Minha namorada é a S/n

O início de tudo

Eu estava encarando minha mãe, sua expressão era a mais séria possível. Meu pai estava de cabeça baixa apertando suas mãos, minhas lágrimas caiam sobre meu rosto molhando minha roupa.

- O que a senhora disse?

- Quero me separar do seu pai e eu não vou repetir isso de novo.

- Mais porque?

- Porque eu cansei, sofri muito nesses longos anos casada com essa criatura.

- Mãe por favor, não separa do papai.

- Isso não é você que decide, eu vou me separar desse imbecil o mais rápido possível.

Assim ela saiu e bateu a porta do quarto ligando a televisão em um som tão alto que dava pra escutar do quintal. Eu havia acabado de chegar da escola, estava dando umas 7 horas da noite, minha mãe chegou do salão de beleza que ela tinha no centro e meu pai também havia chegado do trabalho.

- Pai? Você não vai fazer isso comigo ou vai?

- Como sua mãe disse, não é você que decide.

Ele se levantou e saiu de casa, me levantei e corri pro banheiro, me joguei em baixo do chuveiro e deixei as lágrimas se misturarem com as gotas d'água.

- S/n saia desse banheiro, você está gastando muita água. Claro, não é você que paga a conta.

Me enrolei na toalha e segui rumo ao meu quarto, vesti um pijama e fique lá estudando. Mas não conseguia me concentrar, era muita informação pra uma criança aceitar.

Toc toc toc

- Não vai jantar? Eu fiz aquele arroz que você gosta, fritei um bife e fiz uma farofinha com suco de cajú.

- Estou sem fome, coma você junto com sua ignorância.

- OLHA O JEITO QUE VOCÊ FALA COMIGO, VOCÊ ACHA QUE EU SOU QUEM? SUAS AMIGUINHAS DA ESCOLA? GAROTA ESTÚPIDA.

Assim ela bateu a porta do meu quarto e eu chorei baixinho agarrada no urso que tinha ganhado do meu pai. Assim se passou algumas horas e a porta do meu quarto foi aberta novamente, mas era meu pai. Ele estava com uma expressão indecifrável, sentou do meu lado e me abraçou, foi quente e apertado.

- Papai sente muito, eu não queria que você passasse por isso. Mesmo você longe do papai, vamos continuar nos falando e nos amando como sempre não é?

- Pai, como assim "longe"? Você vai embora?

- Vou pra casa da minha irmã por um tempo, até arrumar um lugar fixo pra morar.

- Mais pai, essa casa é sua, você que a construiu tijolo por tijolo. Por que você vai deixar a mamãe ficar com ela?

- Eu não penso na sua mãe, penso em você. Se eu a mandar embora, tu vai junto.

- Mas eu quero ficar com você.

- Não, você vai ficar com sua mãe. Eu não tenho nem onde morar. Vai ser melhor assim.

- Pai eu não quero que vocês se separem.

- Você tem que entender que nosso amor acabou. Não existe mais nada entre nós, apenas aceite.

Ele beijou minha cabeça e me deu o último abraço, foi em direção a porta e disse.

- Eu vou começar a te dar sua pensão a partir do mês que vem.

Assim ele saiu, eu chorei o resto da noite. Minha mãe não tinha falado mais nada comigo e nem eu com ela.

Good morning... Tin Din Din

Meu despertador tinha tocado e eu exausta levantei e me arrumei pra ir na escola. Tomei meu café e em cima do balcão tinha um bilhete.

S/n, fui pro salão trabalhar. Quando chegar da escola arrume a casa e comece a estudar, não espere por mim não sei que horas volto. Então não saia de casa e não abra o portão pra ninguém.
                   Mãe te ama!!!

Amassei a folha e segui rumo a escola, meu dia foi super difícil. Tentava segurar as lágrimas perto dos meus amigos e professores.

Quando cheguei, fiz o que minha mãe tinha mandado fazer e fui estudar.
Meu pai não tinha aparecido ainda, então fui assistir tv. Passava muitos filmes então escolhi um de comédia. Foi difícil mais consegui soltar algumas risadas.

- S/n? Onde você está?

- No quarto.

- Fez as coisas que eu mandei fazer?

- Fiz sim senhora.

- Ótimo? Já jantou?

- Mãe eu não sei cozinhar.

- POIS DEVIA APRENDER, SABIA QUE A NICOLE DA NOSSA RUA TEM MENOS IDADE QUE VOCÊ E JÁ SABE COZINHAR DE TUDO?

- Para de gritar mãe, eu não sou surda.

- COMO É? FALA DIREITO COMIGO SUA MOLECA.

Assim passou mais uma noite sem minha mãe falar comigo. No outro dia foi a mesma coisa, a noite também. E tudo que eu fazia era chorar.

Semanas depois....

Fui na casa da minha tia ver meu pai, ele havia emagrecido muito. Seu semblante estava triste e seus olhos estavam vermelhos.

- Querida seu pai não está bem, nessas últimas semanas ele quase morre.

- Por quê? O que ele tem?

- Ele não quer comer, não consegue dormir. Faz dias que não vai ao trabalho.

- Posso falar com ele?

- Pode sim.

Tivemos uma longa conversa e assim fui embora. Minha vida complicou muito depois desse episódio. Minha mãe não tinha paciência comigo, tudo ela reclamava e gritava. Descontava seus problemas em mim e eu só me afundava.