Parte 1- Os Guardiões

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Capítulo 1

Ano 61 3° andar da Colmeia, Bloco 14, Quarto 15, Três meses antes.

Carlos

– Eu jogo xadrez desde os cinco anos – digo – você não pode ganhar.

Eu sei que a provocação só à deixa mais irritada. Ela não consegue mais se concentrar como fazia antigamente. Joanna é a minha irmã mais nova. Olho ao redor e vejo a simplicidade do nosso quarto. Duas camas em paredes opostas, uma mesinha central, com um tabuleiro de xadrez em cima, um computador um pouco velho em um canto, e ao lado do armário um espelho de cerca de um metro e meio por um metro, e uma cômoda, com algumas das fotos de nossa mãe. Eu pego a foto pela moldura, e analiso como Anna – que é como eu a chamo, e sei que alguns de seus amigos a chamam assim também – está ficando parecida com ela. O cabelo liso, entre ruivo e castanho, era muito mais bonito do que se pode imaginar com esta descrição. Os olhos azuis destoavam um pouco da pele branca, e as sardas que em uma época não muito distante cobriam seu rosto, como as estrelas cobriam o céu antigamente, estão desaparecendo, pouco-a-pouco. Eu sei que ela se acha horrível, ao contrário das adolescentes de dezoito anos comuns, mas ela não é. O único problema é que ela não costuma sair muito.

– Isso não vale! – Ela diz, tirando minha atenção da fotografia da minha mãe – você está roubando de novo!

– Roubando no xadrez? – Pergunto ironicamente, e ela, sem resposta para isso, bate com a mão na lateral da mesinha, derrubando tudo no chão. Ela se arrepende na hora, e diz:

– Desculpe – e se agacha, para ajuntar as peças que se espalharam por todos os lados. Olhando para ela desse jeito, parece que ela tem apenas nove anos novamente, e eu apenas onze. Aquela parte da nossa infância. É disso que eu mais sinto saudade. Eu me abaixo para ajudá-la a ajuntar as peças, e pego a peça mais próxima de mim. Vejo que o rei de marfim teve a coroa quebrada. Eu paro e olho para a peça, pensando em como foi difícil consegui-la. Eu olho para frente, e percebo que ela me encara, com um olhar de culpa – Talvez dê para colar, se acharmos a outra parte...

– Não se preocupe – Digo. Eu sei que amanhã será um dia muito tenso para ela. É o dia em que ela vai realizar o teste para ver se vai virar uma guardiã, ou qual será sua função na colmeia para o resto da vida. E eu sei que ela quer muito seguir o meu caminho, virando uma guardiã, mas eu não quero isso para ela. Ela não sabe como é lá fora. Cada segundo é imprevisível, podendo significar morte ou glória. Mas sei que é exatamente isso que a atrai. – Eu posso encontrar outra lá fora. Ou então trocar alguma coisa por uma nova no ponto de troca do Many.

– Meu Deus! – Exclama ela. Eu sei que essa expressão é vazia, pois pouquíssimas pessoas ainda acreditam em Deus, mas é uma expressão difícil de largar. Para os poucos que ainda acreditam todos nós estamos pagando pelos nossos pecados, em algum tipo de purgatório, mas eles estão todos loucos. Ou estão certos, e nós é que estamos loucos. – Com o Many não! Você sabe que ele sempre cobra demais.

– É – respondo – mas ele sempre tem o que precisamos. E além do mais ele é amigo da família.

– Tente mencionar isso para ele e ver se isso lhe dá algum desconto. – Ela me diz, com um olhar sério, e depois ri, então dizemos juntos:

– Negócio é negócio. Não devemos misturar amizade e família com os negócios. – Rimos com a imitação, mas paramos na hora. Ambos nos lembramos de nosso pai. Ele costumava nos repreender por imitar o tio Many. Não que ele fosse nosso tio realmente, mas ele era muito achegado a nós. Assim como nosso pai. Era difícil pensar nele. Fazia somente um mês que ele tinha saído em busca de tecnologia alienígena que pudesse se tornar útil para nós na guerra, assim como em tantas outras vezes, mas naquela, ele não tinha voltado. Eu estou cuidando de Anna desde então, mas eu não sei até quando.

Vingadora da Galáxia - A guerra dos DronesOnde histórias criam vida. Descubra agora