A Rainha das Cinzas

609 45 11
                                    

"Eu fecho meus olhos, apenas por um momento
E o momento se foi, todos os meus sonhos
Passam diante dos meus olhos, em curiosidade. Poeira ao vento, tudo o que eles são é poeira ao vento "

(Dust in the Wind - Paula Fernanda)


****

Da janela de seus novos aposentos, Daenerys olhou esperançosa para o céu sobre Volantis - naquele final de tarde tingindo de rosa e laranja - enquanto esperava ver algum sinal de Drogon voando contra as nuvens da cidade. Ele havia levantado voo no meio da noite há duas semanas e então simplesmente desaparecera. No início Dany imaginou que ele sairá para caçar, mas Drogon não apareceu no dia seguinte e nem nos dias posteriores.

Da janela ela conseguia ouvir os sons distantes da cidade e a oração de fim de tarde dos fiéis da Fé Vermelha dentro do grande templo que se tornara sua prisão. Mas apenas aquele aperto no estômago importava. Estava preocupada com Drogon, apavorada com a possibilidade de também perdê-lo ... Ela não ia suportar. Pensou em Viserion e Rhaegal perdidos para sempre diante de seus olhos. Pensou em sua doce amiga Missandei. Pensou em Jorah e em todos que morrerem diante dela sem que ela pudesse fazer nada para salvá-los.

Sentindo-se cansada e derrotada, Dany arrastou seus pés descalços até a cama e se deitou encolhida enquanto esperava pela volta de seu filho.

Do lado da cama, a bandeja com a comida que Aisha havia enviado continuava intacta desde a hora do almoço. Dany não sentia fome há dias, apenas aquele aperto gelado na boca do estômago e o fogo na ferida que cicatrizava em seu peito. Por fora, cicatrizava por fora. Por dentro, Daenerys ainda conseguia sentir a sensação daquela faca sendo enterrada fundo em sua carne.

Às vezes enquanto dormia, ela revivia aquela sensação. Então ela acordava sobressaltada, seu coração batendo aos solavancos. A respiração ofegante enquanto o aço se enterrava em sua alma. Ela conseguia se lembrar da sensação... do olhar no rosto dele. Da surpresa e da decepção que ela sentiu quando percebeu o que ele havia feito. O golpe a despertou da transi em que Dany se envolvera desde que ela voara em Drogon para retomar o ataque a cidade. O golpe a trouxe de volta para o chão apenas para que ela sentisse o que ele havia feito com os dois.

Dany se lembrava da voz dele, ela sentiu o gosto das lágrimas dele quando ele a beijou. Ele estava falando... implorando... Mas Daenerys estava flutuando. – Eu também implorei, Jon.

Ela se escondeu atrás daquela névoa enquanto a cidade ardia debaixo de suas asas. Às vezes no meio da noite, ela ficava acordada tentando se lembrar daquele dia. Ela conseguia se lembrar dos gritos, dos cheiros, dos sons, do suspiro de uma cidade que morria afogada em seu fogo e em sua dor. Mas tudo estava distante e borrado. Dany se lembra de ter chorado sozinha em cima de seu dragão, mas quando seus pés tocaram novamente o chão calcinado da cidade... Ela se sentia vazia. Ela flutuava como uma pena solta no ar. Como as cinzas que se derramavam sobre sua cabeça como uma coroa caída do céu e se acumulavam aos seus pés. Ela pensou que podia se agarrar a Jon. Mas então ele a matou quando não existia mais nenhum lugar aonde ela pudesse se agarrar. Onde está você Drogon?

Na primeira vez que acordou contra o corpo quente e reconfortante de seu filho, Daenerys se desmanchou em lágrimas enquanto ele a olhava. Ela havia falhado. Havia falhado com ele. Ela quase o deixou sozinho. Porém enquanto chorava, um lado seu sentiu-se profundamente grato e feliz. Drogon a amava. Ela nunca duvidou disso. Ele cruzara todo o Mar Estreito para salvá-la. Ele era o único que a amava de verdade e foi bom se sentir assim. - Só um dragão pode amar outro dragão.

Sangue do DragãoOnde histórias criam vida. Descubra agora