Capítulo Único

7 2 0
                                    

Eu iria para o aeroporto no próximo final de semana. Naquele dia eu estava indo tomar café, estava muito calor, era verão. Cheguei na cafeteria cedo, pedi meu café e sentei em uma mesa qualquer para tomá-lo.

Quando eu estava sentado, entrou um homem. Eu ainda não sabia, mas ele iria mudar minha vida em breve. Ele era atraente, traços gregos, cabelo castanho escuro, olhos claros. Usava uma camisa xadrez de manga longa e uma calça jeans velha e rasgada. Ele parecia estar com pressa, pois pegou o café e saiu correndo da cafeteria. Eu o consideraria interessante, mas até então ele era só mais uma pessoa na multidão.

Voltando para o meu quarto no hotel, eu abri um pacote de Doritos e uma lata de Coca-cola. Era um quarto pequeno, mas aconchegante. Tinha apenas um cômodo. Nós usávamos aqueles banheiros comunitários para tomar banho. Nesse cômodo havia uma cama, uma pequena televisão presa na parede branca em frente da cama. Eu não queria assistir televisão, eu não falava inglês muito bem, geralmente não entendia os programas que passavam. Peguei então um livro qualquer para ler.

Naquela noite eu tive um sonho com o homem que eu vi mais cedo na cafeteria. Nós estávamos numa cama, nós nos beijávamos e transávamos. Foi um sonho muito bom, mas acordei assustado. Eu nunca havia sentido atração por homens, tudo aquilo era bizarro para mim. Olhei no relógio e percebi que já era tarde. Fui tomar banho.

Chegando na cafeteria novamente, eu comprei meu café e alguns Donuts. Quando fui procurar uma mesa, ouvi alguém acenando para mim e dizendo “Hei, sente-se aqui!!”. Me assustei a princípio, porque a voz não me pareceu muito gentil. Ao fixar meus olhos na pessoa, era o mesmo homem do dia anterior. Fui se sentar com ele, talvez fosse um fã de meu trabalho como músico…

Quando me sentei, eu disse “Olá, quem é você?”, ele demorou um tempo me admirando secretamente antes de decifrar a pergunta, o que me fez pensar que ele não entendia inglês muito bem, mas depois desse tempo ele respondeu “Oi, meu nome é Horatio, e você quem é?”. Naquele momento percebi que ele era um turista, pois falava um inglês tão podre quanto eu… Ao mesmo tempo percebi que ele não era um fã, afinal não sabia quem eu era. Ele continuava me observando nesse tempo em que eu tentava analisar a situação em que eu havia me metido. Olhei para a cara dele uma última vez antes de dizer “Meu nome é Rasmus… sou um músico sueco…”, nesse momento senti o entusiasmo nos olhos daquele turista bonito e atraente, eu não precisava ter falado que era músico, não mesmo, falei mais por impulso do que por vontade própria. Ele continuou me admirando secretamente em silêncio enquanto terminava de tomar seu café e comer um pão de queijo, ele parecia envergonhado.

Comecei a admirá-lo também, ele era muito bonito. Nunca tinha sentido atração por homens, entretanto se tinha um homem com quem eu transaria, realmente seria ele. Não por causa do sonho, mas ele era bonito, tinha a barba por fazer, um corpo comum, não muito forte, mas não muito magro e seus 25 anos de idade… Usava uma camiseta nesse dia, ao contrário da camisa xadrez de manga longa do dia anterior…

Já era bem tarde, comparado ao dia anterior e foi realmente uma coincidência nos encontrarmos na cafeteria, vazia naquele horário.

Resolvi quebrar o silêncio e perguntei o que ele fazia da vida. Ele começou a me falar sobre coisas aleatórias, como o amor da vida dele, o serviço dele e me disse que estava indo para Paris. Eu não estava prestando atenção no que ele dizia, para falar a verdade. Eu estava prestando mais atenção no modo como ele dizia. Ele era muito bonito e eu nunca tinha notado esse tipo de beleza em um homem. Eu estava olhando demais para os olhos dele e para a boca dele, conforme ele falava.

Já havíamos terminado o café há muito tempo, mas ainda estávamos conversando. Acabei convidando ele para ir ao meu quarto no hotel, ele aceitou, poderíamos conversar melhor lá.

Chegando no quarto continuamos a conversar, ele falava um inglês horrível, chegava a ser pior que o meu. Decidi mostrar para ele algumas composições minhas, peguei o meu violão que estava em um canto da cama e toquei algumas músicas para ele, “The Wake” e “Hey Lover”, ele gostou bastante, disse que eu tinha uma voz incomum, mas que eu poderia me dar bem nessa carreira.

Em um ponto da conversa, no meu quarto, acabei sentindo que era o momento. Eu me sentia vivo e eu sabia que ele queria isso também. Então coloquei minha mão na nuca dele e dei um beijo. Ele se rendeu e continuou me beijando. Era um beijo molhado, diferente do beijo de uma mulher. O beijo de mulheres geralmente é mais suave, o beijo dele era bem forte, bem rústico, eu gostei bastante, ele não pareceu se importar. Acabamos transando ali. Era a primeira vez que eu fazia isso com um homem, mas foi bom. Bom não, foi incrível.

Quando terminamos, ele se vestiu. Quando olhou no relógio ele falou que tinha de ir embora para pegar o avião dele para Paris, pois já estava bastante atrasado. Vi nessa hora que na camiseta dele estava escrito “We’re all gonna die alone”.

Ele saiu do quarto com tanta pressa que nem se despediu, não deu um telefone ou qualquer coisa para que eu conseguisse encontrá-lo depois.

Já fazem 5 anos que isso aconteceu e eu estou prestes a começar a trabalhar no meu primeiro CD, agora que assinei contrato com uma gravadora. Eu nunca vou me esquecer dele. Disso.

Acho que vou começar a escrever uma música sobre isso, quem sabe ele ouça um dia?

🎉 Você terminou a leitura de We're all gonna die alone - Todos Vamos Morrer Sozinhos 🎉
We're all gonna die alone - Todos Vamos Morrer SozinhosOnde histórias criam vida. Descubra agora