Capítulo 4

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Ano 61, Colmeia, Sala de simulação Três.

Joanna

Tudo fica escuro. Eu espero reaparecer no começo da ponte, já sem esperanças de conseguir alguma coisa. Mas não. Assim que a escuridão passa, eu me sento sobressaltada, com a respiração ofegante. A primeira impressão é de que estou sentada em uma cadeira de dentista. Então percebo que estou com uma espécie de capacete, com uma viseira com diversos números e letras passando. Retiro o capacete, e levanto da cadeira. Olho em volta, e vejo que os outros também estão levantando. Karen, na cadeira mais próxima de mim está com um sorriso enorme no rosto. Ela vem em minha direção com os braços abertos, prontos para receber um abraço.

– Vocês conseguiram! – ela diz, me abraçando com força.

– Na verdade foi ela sozinha – diz John do meu outro lado.

– Não. – digo, ainda lembrando-me dos últimos momentos. Eu não havia conseguido atravessar a ponte. – Eu não consegui. O predador me pegou. – corro os olhos pela sala, e encontro exatamente o que eu estava procurando. No painel de controle, está Kim, irmã de Karen dobrada sobre si mesma. Foi ela quem desligou a simulação. Tenho certeza. Eu ando em direção a ela, dizendo – Você nos tirou de uma bela encrenca...

Ela levanta a cabeça, e imediatamente sei que há algo de errado. Lágrimas deixam vincos negros, onde borrou a maquiagem, ao redor dos olhos. Vejo claramente a dor em seus olhos, e minha pele se arrepia. Não sei o que aconteceu, mas foi algo terrível.

– Anna – ela diz, com a voz quase ficando presa na garganta chorosa. – Eles voltaram. Nenhum sinal dele. Ele não voltou com eles.

– Calma Kim. – digo, ajudando-a a ficar ereta novamente – Quem voltou? E quem não voltou com eles?

– O seu irmão – ela responde e cai no choro.

Isso é a última coisa que eu ouço. Eu me viro em direção à saída, e alguém tenta segurar o meu ombro, mas eu me livro com um solavanco. Eu não quero ouvir ninguém. Eu só quero correr. E é isso que eu faço. Corro até sair da sala, então continuo correndo. Não sei para onde estou indo, só sei que quero correr. Meu cérebro me guia, sem poder entender o que está acontecendo. Depois que canso de correr, continuo correndo. Talvez o cansaço faça a dor parar, embora eu saiba que não vai. Quando percebo, estou em um corredor cheio de gente, ainda correndo. Então caio de joelhos, e sinto algo quente correndo por minhas bochechas. Estou chorando, mas não sei por que. Sinto uma mão tocando o meu ombro, e olho para ver quem é. John se agacha, e me abraça. Eu aproveito o ombro amigo, e desabo, molhando sua camisa preta com minhas lágrimas. Ele não diz nada, e nós só ficamos assim, abraçados. As pessoas ao redor que se agruparam para olhar o que aconteceu, começam a se dispersar. Eu me pego cochichando no ouvido dele.

– Ele morreu, ele morreu – Não há o menor sentido nisso. É como se eu precisasse dizer isso para aceitar. Como se as palavras tornassem tudo menos doloroso.

– Nós não sabemos. – ele me consola – Ninguém sabe se ele morreu ou não. Ele só não voltou. Ele ainda vai voltar. – as palavras não me confortam. Elas fazem doer muito mais, com a dúvida que trazem.

Eu levanto, e começo a andar. John vem ao meu lado, sem fazer perguntas. Agora sei para onde estou indo. Estou indo para a sala do portal. Estou indo aguardar para ver se ele ainda virá.

***

Olho pelo vidro, hipnotizada com os números decrescentes. Para muitas pessoas eles podem não dizer nada, mas para mim eles dizem tudo. Quando todos se igualarem a zero, eu estarei sozinha, largada ao destino, sem ninguém ao meu lado. Desde pequena eu imaginei passar pelo teste para guardiã, e lá estariam meu pai, minha mãe e meu irmão para comemorar comigo. Mas isso nunca mais aconteceria. Faltavam trinta segundos para o portal se fechar, e nem sinal do meu irmão. Eu me afasto lentamente, com medo de ter de encarrar os números todos iguais. Acabo esbarrando em alguém, e murmuro um pedido de desculpas, sem realmente ouvir o que digo. Viro-me e percebo que é John. Ele não fala nada, somente me abraça forte. As lágrimas começam a cair, e eu não as tento segurar. Murmuro incessantemente, sem saber bem o que.

Vingadora da Galáxia - A guerra dos DronesOnde histórias criam vida. Descubra agora