Capuz Escarlate - Legado do Lobo

Capítulo 11

Victor já havia perdido a conta de quantas xícaras de chá já tinha bebido, mas parecia que sua bexiga tinha uma noção bem melhor da quantidade de líquido ingerido pois já dava sinais que iria estourar. Deixou a xícara delicadamente sobre o prato de porcelana e tentou se discreto enquanto se levantava para buscar o banheiro. Aquelas entrevistas estavam sendo ainda mais maçantes do que tinha imaginado. Choros e lamentos. Além de serem obrigados a verem incontáveis fotos das desaparecidas, inclusive quando elas eram bebês, como se isso pudesse ajudar de alguma forma na investigação. O caçador sabia que sua linha de raciocínio podia ser um pouco fria, mas a verdade era que já estava cansado daquele ambiente depressivo e de pêsames, afinal, grande parte de sua infância jazia justamente no olhar de pena que lhe lançavam, os contínuos pedidos de pêsames, o luto. Sim, sabia que até então, não podia afirmar que as garotas haviam morrido, mas quem estavam enganando? A probabilidade de encontrá-las vivas eram ínfimas, pelo menos se não levarem em consideração a hipótese que elas fugiram para tentar construir uma nova vida em outro lugar...

Klaus estava sentado em uma confortável poltrona de frente da chorosa senhora Blackwater, mãe de Justine. Como a filha, a mulher compartilhava os cabelos loiros, agora um pouco grisalhos, e estonteantes olhos azuis avermelhados pelas lágrimas. Olheiras também deveriam indicar as incontáveis noites de insónia, talvez esperando que sua amada filha retornasse da floresta são e salva. Seu marido permanência afastado, fumando o seu cachimbo, soltando uma fumaça espeça que praticamente obscurecia suas feições. Victor sabia que ele tinha cabelos negros, meio rareados pela calvície e olhos escuros e cansados. Havia ainda o irmão, este nem compareceu a dita entrevista, tão perturbado que estava por ser o motivo de sua irmã mais nova vestir o capuz vermelho e cumprir a antiga tradição de trazer "boa sorte" que estava no momento dopado por medicamentos e dormia profundamente em seu quarto.

— O banheiro? — Perguntou, para ninguém em particular, não queria interromper, mas mijar nas calças podia ser considerado para alguns como um gesto de mal educação, não é mesmo?

— Segue pelo corredor, segunda porta a direita. — Disse o senhor Blackwater apontando com o cachimbo a direção. Victor acenou, agradecendo. Klaus lhe lançou um olhar talvez o avisando para não se meter em confusão, algo que gerou um rolar de olhos por parte do jovem caçador.

Seguiu pelo o corredor, tentou não mirar as várias fotos de família nas paredes, sentia como aquelas caras felizes estivessem o observando e julgando. Ainda não a encontraste? Não és um caçador? Devia estar na floresta e não aqui? Victor sacudiu a cabeça, dissipando tais vozes impertinentes. Iria investigar a floresta, mas Klaus também estava correto em dar um pouco de paz de espírito a aquelas famílias desamparadas.

Segunda porta. Sua mão alcançou a maçaneta, mas não tivera tempo de abri-la ao sentir que uma mão trêmula lhe segurou o punho. Victor, com rapidez, utilizando a sua outra mão livre pegou um de seus revólveres e apontou para o intruso. Um rapaz, trêmulo e ofegante. Cabelos loiros colados ao seu rosto febril. Olhos azuis tal como...

— Você é o irmão de Justine. — Concluiu, mesmo assim não abaixou a arma, esperou que o garoto o soltasse, mas esse não o fez e continuava o mirando com o olhar doentio.

— Você... É um Jägered... — Balbuciou.

—Sim. —Victor franziu o cenho.

— Os Jägered são salvadores... E-eles... Descendem do primeiro capuz vermelho...

— Do que diabo está falando? — Já estava perdendo a paciência. O jovem Blackwater cambaleou em sua direção, tropeçando nos próprios pés, sendo amparado por Victor.

— O caminho da floresta.

A capuz vermelho entrou e ao Lobo encontrou.

Seus olhos grandes eram.