O Primeiro Recital

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Primeira Parte

O Ventre Proibido de uma Oiran

"Muito aprendeu quem bem conheceu o sofrimento" (Anatole France)

Um bordel era considerado o grande teatro, em que homens e mulheres fingiam ser amantes e prometiam não ultrapassar os limites de suas máscaras. Desde pequenas ensinadas a atuar naquela terra sem leis seduzindo seus clientes, ouvindo suas conversas, sabendo de suas tais "revoluções".

A máscara teatróloga jamais poderia ser retirada, estado sujeita a pena de morte, no entanto, havia inúmeras moças que acreditavam no sonho do amor e da liberdade que no fim eram sucumbidas no mar de mentira e traição. Num caso mais específico, o relacionamento apaixonado e indevido entre uma oiran e um rounin fez brotar uma criança no feto da mulher. Segundo as leis do local a morte cairia sobre a mulher e o filho que ela carregava em seu ventre, porém uma ultima piedade lhe foi concedida.

As notícias voaram pelo caminho que aquele rounin teria sido alvo de um algoz na prisão, onde foi detido por esta na lista dos participantes da primeira parte da guerra contra os estrangeiros. A fúria do Shogun Sada Sada foi cruel para a população, e a pobre oiran caiu em tristeza pelo acontecimento. A depressão de nunca mais ver o seu amado a fez perder a fome inúmeras vezes, sendo os momentos finais da trajetória os mais tensos.

A mulher sentia as dores do parto mais forte que o normal, a criança movia-se em seu ventre tentando se libertar incessantemente. Ela, enfim, o concedeu, no entanto, o lastro de sangue perdido no processo caseiro fez com que aquela mulher encerrasse sua caminhada pela vida e tomasse a mão da senhora morte. Uma criança de belos olhos tornou-se órfã em seu primeiro suspiro no mundo, o céu o amaldiçoaram aos quatro cantos. O céu sabe o que faz.

Naquela noite choveu muito no quartel do prazer de Shimambara, perdia-se uma oiran que ainda acreditou no amor.

Segunda Parte

O Garoto Amaldiçoado pelo Céu

As mulheres do bordel cuidaram daquela criança de modo que ele entendesse a responsabilidade de pagar a dívida de seus honrados pais, para isso, com muito rigor ele era o servente daquela casa desdobrando-se em inúmeras e cansativas tarefas. Caso o mando não fosse efeituado ou imperfeito, o rapaz era punido severamente pela okasan.

Dentre suas tarefas principais eram manter a manutenção e limpeza da casa, além de levar as aprendizas às aulas de shamisen. Nesse percurso, acabou por fazer amizade com a professora que passou a lhe ensinar nas horas vagas também como tocar o instrumento de banjo e oferecendo-lhe comida por ser consciente de sua situação de punição e vigia.

O talento fez-se um broto. A criança que era agora um rapaz passou a torna-se especialista no instrumento, e, com isso, ganhar trocados por sua arte poética e diminuir sua dívida pela metade. Embora um talento em potencial fosse um gatilho de inveja por parte das jovens cortesãs, que realizavam traquinagens em nome dele para que o mesmo fosse prejudicado.

Lembrava-se do sorriso gentil de uma velha servente da casa, ela lhe dizia que levaria para o túmulo o fracasso de sua fuga com seu amante trabalhando arduamente para ajudar a vestir as garotas novas e veteranas para que um dia suas belezas as façam alcançar a liberdade no amor. Ela claramente respondia em seu nome quando as sabotagens eram descobertas, sempre acumulando mais dívidas afirmando que mesmo que a cumprisse por total não gozaria desse alvedrio por muito tempo. A partir disso o jovem aprendeu sobre as decisões cruciais da vida, e como você deve ter coragem para sustenta-las.

— Pequeno Bansai, sempre recorde da decisão de seus honrados pais. Mesmo nas piores adversidades eles não desistiram de seu sonho, não desistiram que você tivesse a oportunidade de chegar ao mundo— , à senhora afagou seu cabelo estranhamente verde escuro, que o relaxava nas tardes quentes que se misturavam ao cheiro de incenso — Nunca aceite que lhe chamem de amaldiçoado, você é uma criança feliz que viverá bastante para transmitir sua arte para o mundo.

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⏰ Last updated: Jun 10, 2019 ⏰

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