Os dedos de Jaebeom passeavam pela superfície de cartão, levando consigo todo o pó acumulado na tampa daquela caixinha tão especial para si.
Queria chorar, queria imenso chorar; mas não o faria. Prometeu a si mesmo que não derrubaria mais uma lágrima por conta daquele homem — ou pela falta que ele fazia. Também queria não se importar, mesmo que estivesse, aos poucos, a tornar-se um poço de indiferença e tristeza. Quem sabe, com um pouco de raiva aglomerada também.
Ao abrir a pequena caixa, o cheiro de amor, dedicação e pura, atingiu seu rosto e adentrou suas narinas. Pressionou as cartas do amado contra os seus lábios, deixando um sorriso escapar. Ainda o amava.
Jinyoung tinha imensos defeitos e de alguma forma, Jaebeom aprendeu a amá-los.
Lembrava-se de quando recebia as primeiras cartas. Eram colocadas no seu cacifo no final de cada dia e continham um elogio e uma frase motivadora. No início, custava-lhe imenso não saber quem nutria tal paixão por si, mas pelo passar dos dias, foi captando os sinais tão óbvios que lhe eram fornecidos. O perfume borrifado no papel e a caligrafia cuidada e bonita eram duas grandes setas apontadas para o representante de turma com um olhar tímido e lábios rosados irreconhecíveis.
A primeira vez que trocaram algum tipo de palavra, foi quando o mais novo teve de o repreender. Afinal, era proibido fumar na escola e lá ficar até depois do anoitecer?
Jaebeom achou imensa piada saber que Jinyoung gostava dele e ainda tentava esconder o quanto o desejava.
Teve de assinar uma advertência qualquer, mas não se importou; foi estonteante sentir o seu corpo ser observado de forma tão carnal. Jinyoung nunca foi discreto.
Levantou-se preguiçoso e alcançou o maço de tabaco já pela metade. O seu corpo arrastou-se até a varanda e ao acender o cigarro, quase conseguiu ouvir Park ralhar consigo. Riu nostálgico, dando a primeira tragada.
Olhou para dentro, onde jurava ver sombras do amado no seu quarto.
No início da relação, o que mais faziam era foder onde desse. A paixão sentida um pelo outro ardia como a lareira acesa que tentava aquecer o apartamento gelado. Andavam aos amassos escondidos e os olhares cúmplices que trocavam quase chegaram a entregar a relação dos dois.
Aos poucos, entenderam que o relacionamento teria evoluído, tal como os sentimentos nutridos. Ambos descobriram o amor.
Infelizmente, nem todos apoiavam casais homoafetivos e ao tentarem se assumir, o moreno acabou por ser expulso da própria casa, do próprio conforto. Mas Jaebeom estava lá. Acolheu-o na sua casa e quando os seus pais sofreram um acidente de avião e não resistiram, Jinyoung estava lá também.
Entretanto, o conceito de um amor e uma cabana não é tão bonito assim. Jinyoung obrigou o namorado a continuar os estudos online depois da formatura dos dois, enquanto procurava desesperadamente por emprego. Quando encontrou, o moreno prometeu que voltaria no Domingo e o ruivo acreditou no amado.
Foram sete longos dias sem o namorado. De início, estes passaram rapidamente e Jaebeom conseguiu ter uma rotina impecável e equilibrada. Desde pequeno que era e sempre seria uma pessoa independente, até gostou do tempo sozinho que teve.
Passaram-se semanas e os dois tinham pouco tempo juntos. Sempre que Jinyoung chegava, sentia que tinha de cumprimentar o outro com um adeus.
Até que Park nunca mais voltou.
Muitas vezes ouviu dos seus antigos colegas de turma que o moreno havia se perdido — ou encontrado — nas drogas e no jogo, e nunca mais ninguém o viu.
Nos primeiros dias, doeu. Doeu imenso e Jaebeom desabava emocionalmente a cada cinco minutos e essa dor caminhou consigo por dez longos anos, até aos dias de hoje.
Im revirou os olhos ao acabar o cigarro. Sabia que tinha de parar com aquele vício fatal, porém, não conseguia acreditar em si mesmo. Presenciado pelo silêncio da madrugada fria, pegou a guitarra conhecida pelos seus fãs e olhou-a com carinho. Todo o sofrimento e angústia que carregava dentro do peito fizeram o seu sonho ser concretizado e por mais que esperasse sempre o namorado a apoiá-lo, tinha de ser franco e admitir que se Park não o tivesse deixado, provavelmente Jaebeom nunca seria conhecido pelo seu talento, habilidades com a sua guitarra elétrica ou por suas composições e escritas tão encantadoras.
A verdade, era e sempre será que: Jaebeom odiava Jinyoung.
Não sabia como é que eles tinham pensado em ter uma vida perfeita, se o moreno era igual aos outros; fê-lo sofrer e nunca se importou em voltar ou telefonar para ele. O ruivo iria viver melhor com um término, mas ser abandonado já era demais.
Jinyoung nunca poderia odiá-lo o suficiente para o amar, Jinyoung nunca o amou.
E Im Jaebeom gritou. Gritou, tentando libertar o peito tão apertado. A caixa foi parar ao chão, espalhando as cartas e lembranças do seu amado, como fotos e presentes oferecidos pelo mesmo.
Pegou papel e caneta. Era a vez dele de escrever uma carta.
“Park Jinyoung,
Eu sinto a tua falta.
Sabes bem que o meu maior conforto era o teu calor e as tuas palavras sinceras contra a minha pele. A tua companhia sempre foi o meu porto seguro, o teu toque sempre foi o meu apoio e tu sempre foste a minha esperança. Como seria eu capaz de viver sem ti? Sem saber se estás vivo sequer, sem saber se estás feliz, mesmo sabendo que sem mim estarás de certo.
No fim, sei que conseguiste o que querias. Desde o início que deixaste claro que não eras do tipo normal, tal como eu. Oh, como eu adorei saber disso. Em seguida, entraste na minha vida de rompante, bagunçaste o meu interior e deixaste-me sem alguma explicação.
Não digo que a culpa não tinha sido completamente tua, não sou santo e tenho noção disso. Mas machucou de forma cortante e presumo que o meu coração ainda sangre depois disto tudo. E dói como o inferno, amor. O inferno que fizemos à vida das pessoas à nossa volta, reflete-se na tua falta e no que ela significa para mim.
Amei-te tão intensamente, senti-me amado de forma inacreditável, Nyoung. A nossa história começou tão bela e terminou com o meu rosto encharcado de culpa. Tenho saudades, imensas, na verdade.
E se dissesse que não esperava que as coisas acabassem assim, estaria mentindo. Mas de qualquer forma, gosto de acreditar que ficarás melhor sem mim e que vou conseguir viver com isso.
Estou contente que me ajudaste em vários aspectos, por ter tido momentos tão felizes e inesquecíveis junto a ti. Mas, agora, não irei insistir mais em nós; sinto que já o fiz por muito tempo e por duas pessoas.
Eu amo-te, não te esqueças disso.
Com toda a sinceridade,
o infinitamente teu, Im Jaebeom.
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Without You
Fanfictionpark jinyoung + im jaebeom Jaebeom estava longe de ser o que todos pensavam que ele era. Enquanto os fios vermelhos lhe cobriam o rosto, juntamente de suas lágrimas, perguntava-se se alguma vez iria ser capaz de ser frio e indiferente. Depois de ser...