✰ Ú N I C O ✰

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minho chegou em casa por volta das 18h, o horário usual. ao adentrar seu quarto deparou-se com uma carta de jisung sobre sua escrivaninha, o mais novo havia lhe informado sobre a chegada da mesma, portanto, não era uma surpresa. os dois trocavam cartas há um longo tempo; jisung não era muito bom em se expressar com a fala, então, escrevia. tal hábito começou quando minho disse que não suportava ver o han triste sem poder ajudá-lo. minho respondia as cartas regularmente, mas seu costume de falar pelos cotovelos o deixava sem nada para escrever algumas vezes.

o lee largou sua mochila ao lado do guarda-roupa e dirigiu-se a carta analisando o envelope, em seguida, abrindo-o. sentiu o leve cheiro da tinta da caneta ser exalado, entretanto, este foi ofuscado pelo cheiro do próprio remetente. minho perguntava-se se jisung passava perfume em suas cartas, parecia ser a única resposta para a pergunta.
deu-se o direito de aproveitar o cheirinho característico e começou a ler:

"caro minho,
ao fim desta carta suplico pelo teu encontro, no telhado. neste momento já estou lhe esperando, mas não precisa se apressar ainda, não vou fugir."

claro que seria no telhado, sempre se encontravam lá, eles se conheceram lá. localiza-se no prédio da empresa do pai de jisung. seus caminhos se cruzaram no dia em que minho estava fazendo um tour pelo lugar, havia conseguido um estágio na companhia e estavam lhe introduzindo o prédio - ele teria de andar para lá e para cá o tempo inteiro -, o funcionário que o conduzia não o levou ao telhado, apenas o mencionou uma vez que outra, mas ao final do tour ele subiu até local apenas para matar a curiosidade. chegando lá, deparou-se com jisung que tinha seu nariz vermelho e bochechas inundadas por lágrimas, minho num piscar de olhos estava ajoelhado ao lado de jisung questionando o motivo do choro a fim de confortá-lo após a resposta.

- o que? - fungou. - desculpa, não é nada... - ele esfregou a manga do moletom nos olhos.

- se fosse nada você não estaria chorando sozinho em um telhado.

- bem, não estou mais sozinho.

- eu me chamo minho. - ele sorriu pendendo a cabeça para a direita levemente.

- huh? - jisung fitou-o pela primeira vez desde a sua chegada.

- agora você sabe meu nome, portanto, não sou mais um estranho, portanto, posso te ajudar. - disse. - o que houve?

- você sequer sabe o meu nome... - retrucou, na defensiva.

- não preciso saber seu nome para perceber que seu olhar anseia por socorro. - terminou a fala, nenhuma resposta. - então, qual é o seu nome? - prosseguiu.

- jisung. han jisung.

- é um prazer conhecê-lo, han jisung, agora diga-me: o que faz tantas lágrimas escaparem desses belos olhos?

jisung cedeu uma resposta por conta do cansaço, e quem diria, tornaram-se melhores amigos, e depois mais que isso.

"encontrar as palavras para escrever uma carta nunca foi tão difícil. hoje meu mundo vai ficar azul, é iminente, inevitável. mesmo guardando todas suas falas pretensiosas em minha mente como 'o amor é infinito' ou 'você é tudo que importa', não é o suficiente. preciso ir, finalmente encontrei minha saída."

o coração de minho começou a acelerar, errando várias batidas.

"ligue para minha mãe, para changbin diga que eu os amo, irei sentir falta deles. sinto-me culpado, mas esse sentimento me corrói a muito tempo e por isso não pedirei desculpas. sinto-me disperso, como se meu único propósito fosse ser um peso na sua vida, na vida de meu pai. sei que precisa de mim - tanto quanto eu sempre precisei de você - então, venha me ver, mas, apresse-se, estou indo logo. este é o resultado de anos com dor de cabeça. não há outra saída."

ao terminar de ler a carta as lágrimas de minho se juntavam com as de jisung que já haviam manchado a folha borrando inúmeras palavras. aquilo era tudo que minho mais temia, ele só queria poder acordar desse pesadelo. quem o dera se fosse apenas um pesadelo.

ele residia a sete quadras de distância do prédio em que jisung localizava-se, então ele saiu correndo de casa. no trajeto ele esbarrou em várias pessoas e irritou muitos motoristas. enquanto corria parecia estar preso em um temporal, de tanto chuva. ao chegar no edifício lutava internamente contra as lágrimas teimosas que se recusavam a cessar, repetia a si mesmo que tudo estaria bem.

quando reparou-se com uma fila de pessoas aguardando pelo elevador tomou a irremediável decisão de subir as escadas, naquele ponto ele não compreendia de onde tinha fôlego ou energia para continuar, mas, se tratava de jisung, a tendência era apenas acelerar.

abriu a porta que lhe dava acesso ao telhado. estava ofegante quase sufocado pela falta de ar. ouviu o barulho do choro de jisung. ele estava sentado sobre o parapeito, abraçava os joelhos. minho começou a andar em sua direção.

- minho... não chegue mais perto.

- você está errado! há outra saída! eu sou sua saída!

- você estaria condenado, se fosse.

- não! você-

- não há outra saída, além de cair. - ele fungou, e se posicionou de costas para minho, ainda olhando para o mesmo. - minho eu te amo, pra sempre.

minho correu em direção ao parapeito, debruçando-se sobre o mesmo. soltou o grito mais alto de sua vida. levou apenas um instante para ele descobrir que nunca mais acordaria desse pesadelo, o temporal fez-se eterno, o mundo desacelerou.

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listen before i goꓼ 𝗆𝗂𝗇.𝗌𝗎𝗇𝗀Onde histórias criam vida. Descubra agora