Um Desejo no Dia dos Namorados

A semana estava se saindo uma bela de uma porcaria. Meus pais estavam insuportáveis desde o final de semana, todo dia era uma briga. Desde que mamãe pegou meu pai numa situação nada boa com a secretária do escritório de advocacia da família, a vida em casa estava um verdadeiro inferno. E isso já contava 6 meses. Ter pais advogados é tudo de bom quando se precisa, porém quando se trata da partilha de bens durante o divórcio, a coisa muda de figura. Nenhum dos 2 vai querer sair perdendo e mamãe acha que ele deve muitos anos de indenização a ela. Mas, esta semana estou realmente assustada. Os silêncios e os olhares de morte que mamãe dá a papai são de meter mais medo que toda a gritaria que ela já fez. Acho que não demorará até termos um desfecho dessa situação, assim espero.

Há 2 semanas, Vítor veio com um papo estranho sobre quanto tempo mais teria que esperar para que fizéssemos sexo. Revirei os olhos para ele na hora. O namoro já andava uma bosta e só estava a espera de um motivo para terminar de vez. Nem sei porque estava com ele, lindo de morrer, mas nem sabia engatar uma boa conversa. E depois de 5 meses achou que já devia me pressionar por sexo. Ah, com certeza iria fazer com Vítor só porque ameaçou terminar comigo. Caio na risada sempre que lembro da cara dele quando disse que o namoro tinha acabado. Não sei porque aguentei tanto tempo aquela chatice, vivia mais fugindo dele do que estava, de fato, com ele. Não sei se ele já contou a alguém sobre o término. Deve estar até agora olhando para o queixo caído no chão.

E foi numa dessas fugas do pegajoso do Vítor que, há mais de 4 meses, entrei sem querer numa sala de estudos e me deparei com o garoto mais inteligente da escola. Olhou-me com total surpresa estampada no rosto. E até esse momento nunca tinha achado um garoto tão lindo e sexy na vida quanto aquele... Expliquei o que estava fazendo ali e ele aceitou de boas. Desde então comecei a passar por aquela sala com bastante frequência. Estudávamos, ouvíamos músicas, mantínhamos uma conversa leve e até mesmo aprendi a jogar xadrez. Tenho certeza que Diego não faz ideia de quão lindo ele é. Quem sabe um dia eu mesma não o diga, não é mesmo?

Já estamos na quarta e continuo sem vontade de assistir a qualquer aula, sei que não é o correto, minha consciência não me deixa em paz. Estou no último ano do ensino médio e sei que preciso definir logo o que "quero ser quando crescer", mas está puxado. Sento-me sob a frondosa árvore, que fica no terreno do colégio, escondida a fim de evitar qualquer interação com outro ser humano. Estou sem paciência para viver de aparências e preciso de um tempo a sós comigo mesma. Puxei os fones de ouvido do bolso da mochila, pluguei em meu celular da última geração - meu mundo estava ruindo, mas meu pai continuava a me dar presentes caros para aplacar a culpa - e escolhi uma das playlists. Costumo ter uma para cada ocasião, e a escolhida desta vez foi metal. Cosntumo ouvir esse tipo de música nas alturas permitidas pela OMS, afinal de contas quero esquecer e não ficar surda. Mas antes de colocar o segundo fone no ouvido, fui surpreendida por um casal que parecia discutir. Era só mais essa que me faltava para meu dia ficar melhor.

- Enlouqueceste? Achas mesmo que eu vou sair contigo só porque planejaste um dia todo em comemoração ao dia dos namorados? - Elsa, minha colega de sala, gargalhava diante de um garoto. Tomou uns papéis da mão dele, olhou com repugnância e atirou-os ao chão. Não sei quem o menino era, pois estava de costas para a minha árvore. Sim, ela é minha desde que comecei a estudar aqui.

- Mas, eu... Eu... Eu achei... - Gaguejando o garoto passava as mãos pelos cabelos, despenteando-os, enquanto tentava se explicar, mas claramente estava chocado demais com a enfática recusa que tomava.

- Achou o quê? Que só porque aceitei tua ajuda com a matéria para a prova de matemática isso nos faria o mais novo casal da escola? - riu escandalosamente e sacudiu a mão direita com todo o desdém que possuía, e continuou - Pensou muito errado, fofinho. Agora vaza logo antes que alguém veja essa tua ceninha deplorável.