Cacos da Alma

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O luto é uma das piores dores que uma pessoa pode sentir, e essa dor piora quando não há uma morte física. Você está de luto, você perdeu alguém. Mas esse alguém não morreu, esse alguém se perdeu numa escuridão que aumentava dia após dia discretamente sem querer ninguém notasse a imensidão que se formava. Esse alguém já não é o mesmo, não está completo. E a partir de agora talvez nunca esteja. Na verdade acho que em momento algum esteve completo de verdade. O mais difícil é saber que esse alguém sou eu!

Eu me encontro no fundo do poço, sem saber pra onde ir, tendo tantas coisas pra dizer e ninguém pra ouvir. Tantos lugares conhecidos e nenhum familiar. Perdida no meu próprio lar. Cinquenta e quatro contatos na agenda e ninguém vai atender. O relógio marca 01:22 am. O vento que atravessa a janela quebrada por uma pedra anos atrás é quase congelante. Minha mãe entra no meu quarto querendo apenas me consolar, mas estou tão desolada que afasto qualquer um de perto de mim. Ouço seu choro através da parede me quebrando ainda mais por dentro.

Como sou estupida, eu não sou a única sofrendo.

No fim, quem você quer mais longe é quem sempre esteve por perto. O lugar mais familiar se tornou o menos desejado de estar. Meus erros se viraram contra mim, mas não foi apenas justiça, foi um massacre. Não foi olho por olho, foi uma vida por um olho. Todos os sonhos, objetivos e metas se tornam insignificante quando se perde tudo o que tem. A perda material não significou nada de fato para mim. Mas a perda da última gota de confiança se esvaiu do meu ser. A esperança? Acredito que tenha ido por completo. Tanto esforço para manter alguns cacos unidos e expor uma família, que no fundo sempre esteve quebrada, para no fim todos os cacos voltarem ao chão. Eu já tinha recebido os sinais, mas fui tola para não ver.

Um espelho, o reflexo de uma imagem forjada em mentiras, trapaças e fingimentos. Sempre bem disfarçada por auto confiança, um sorriso frouxo e cachos quase sempre perfeitos. Um dia a mascara cairia.

Um prato, o alimento diário. Nos alimentamos do que vivemos, o mal, o bem sempre fazem parte do cardápio basta saber que prato escolher. O bem de entrada e mal de prato principal. Porém o mal é o prato mais caro do cardápio e uma hora a conta chega.

Um copo, saciar a sede é imprescindível necessário para viver, assim como saciar desejos da alma. Ambição e luxúria, separados talvez inofensivos, mas juntos podem ser o pior veneno. Um vício. E quando não saciamos a dependência, a abstinência chega.

Uma mesa, todas as cartas serão postas bem a sua frente, as evidencias são claras. Basta saber em que acreditar.

E por fim o cofre, o estopim de todos os sinais. O começo e o fim. O desejo e a perdição. O fim de uma família, o fim de uma era!

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⏰ Last updated: Jun 04, 2019 ⏰

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