CAPÍTULO 15

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Nos dias que se seguiram ao nosso rompimento, Gonzalo empregou todo e qualquer método concebível para entrar em contato comigo: Telefonou, mandou mensagens de texto, enviou e-mails, até remeteu uma carta pelo correio. À exceção de um pombo-correio, ele fez uso de praticamente todos os meios de comunicação existentes. Tudo foi inútil: eu rasguei em pedaços qualquer coisa que não pudesse ser eliminada pelo botão Delete. Inevitavelmente, portanto, restou-lhe a opção de aparecer na livraria. Ele estava usando o terno de trabalho e a gravata que eu lhe dera no Natal. A troca de presentes não fora inteiramente justa no ano anterior: eu comprara para ele um suéter de caxemira e uma gravata, e ele me dera um diamante solitário que lhe custara três meses de salário. Ainda me sentia um pouco culpada em relação àquilo. Será que eu deveria sugerir a ele que jogasse o suéter no despenhadeiro, de modo que as coisas ficassem um pouco mais equilibradas?

– Olá, Bárbara! – disse ele com cautela, parado perto da entrada da loja.

Eu o olhei com indiferença.

– Gonzalo.

Isso foi tudo o que ele recebeu de mim.

Nem mesmo um "olá", nem um cumprimento, somente seu nome.

No entanto, ele deve ter pensado que isso era encorajamento suficiente, pois deu um passo na direção do balcão.

– O que você está fazendo aqui?

Ele tentou o sorriso, aquele que eu sempre dissera que era irresistível. Mas ao que parecia, eu havia finalmente adquirido alguma imunidade. Gonzalo viu a expressão impassível no meu rosto e a entendeu bem. Então pigarreou, e a maneira como o fez revelou que ele estava muito nervoso.

– Vim comprar um livro.

Não valia a pena morder a isca. A loja não era minha, portanto eu não podia afastá-lo à força, nem gritar que ele fosse embora. Ergui uma das mãos e apontei as pilhas de livros à nossa volta.

– Fique à vontade.

Minha atitude o deixou claramente perplexo. Ele devia ter se preparado para encontrar uma Bárbara Furiosa, Bárbara Vingativa ou mesmo Bárbara Perturbada. Mas a Bárbara Não-Estou-Nem-Aí era óbvio que não se encaixava em seus planos. Ele manteve o pretexto de que realmente estava em busca de um livro: puxou um volume de uma das prateleiras e o abriu em uma página aleatória. Ele o olhou sem ver por um minuto ou dois, e então interrompeu o silêncio da livraria.

– Você não atendeu às minhas ligações.

Parei de fingir que estava verificando a nota fiscal de umas entregas e pousei a caneta no balcão.

– Não, não atendi. E não vou atender. Não tenho mais nada pra falar com você. Já disse tudo no outro dia.

– Bem, ainda há coisas que eu quero dizer. Preciso explicar.

– Eu não quero ouvir. Nós terminamos. Acabou.

Fez-se um ruído atrás de mim, e eu soube que Monique tinha acabado de entrar na loja. Não duvidei nem por um minuto que ela tivesse ouvido toda a conversa e esperara pelo momento certo de fazer sua entrada.

– Bounjour , Gonzalo, comment ça va? – cumprimentou-o com frieza, apertando furtivamente a minha mão sob o balcão ao passar por mim.

Gonzalo ergueu os olhos, confuso. Não a conhecia bem o bastante para saber que ela só passava para sua língua materna quando estava muito feliz ou extremamente furiosa. E era certo que ela não estava sorrindo.

– Bom... hã... olá – respondeu ele, tão atrapalhado quanto ela sabia que ele ficaria.

– Posso ajudá-lo com sua compra? – perguntou ela, estendendo-lhe a mão com muitos anéis, a fim de pegar o volume. – É um livro fascinante, non?

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