Minha primeira expedição nesse gênero, espero que gostem.

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A coisa mais normal do mundo é você dormir com uma perna para fora do cobertor. Dormir com uma porta trancada também é natural. Te passa um sentimento de privacidade e proteção.

O que não é normal é você sentir uma mão gelada alisando seu calcanhar no meio da escuridão da madrugada.

Eu senti isso, há dois dias. Desde então só tenho dormido com o nascer do Sol. Devo confessar, aquilo me fez gelar o sangue, e todos os pelos do meu corpo se arrepiaram. Eu não me mexi, continuei parado, sentindo a perna molhada, aquela coisa secando aos poucos, enquanto tinha a sensação que dois olhos malditos me encaravam. A sensação de estar sendo observado... Aquela agonia mental, que vai crescendo aos poucos. A vontade de correr, mas o medo de fazer isso é maior do que ficar parado.

Imagina. Uma mão gelada te puxando direto para o chão, o que aconteceria depois?

Gritos demoníacos enquanto uma lâmina perfura sua barriga, várias e várias vezes? Mãos enfiando dedos longos e podres nas suas entranhas, rasgando sua barriga enquanto levam suas tripas para uma boca cheia de dentes afiados? Ou simplesmente a agonia?

Aquela agonia que você sente quando está lendo algo, mas ignora e pensa: Isso é só por causa da história.

Isso é apenas uma pequena parte das coisas que minha cabeça pensou naquele instante. Naquela madrugada que deixou um clima morto dentro do meu quarto. No dia seguinte, tranquei todas as portas, nos dois andares da casa. Não posso deixar de lembrar que eu ficava constantemente olhando para trás. Até para as paredes. Há sempre algo nos observando, e só conseguimos perceber quando aceitamos isso.

Na noite passada eu não dormi, fiquei com a luz do quarto acesa, mexendo em meu computador, tentando me distrair. Ouvi música, daquelas antigas, que são impossíveis de gerar um sentimento ruim.

Mas eu juro que ouvi passos no corredor.

Por Deus, eu ouvi. Eu já não aguento mais essa pressão. Já não aguento ter a certeza que isso é real, mas não poder fazer nada, enquanto a sanidade diz que é tudo coisa da minha cabeça.

Mas não é.

Não é.

Uma dica? Se sua intuição sente que tem algo atrás de você. Realmente tem. E isso irá te observar enquanto dorme.

Mas talvez tudo isso tenha passado. Já é quase quatro horas da manhã, e nada aconteceu. Leio um pouco pra passar o tempo, os filmes também ajudam. Por mais estranho que isso possa parecer, deixo as luzes apagadas. Elas me incomodam.

Meu telefone vibra. Sim, acha que sob essas condições eu deixaria o toque ligado, para me assustar a essa hora? Mas quem me ligaria a essa hora?

Atendo.

— Alô?

Silêncio. Mas ouço água corrente, um pouco distante.

— Alô? – repito.

Apenas o barulho de água.

Desligo o celular. Quem seria o idiota que iria me passar trote a essa hora?

Vou no registro de chamadas, e vejo o número de quem me ligou.

Espera, eu conheço esse número...

É o número do celular da minha irmã. Ela usava esse número há três anos.

Quando morreu afogada.

Puta. Merda.

Joguei o celular pra longe, tremendo na cama. O ar não queria entrar nos meus pulmões, e meu corpo amoleceu. Eu não precisava disso. Realmente, não precisava. Qual o sentido disso? Qual a lógica?

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⏰ Última atualização: Oct 06, 2014 ⏰

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One Shot - Madrugadas mortas de terrores bem vivosOnde histórias criam vida. Descubra agora