IV - Café

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Hoseok

"Que eu nunca mais te aviste junto às naves côncavas,
agora demorando ou de volta, mais tarde.
Inúteis o teu cetro e esses nastros divinos,
nunca a libertarei, até que fique velha
em Argos, no meu paço, além, longe da pátria,
nos trabalhos do tear, ou servindo-me ao leito.
Foge da minha ira, vai-te, põe-te a salvo".

A voz de Hoseok reverberava na sala de aula que se mantinha atenta enquanto ele citava aquele pequeno trecho e uma de suas epopeias favoritas. Com um sorriso aparentemente satisfeito marcado em seus lábios, ele fitava seus alunos com uma expectativa imensa, pois sentira falta de exercer sua profissão de professor e estar novamente em sala de aula o deixava excitado em vários níveis.


— Alguém sabe me dizer de onde é este trecho? - indagou fechando o livro que tinha em mãos.


Um silêncio tímido perdurou por menos de alguns bons segundos, até uma garota de curtos cabelos castanhos e óculos vermelhos levantar sua mão de forma calma e uma expressão um tanto insegura.


— A Ilíada, de Homero? - indagou com a voz fraca temendo o erro.


O sorriso de Hoseok abriu-se na mesma hora ao constatar que a resposta estava correta e a parabenizou com toda a simpatia que carregava em si.


No geral, os alunos gostavam muito do professor Jung, porém constantemente ridicularizavam Hae Won pelo fato de ela ser quase uma sombra diante do tamanho brilho do rapaz. Ele procurava deixar isso de lado e fazer com que a irmã agisse da mesma forma, o que era inútil, pois Jung Hae Won sempre saía chateada destas situações. A irmã não tinha a personalidade fácil, ele sabia bem, mas tentava moldá-la para que a garota não se exaltasse dessa forma.


A aula de literatura correu extremamente bem, o que deixou o Jung satisfeito por seu dever cumprido. Apesar de serem adolescentes com tamanha extravagância e prepotência em certos momentos, nas aulas de Hoseok todos ficavam vidrados e extremamente interessados em cada palavra que saía dos lábios do rapaz, o que fazia com que o mesmo ficasse contente por demais. Eram filhos de pessoas ricas e poderosas, mas em sua cabeça, o aprendizado e a arte de educar ultrapassavam qualquer barreira econômica, ele podia afirmar isso com segurança.


Quando o sinal irritante reverberou pelos corredores indicando que a próxima aula já estava por vir, Hoseok juntou todos seus materiais - inclusive o livro da epopeia - e com tudo nos braços encaminhou-se sem pressa para a sala dos professores, uma vez que seu próximo tempo era livre. Atravessando aquele mar de alunos que faziam a permuta de sala, ele caminhou sorridente ao lembrar-se do dia anterior, quando havia conhecido os novos professores de artes na modalidade música, em especial, o professor Min. Dono de uma faceta enigmática e um tanto simpática, Yoongi deixara uma série de curiosidades rondando na cabeça do rapaz Jung que se colocava a sorrir diante da lembrança daquele sorriso gengival tão poderoso. O flerte, por mais leve que tenha sido, aconteceu e Hoseok sabia disso, mas esperto como era, preferiu não elevar suas expectativas a um patamar alto, afinal, ele poderia ser tão gentil e atencioso com qualquer pessoa.


Assim que Hoseok virou seu corpo para adentrar a sala dos professores, um susto seguido de uma dor lancinante o tomou, sem mesmo que ele percebesse de pronto o que tinha acabado de acontecer. Os materiais foram ao chão, ele soltou um urro agoniado ao sentir a pele queimar e quase que lágrimas saíram de seus olhos.


— Hoseok! - a voz grave do rapaz Min exclamou assustada na mesma hora até que o Jung assimilou o que houve.


Sentindo sua pele por baixo da camiseta social arder, ele olhou para o local e viu uma mancha marrom que foi aos poucos tomando todo o tecido branco. Yoongi tinha uma xícara em mãos e olhos assustados, enquanto que com a expressão dolorosa, Hoseok sentia as dores de uma queimadura proveniente de café quente.

Fora do Tom | YOONSEOKOnde histórias criam vida. Descubra agora