Todo ano é a mesma coisa: janeiro traz as promessas, fevereiro geralmente traz o carnaval e março, as chuvas. Cada mês tem uma função que excede a de apenas marcar o tempo. Junho, o mês que agora vivenciamos, oferece o frio, mas também as fogueiras de São João. Oferece o melhor banquete caipira, a oportunidade de pesar a mão no blush sem sermos julgadas e as únicas quadrilhas boas do nosso país. E em meio a tanta bonança, traz o quase imperceptível lembrete que estamos na metade. Que falta pouco para o ano acabar e as expectativas serem reduzidas a pó. E em meio a listas de ano novo e desespero quanto às pendências que deixamos para trás, nem percebemos que essa não é o recado mais cruel que esse mês nos deixa. O pior é a ideia de sermos metades.
Estou falando do Dia dos Namorados, que ocorrerá dia 12. Como sempre, impreterivelmente. A data parece inocente e bonita, mas não passa de uma invenção capitalista e sem significado criada por João Dória em 1949 a fim de movimentar a economia. E deu certo – monetariamente falando. Os casais se presenteiam com canecas, chocolates, bugigangas quaisquer – pois se sentem pressionados a fazê-lo. Já os solteiros celebram a liberdade com bebidas alcóolicas superfaturadas em baladas de baixa qualidade – porque também sofrem pressão. E ali, no meio desses dois extremos, há quem nada compra, mas se vê vendida pelas entrelinhas da sociedade. Garotas, no geral. Essas que ouvem boybands teen, leem muita Meg Cabot, fazem testes do Buzzfeed para saber com quantos anos irão se casar, que assistem comédias românticas e percebem que nada está acontecendo conforme o script de tais coisas. É aí onde mora o perigo do questionamento: "Será que há algo de errado comigo?".
Não. Mas existe algo de errado com os pensamentos que cultivamos dentro de nós. Alguns deles são implantados desde crianças, como a ideia de procurar a nossa outra metade. Eu não acredito isso. Eu acredito que cada ser humano é suficiente por si só. Um universo de ideias único. Eu acredito na singularidade. E esta deve ser amada, cultivada, ela é a verdadeira identidade de cada um nesse período terráqueo. E ela é suficiente. Ela basta. Por isso, indo na contramão do João Dória, eu proponho a todas as garotas praticarmos a autossuficiência na tarde do dia 11. Um dia inteiro para cultivar o amor próprio e ajudar outras garotas a fazerem o mesmo. Rolará muita conversa, atividades e exercícios de reflexão. Juntas somos mais fortes!
Local: Brechó "A Vaca Foi Pro Brechó", Rua das Pedras, nº122
Horário: A partir das 20h
Com amor,
Joana Pires

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Manifesto da Autossuficiência
Teen Fiction"Estou falando do Dia dos Namorados, que ocorrerá dia 12. Como sempre, impreterivelmente. A data parece inocente e bonita, mas não passa de uma invenção capitalista e sem significado criada por João Dória em 1949 a fim de movimentar a economia. E de...