Para o sociólogo Zygmunt Bauman, o nosso mundo globalizado e pós-moderno encaminha-se para uma perspectiva que ele o define como "modernidade líquida", pois acredita que vivemos em um cenário repleto de incerteza, insegurança, instabilidade; e portanto essa "liquidez" seria capaz de impactar em elementos da vida social, como o amor, a amizade, a cultura e o trabalho, entre outros. Na nossa realidade atual é evidente que os relacionamentos sofreram mudanças relevantes, as relações sociais se tornaram mais frágeis, tornando-se mais individualizadas; a tecnologia é um ótimo exemplo que influencia nesse impacto, as pessoas agora interagem via redes sociais que mercantilizam o relacionamento amoroso, a moda antiga cede lugar para aplicativos que resumem pessoas em catálogos, o que resultam em interações pobres e encontros rápidos e descomplicados.
Ainda segundo Bauman, quando a qualidade das relações diminuem drasticamente, a tendência é que o indivíduo tente recompensá-la com quantidades numerosas de parceiros; a insegurança, a incerteza e as más experiências amorosas geram a sensação que o outro será sempre um agressor, que não tem sentido em amar o próximo, pois há a dificuldade de imaginar que o "próximo" vale a pena o nosso amor, uma vez que o amor foi ferido e desilusões foram criadas. Perante toda a nossa realidade contemporânea, seria possível que o "amor verdadeiro" fosse real? Existe alguém no mundo que vale os seus sentimentos e o seu tempo escrevendo textos indiretamente sobre ela?
Não existe uma fórmula mágica para a insegurança e o receio de amar alguém; assim como quase tudo no universo que funciona de forma desordenada e aleatória, o "amor verdadeiro" pode estar em algum tempo ou lugar de forma inesperada, seja em alguma esquina ou atrás de um carro qualquer, seja depois de muito tempo vivido ou seja por nem tanto tempo assim, é preciso estar atento e disponível para acolhê-lo.
Como diria o poeta Carlos Dummond de Andrade em seu poema "Memórias", amar o perdido confunde o coração, e as coisas tangíveis tornam-se insensíveis à palma da mão; porém, as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão.
E eu vim pra ficar.