Maybe.

Nada é pra sempre.

Talvez - isso levando em conta o quanto que seus olhos estão gritando por mim -, você não deveria fazê-lo.

Digo, não somente levando o quanto que você me disse estar confuso, ou o quão perdido eu o vejo, mas sim pelo número incontável de vezes que você confessou a mim que não a amava. Não mais. Nem como antes.

Sequer sabe se algum dia chegou a amá-la.

E entre todas as suas confissões e todos os seus choros e lamúrias você me beijou. Ah, querido Potter, seus lábios salgados pelas suas lágrimas confusas nunca deveriam ter buscado os meus. Suas mãos um tanto por ásperas tinham que continuar contidas, e não me tocar por cima dos tecidos. Eu mesma deveria tê-lo empurrado, afastado, não ter deixado que fôssemos tão longe - como a minha cama -, contudo, o vinho e a carência nublaram meu bom senso e então você estava dentro de mim.

Foi meu maior erro. O seu também.

E você empurrou contra mim, e me marcou como todo homem viril gosta de fazer, e eu deixei, e quando acordei no meio da madrugada não havia ninguém do outro lado. Não havia um bilhete, ou qualquer pista que dissesse como ficaria nosso relacionamento... Não se assuste! Eu não queria um romance, eu não queria estar do outro lado, no lugar dela. E sozinha no meio da cama eu me senti suja, por que ela não merecia tamanha desilusão.

Traição traz culpa.

Derramei meus pulmões aquela noite. Você me quebrou pela primeira vez.

Aparentemente, quando te encontrei alguns dias depois, nada havia mudado entre nós. Ainda existia amizade e por mais que me sentisse um tanto quanto desconfortável, tudo indicava que você não lembrava do que aconteceu, e eu me obriguei a esquecer.

Mas talvez, só talvez, você também fingia e em outras de nossas noites você me tomou no sofá mesmo. Quase não consigo olhar para ele, as cenas sussurram na minha cabeça e outra vez deixei acontecer.

Queria poder ter dito que foi somente mais esse deslize, mas outras noites vieram e elas se tornaram tão corriqueiras. De qualquer forma, eu sempre me acordava sozinha, e no dia seguinte, você se mantinha calado sobre tal assunto. Acredite, eu deveria ter agido como você; indiferente.

No entanto... Me apaixonei!

Como o previsível e inevitável, e eu queria que você estivesse lá no fim da noite ou ao amanhecer. Ou para um chá no sábado a tarde, e um café da manhã no domingo. Eu queria você, da forma mais egoísta possível. Mas tudo o que eu fazia entre meus lençóis e nossas luxúrias não parecia o suficiente para te fazer permanecer. E eu via você indo toda noite. Toda vez depois de ter conseguido o que queria.

Uma semana depois, depois de eu tê-lo confessado sobre meus sentimentos antes que você me abandonasse, você me quebrou uma segunda vez.

Anunciou, perante mim e todas aquelas outras cabeças vermelhas seu casamento com ela. Trocaram beijos apaixonados na minha frente, receberam abraços e felicitações. Tive que manter o sorriso e segurar o choro, e desejar em uma falsidade destruidora e já conhecida que fossem felizes.

Acho que nunca chorei tanto na vida como naquela noite, ou durante as outras noites depois de algum tempo.

E as suas visitas não aconteceram por alguma semanas. E eu entendi aquilo. Era um fim. O nosso.

Mas em uma madrugada chuvosa, onde o céu despencava e os trovões rugiam, você me procurou de novo de casamento marcado, e com uma aliança no dedo selando seu noivado.

Era um ciclo que deveria ser quebrado. E novamente você lágrimas nos olhos, tinha palavras distorcidas e tinha cheiro de álcool que me fazia ter ânsias e enjôos. O verde de seus olhos pararam sobre o meu de forma destruidora, você sabia exatamente o poder que detinha sobre mim. E sabendo que você a tomaria como esposa no próximo final de semana eu permiti que você adentrasse. Não somente minha casa, mas meu coração e meu corpo. E então outra vez meu quarto teve seu cheiro. Teve você e teve a mim.

O ouro de sua aliança era gelado de encontro a minha pele e minha consciência gritava; "imunda", enquanto você empurrava em mim de novo, e de novo, até que meus olhos revirassem e que você urrasse meu nome. Mas dessa vez, só dessa vez, Harry Potter, você queria ficar. Você se deitou ao meu lado, tocou no meu rosto e disse um ainda quase distorcidamente um "eu te amo, Hermione".

Eu o esperei por tempo demais. Eu deixei que você me usasse, e me destruisse, e você me quebrou como eu jamais ousei esperar que o fizesse.

Mantive-me calada pois pela primeira vez, eu não queria que você ficasse. E os chás de sábado a tarde, e os cafés-da-manhã de domingo que devaneei ter com você já não pareciam mais tão atraentes, ou promissores.

Poucos minutos depois você dormiu na minha cama. Aparentemente ninguém te confrontaria por passar a noite na casa de uma mulher, se essa dita fosse eu. Erro bobo se afinal eu me tornei seu maior pecado.

E eu chorei quando você adormeceu.

Na manhã seguinte eu que já não estava mais lá. Eu que te deixei acordar sozinho e sem bilhete. Mas quando voltei pra casa havia um seu e ele dizia: "O SEU sim pode mudar tudo.".

Quanta ironia, querido amigo! Entreguei a você meu coração, mas você preferiu parti-lo em pedaços ao decidir casar-se com outra. Na realidade eu o entendo. Era muito mais prático ficar com o mais fácil, do que lutar pelo verdadeiro, por isso, eu não respondi seu bilhete. Ou as cartas que você me escreveu ao longo da semana, enquanto viajava a Dublin para resolver problemas de seu trabalho. Você não me merecia no final das contas.

No final de semana marcado foi seu casamento e eu fui. Linda e alegre em meu vestido azul-florido. Como faltaria sendo madrinha?

Os seus verdes me encaravam como se dissessem: "Ei, estou esperando minha resposta". No entanto, eu já o tinha salvado inúmeras vezes e elas não foram o bastante pra você. E pra você, de longe eu só sorri.

Eu queria te dizer SIM, mas sinceramente, Harry Potter, você mereceu meu NÃO. E ela vai ter que bastar pra você, pois a minha cama não te quer mais. Porque se suas inseguranças não são suficientes para te fazer escolher o que seu coração quer, que as consequências sejam boas para te ensinar.

E o pavor de seus olhos quando ela entrou sorridente e tão linda, ou quando ela te desposou é tudo o que você vai ganhar.

O meu posto de melhor amiga nunca deveria ter se tornando nada além disso. E apesar do seu olhar acusador enquanto ela sorri e desce do altar feliz por finalmente ser sua esposa, algum dia vai passar.

Até lá, Harry, espero que você seja feliz, e a faça feliz. Pois eu, eu sei que vou me recuperar. Devagar e aos poucos, o buraco que você deixou no meu peito vai cicatrizar. E quando eu estiver pronta irei te perdoar.

E novamente, talvez te amar.

Talvez.