Soneto 18

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Ouço passos pelo corredor perto da porta do meu quarto, já era de manhã e eu teria que ir para escola. Minha mãe bate na porta pedindo para levantar e ir comer algo na cozinha para depois ir a escola. Olho para o teto e depois para porta e vejo a sombra dos pés da minha mãe que ainda estavam lá .


- Okay, já desço. – digo me levantando e indo abrir a porta do quarto. – Bom dia, dormiu bem? – pergunto beijando a testa dela e indo em direção do banheiro que ficava ao lado do meu quarto. Ouço ela dizendo que sim e perguntando se tinha conseguido dormir também. – Sim, mais ou menos. Acordei antes do despertador. – digo pegando minha escova de dente que ficava atrás do espelho em cima da pia, molho ela e coloco a pasta dental. – Hoje vai ter treino do time de futebol depois da aula. Irei chegar tarde. – começo a escovar os dentes olhando para a porta do banheiro onde ela estava me encarando. Tudo bem, boa sorte anjo, ela diz me dando as costas e indo em direção ao seu quarto, vejo ela saindo com a sua bolsa do trabalho e descendo as escadas para ir ao trabalho.

Ouço um até mais tarde vindo do andar de baixo e o barulho da porta batendo em seguida. Cuspo a espuma da pasta na pia e enxáguo minha boca, lavo o rosto e me vejo através do espelho, amarro meu cabelo em um coque mal feito meu cabelo não era tão grande, um chanel castanho escuro rebelde.

Volto para meu quarto e me arrumo. Pego uma calça jeans clara e uma blusa branca que estava jogada no chão do meu quarto e o casaco do time de futebol, pego minha mochila e jogo meu celular dentro e vou para o primeiro andar. Abro a geladeira e vejo o suco de laranja que tinha comprado no dia anterior, pego um copo e me sirvo pego umas das torradas que minhas mãe provavelmente tinha feito antes de ir me acorda. Como duas fatias e término com o suco, deixando o copo na pia e guardando o resto das torradas no microondas.

Olho para o relógio e vejo que já era 7h20, pego a chave do meu carro e vou em direção a porta da frente. Tranco a porta de casa e vou para o carro, meu carro não era nenhuma BMW como do Harry mas dava para o gasto, um golf 2010 vermelho também tinha seu charme, entro nele e coloco minha mochila no banco de passageiro e retiro meu celular de dentro e conecto minha playlist com o som do rádio. Ligo o carro e dou partida indo para a escola. I'm gonna take my horse to the old town road... Cantarolo uma parte da música. Minha casa fica a meia hora da escola de carro então o trajeto não era muito longo. O sinal fecha e paro o carro, olho para a rua e vejo que não tinha muita gente andando ainda, a cidade de West Ham era muito calma um lugar onde todo mundo se conhece. Um lugar onde me sinto sufocado. Faltava só poucos meses para a formatura e logo me veria livre desse lugar. Eu iria renascer. Começar uma vida nova em outro lugar com pessoas novas. Só tinha que aguentar mais um pouco...

O sinal abre e dou partida, ando mais duas quadras e viro a esquerda chegando na escola onde já havia alguns carros estacionando e uma fila de carros se formaram atrás do meu para conseguir ir até a sua vaga. Estaciono meu carro e o desligo, pego minha mochila colocando as chaves do carro e de casa dentro e pego meu celular o colocando no meu bolso traseiro saindo do carro. Vou em direção a entrada oeste  onde ficava perto do meu armário. Ao entrar vejo os meninos do time de futebol ao lado do meu armário me esperando.

- Bom dia. – digo cumprimentando todos com um aperto  de mão e indo abrir meu armário.

- Grizz você tá atrasado mano. – diz Luke dando uns tapinhas nas minhas costas. – A gente ia copiar a sua lição de Química cara, cê lembra? – Luke estica seu braço por cima de mim e pega meu caderno de Química.

- Contanto que você me devolva ele depois do almoço tá tudo certo. – pego meu caderno de literatura e o livro que estávamos lendo aquele bimestre na aula e meu caderno de matemática também. Luke concorda com a cabeça e vai na frente junto com Clark para do laboratório se despedindo. – Bem, tô indo pra sala de literatura e você Jason?

- Tenho aula de artes, o professor Marco quer que façamos algum trabalho idiota de recorte sobre a primeira guerra. – Jason arruma sua mochila nas costa e diz caminhando comigo para o segundo andar.

- Ah que merda cara, mas não é tão difícil assim achar fotos e colar em um papel. – digo bagunçando seu cabelo e entrando na sala de literatura. – Tenta não se corta com a tesoura. – dou risada da cara de raiva de Jason e me despeço dele indo para meu lugar. Costumo me sentar perto da janela na cadeira do meio, onde consigo prestar atenção na aula e vê tudo o que acontece na sala. Comprimento algumas pessoas e me sento retirando o livro que estávamos lendo junto com uma caneta. Abro a página do livro onde tinha parado e começo a ler, Sonetos de William Shakespeare número 18°...

Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno...

Olho em direção a porta e o vejo a professora de literatura entrando na sala sendo acompanhada por ele. Calmo e quieto como sempre ele se senta na mesa em frente a mesa da professora. Maria, a professora, pede para que continuássemos a leitura do livro, ela chama sua atenção e gesticula com as mãos alguns sinais em libra explicando o que ele tinha que fazer. Consigo vê ele sorrindo para nossa professora e pegando algo dentro da mochila, provavelmente o livro.

- Alguém quer continuar a leitura de onde paramos? – a professora Maria pergunta colocando seus óculos se sentando e olhando para a sala. – Alguém? – todos ficam quietos evitando olhar em direção da mesma. – Ninguém? Okay, então acho que terei que escolher. – ela diz pegando a lista de chamada e olhando para os nomes. – Uhm... Senhor Visser, poderia fazer a gentileza de continuar a leitura? – ela pergunta tirando seu óculos e olhando para mim.

De primeira não acreditei até vê-la esperando que me levantasse e lesse um dos sonetos. – Sim, claro. – digo me levantando e indo para a frente da sala.


... Às vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza ...

Olho para a turma que estava quieta, uns olhavam para mim e outros estavam dispersos, olho para a professora e ela pede para continuar.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno: ...

Por cima da beirada do livro vejo uma cabeleira castanho claro acompanhada por um par de olhos azuis claro olhando para mim fixamente, por ser surdo Sam aprendeu a fazer leitura labial. Abaixo o livro e olho para ele resitando o verso final:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver... – por um minuto sinto como se o tempo tivesse parado naquela sala de aula e só restasse nós dois, aqueles olhos azuis que brilhava mais que o sol e me deixava sem ar. Mais uma vez me fazia lembrar do por que era tão difícil para mim fingir ser hetéro.




Notas : Bem, espero que gostem, deve ter alguns erros ortográficos já que escrevo pelo celular então já peço desculpas.

Where I left my love - GrizzamOnde histórias criam vida. Descubra agora