datas, nomes de autores, baboseira.
Voltando aos autores, por que escrevem tão difícil? Já basta a vida, complicada como ela só, ainda tenho de me acabar com um dicionário para poder entender uma ideia que pode ser dita de uma forma diferente e rotineira? Me recuso.
Sempre tento pensar de uma forma inclusiva e escrever de modo que todos possam entender... rapidamente. Vida de gay é muito complicada, não posso me delongar demais em explicações e detalhes bobos, para enfeitar, tentar ganhar o tão sonhado lugar na academia de Letras.
Talvez por isso que a educação do nosso país tenha falhado tanto. Sempre foi inacessível, distante, intocada. Os livros que os professores forçava-me a ler na escola, "clássicos da literatura brasileira" que eram mais retratos mal pintados da cultura portuguesa, me davam ânsia. Preferia ler a saga Crepúsculo mil vezes, me acabar em um poema vagabundo, acompanhar uma fanfic bacana de uma banda que eu gostava e escrever contos capengas sobre ser gay e enfrentar a vida.
Este sou eu. O próprio Paulo Paulada Power.
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Conflitos Internos da Cabeça de um Homossexual
Short StoryCrônicas homo depressivas.