Capítulo Único - Paradoxo

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Perguntaram o que é escrever. Estalo

Perguntaram o que é arte. Estalo

Questionaram tanto, que percebi como sou louco. Ninguém acredita quando digo que sou. Estalo. Minha mente é uma engrenagem. Não sou uma máquina. Todos pensam que ser louco é legal.

Doentes mentais

A loucura não é brincadeira. A ordem também não. Falta palavras que a linguagem não tem. Se tivesse tudo se torna ordem.

Gosto do preto e do branco. Do sim e do não. Do código binário de um computador. Seria mais fácil ser um robô. Não sou um. O que sou?

Eu sinto, mas sei que louco não sente. Eu sinto o que minha mente permite sentir. Penso demais. Estou pensando na razão de estar pensando.

O prazer. O que é prazer? Carnal. Gastronômico. Consensual. O prazer é o proibido. Clima. Tensão. Imaginação. Escrevo sobre esse prazer, mas nunca o tive.

A linguagem me permite mentir. Fraudulento. Minto sobre uma experiência, para que eu tenha o meu prazer. Estou mentindo. Não sei quem sou.

Estou ruindo?

Estou desconfigurando?

E se eu parasse de me mexer e pensar?

Não consigo. Minha mente não para. Gosto da rotina. Me sinto entediado com ela. Quero caos. E então não me importo com nada. Penso. Penso.

Louco.

Minha mente é uma bagunça. Sou alguém que vai ficar famoso? Nietzsche, Deleuze e Maria Lopez Cansado. Eles eram como eu? Como sou?

Por que quero encontrar alguém como eu?

ORDEM

Ciclo

Vício.

O passado se repete. Anarquismo. Democracia. ORDEM. Por que tento lutar contra ela?

Seria mais fácil me encaixar na ordem. Não quero ser doente mental e lutar contra ela. Sim e não. Antítese. Figura de linguagem. Tudo binário.

Não quero binário. Causar. Quebra. Tabu. Não quero ser mais um. Sei que sou mais um não querendo ser mais um.

Preciso escrever e me expressar. Desejo. Vontade. Não é voluntário. Estou começando a ser louco, mas não sou. Sigo a ordem. Não luto contra ela. É a minha ordem.

Caminho com uma aparência inexpressiva. Meu interior grita. Me arranho. Descabelo. Sufoco. Como faço para tudo parar de se agitar? Morte.

Morrer.

Preciso morrer para ter o silêncio. Eu não gosto do silêncio. Eu o quero momentaneamente. A ordem da desordem.

Então o vi.

A ordem.

A desordem.

Figura de linguagem nenhuma conseguirá o descrever. Não tenho nenhuma linguagem. E x p r e s s o o que sinto pelo corpo. Meu corpo expressa o que sinto.

De olhos fechados. Alheio ao mundo.

O som do vento.

No meio do pátio. A d e s o r d e m. A ordem. A arte.

Jongin.

Uma palavra dá conta da sua pré-existência.

Nenhuma palavra dá conta da sua essência.

Essência.

Choro.

Sem se importar com um mundo. Uma melodia única. Intenso. E n c o n t r e i u m l o u c o.

Alguém como eu.

Não estou só, mesmo querendo estar. Ele não está só, mesmo alheio a minha presença.

Fecho os olhos.

Sinto.

Sinto o além. Me desconecto de tudo. Sinto algo ser puxado de mim.

Caio.

Abro os olhos.

T r o m b a m o s.

P A R A.

Para-doxo.

Paradoxal.

Estou debaixo de si. Ofegamos e mesmo não querendo nos mover, respiramos.

Preto.

Branco.

Amarelo.

Pardo.

Loiro.

Moreno.

Antítese.

Ante-tese.

Não farei uma tese. Minha experiência com a loucura deu fim. A dele acabou.

Trombamos.

Eu sabia.

Ele sabia.

Nos desconfiguraríamos juntos.

Sem drogas.

Sem ordem.

Somente amor.

Porque sabemos que vamos ruir. Queremos ruir juntos. Somos principiantes de louco.

Paradoxos

Somos paradoxos.

Não temos forma. Nós encontramos a potência.

Que potência?

P A R A D O X O

F r a c a s s o.

Corpo dá a linguagem.

Não falamos.

Não sentimos.

O corpo dá conta. Dará conta até ruir.

Olhando seus olhos negros acima dos meus. Sorrimos. E l e . E u.

L o u c o s.

P a r a d o x o s.

Sabemos que vamos ruir.

Juntos ou não, vamos nos deformar. 

RuirWhere stories live. Discover now