57 - Fogo de Dragão (✓)

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"Ele era quem ele era, Jon Snow, bastardo e perjuro, sem mãe, sem amigos, e condenado. Para o resto de sua vida, pelo tempo que fosse, ele estaria condenado a ser um estranho, o homem silencioso de pé nas sombras que não ousa falar seu nome verdadeiro."

Jon, Festim dos Corvos

***

Daenerys olhava para baixo, para os homens que lutavam com bravura. Havia centenas, talvez milhares de mortos, todos correndo para o centro em que os vivos se encontravam. Ela então circulou com Drogon ao redor dos soldados, desenhando arcos de fogo para protegê-los, de forma que os mortos não pudessem se aproximar.

— Dracarys. — Repetia com prazer, sentindo o corpo do dragão abaixo do seu, aquecendo seu espírito, devolvendo-lhe a vida. Necessitava do fogo em sua pele, como do ar em seus pulmões.

Seus dedos tocavam as escamas de Drogon e suas cicatrizes da batalha da muralha. Ele estivera doente, assim como ela, mas tinha voltado. Ela o via em seus sonhos, chamando-a. Conseguia voar com ele, sentia que voava pelas campinas. Viserion também a chamava em seu coração, mas ela não sabia onde procurá-lo. Estava perto, isso ela sentia. Eles voltariam a se encontrar, Dany tinha certeza disso.

Cerca de trinta mil mortos foram abatidos naquelas horas de batalha, mas não houve sinal dos vagantes brancos e muito menos do Rei da Noite. Pareciam silenciosos demais, escondidos demais, e Jon não estava tendo um bom pressentimento.

Quando a batalha terminou, Drogon iluminou o caminho de volta a Winterfell. Jon não voltou a ver Daenerys, mas seus olhos a seguiram pelo céu, ansioso para ter certeza de que estava bem.

Ele cavalgou às pressas por aquele caminho, com a garganta travada e a língua seca. Seu cavalo mal suportava seu anseio por chegar e o esforço que fazia para que seguisse o dragão. 

Jon encontrou Dany e Drogon na entrada da caverna em que os dragões costumavam dormir. Ela estava entre a imensa asa negra e a cabeçorra de Drogon. Os olhos da fera eram duas fogueiras acesas e apenas sua respiração era o suficiente para aquecer tudo ao redor. Começou a rugir irritado quando Jon se aproximou, mas Dany o acalmou com um simples toque de suas mãos.

— Sabe o que meu irmão contava sobre eles, Jon? — Ela se reclinava sobre o dragão, deixando sua pele sentir o calor das escamas avermelhadas como brasas — Que eram tão quentes que produziam vapor durante as noites frias e que a respiração deles estava em temperaturas tão altas que acabava cozinhando sua comida antes de ser mastigada... Meu irmão não imaginou que eu viveria para ver isso de perto.

Jon deu um suspiro, cansado e aliviado ao mesmo tempo.

— Se os Outros são a encarnação do gelo, Dany, os dragões são a encarnação do fogo.

Jon conhecia as histórias e sabia que qualquer pessoa se queimaria ao encostar em um dragão. Mas Daenerys abraçava aquelas bestas, colocava seu corpo ao lado dos enormes dentes negros e inquebráveis. Ela não se incomodava com o calor ao tocá-los, pelo contrário, parecia revivida pelo braseiro que eram aquelas escamas. Sua pele agora estava corada e seus olhos brilhantes como quando a conheceu. Os dragões e ela precisavam estar juntos para que se sentissem fortes no inverno.

— Como você sabia? — Perguntou Jon, lembrando-se de como ela correu para a escuridão.

— Os dragões renasceram para essa guerra, assim como nós dois, Jon.

A voz dela era um sussurro profético, era como ler velhos contos fantásticos nos livros empoeirados que o acompanhavam na infância em Winterfell. Estranhamente ele sentia que era verdade, que também sabia de tudo isso.

Eles deixaram Drogon na caverna, protegido pelo calor que ele mesmo impregnava nas pedras, e voltaram para Winterfell. Havia homens feridos que precisavam de cuidados e todos tinham de comer e descansar antes que houvesse outro ataque.

Mas, de volta ao castelo, toda a conversa que havia tido com Bran, Sam e Gilly retornou à mente de Jon. Toda a vida havia desejado saber sobre suas origens e, de repente, preferia nunca ter descoberto. Viu-se mergulhado outra vez nas maldições de sua vida, como se nunca fosse conseguir um lugar no mundo, pois não tinha direito algum. Jon seria ainda a mesma sombra silenciosa e perdida em um mundo que lhe tiraria tudo que ousava desejar? Ele estava começando a pensar que sim.

— Está tudo bem? — Dany tocou sua mão durante o jantar, sentindo-o estranho, mas ele sorriu sem graça, fez que sim e se afastou sem lhe dar explicações.

Não queria magoá-la, mas a cabeça doía de tanto pensar. Queria estar perto de Daenerys e ao mesmo tempo longe dela. Estava dividido entre a emoção pelo filho que ela carregava e pela frustração do parentesco com ela. Sabia que casamentos entre primos e mesmo entre tios e sobrinhos eram comuns em muitas famílias, mas não era algo que ele próprio considerava certo. Não era o que seu pai esperava dele ou que seu povo esperaria. Estava tão feliz antes, naquele barco, e no dia de seu casamento, e em todas as noites com ela... Mesmo com a guerra que se aproximava, ele havia se sentido forte e capaz, pois havia encontrado seu motivo para viver, mas agora tudo isso parecia estar sendo retirado dele. 

Já no quarto, depois de se banhar, Jon se enfiou sob as peles tentando dormir, mas por mais cansado que estivesse, sua mente não desligava. Daenerys chegou pouco depois, mas ele apenas ouviu sua movimentação, pois estava de costas, bem no canto da cama.

— Jon? — Chamou ela com suavidade — Está dormindo?

— Não...

Dany se deitou ao lado dele e envolveu sua cintura com o braço. A pele dela estava fresca do banho, arrepiada e ainda úmida. A sensação da mão dela em seu abdome e dos seios roçando em suas costas foram o suficiente para espantar todo o sono de Jon.

— Preciso dizer a ela. — Pensava ele — Preciso contar toda a verdade.

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Nota: Aqui eu não seguirei a ideia da série sobre incesto. É muito comum casamentos entre tios e sobrinhos em qualquer época medieval, inclusive em Westeros é super comum. Haverá conflito com isso sim, mas não algo "ó meu Deus". Vai ser conflituoso porque é o Jon e ele é uma pessoa cheia de honras, cheia de pudores e etc... Mas, por favor, abram suas mentes e esqueçam o que a série fez.

Final alternativo para GOT (concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora