Harrison caminhava triunfante em direção à porta. Dick interferiu.
- Calma aí, idiota. - disse Dick colocando a mão no ombro do detetive.
- Eu não tenho tempo a perder. - Harrison deu uma tapinha sutil na mão de Dick, retirando-a do seu ombro.
- Você não ouviu nada do que eu falei? Os federais estão querendo pegar o cara. Ele é cauteloso, não podemos chegar assim de surpresa. - advertiu Dick.
- Não se preocupe, Dick. Conheço os visitantes. Podem entrar. - disse uma voz estranha por um interfone.
Os três foram em direção à porta, seus passos vagarosos emitiam sons, que intensificavam-se graças ao eco do ambiente. Caller parecia receoso, acendeu um charuto e seguiu os dois, que caminhavam em passos ritmados. A porta se abriu. Eles entraram. Era uma espécie de quartel general, tudo milimetricamente organizado. A mobília era basicamente estantes, com milhares de livros e pastas de documentos, tinha uma lareira acesa, mas o que mais tinha de marcante, ficava no centro do cômodo, uma linda poltrona. E lá estava sentado o misterioso Thoth. Um velho esguio, cabelos e bigode brancos, com um monóculo revestido de ouro e vestia um colete sobre uma camisa social. Estava muito elegante.
- A que devo a honra de sua visita, David McCoy Harrison, o homem que tudo descobre? - Thoth encarou Caller. - Você deve ser John Mayer Caller, um legista renomado, de acordo com seu histórico.
- Por favor, não diga esse sobrenome novamente. Preciso da sua ajuda. - Harrison estava sério.
- Eu sei que precisa, todos precisam. Por isso estou nesse esconderijo. - disse Thoth ajeitando o seu monóculo.
- Por que a polícia está atrás de você? - perguntou Caller.
- Já ouviu falar da inquisição? A idade das trevas? Eles querem apagar a luz do conhecimento, sou uma ameaça para eles, já que sei de muita coisa. - Thoth examinava alguns documentos. - Você entrou em um novo caso recentemente, a morte de Alice Millie Thompson.
- Sim. Eu quero saber sobre a W&W. Uma empresa de agiotas.
- A W&W? Deixe me ver... - Thoth começou a vasculhar alguns documentos, que pareciam estar organizados em uma ordem alfabética. - Aqui. Encontrei. - Thoth retirou os documentos de uma gaveta. - "Grupo de agiotas W&W", fingem ser uma empresa de advocacia, localizado à cinco quilômetros do centro. O grupo foi fundado em 1981, por Washington Willian, um agiota muito famoso na época. Ele morreu faz um tempo, e seu filho, Washington Willian Jr., deu continuidade a empresa. Mas ele não é só um simples agiota, ele é também um dos chefes da máfia local.
- Entendo. Qual o grau de periculosidade deste grupo? - perguntou Harrison.
- O perigo não está concentrado em Washington Willian Jr. Ele está focado em negócios maiores, mas, ainda assim, esse grupo de agiotas costuma ser impiedoso. Eles dão um determinado prazo, caso o indivíduo não pague, o juros da dívida aumenta cada vez mais, em último caso, eles matam o devedor. - Thoth fez uma pausa, guardou os documentos. - A periculosidade deles é nível "B".
- Razoável. Muito obrigado, Thoth. Pagarei em breve.
- Eu tenho certeza que sim, Harrison. Até logo, rapaz. - Thoth afundou na poltrona.
Dick os acompanhou até entrada do bueiro.
- Nos despedimos aqui. Segure isso... - Dick entregou um papel para Harrison. - Meu número. Me ligue, caso precise dos meus serviços. Até mais, idiotas.
Dick saiu caminhando por um beco, até que sumiu de vista.
- Me pergunto que tipo de serviços esse cara faz. - brincou Caller.
- Preocupante. Mas ele me parece útil.
- A informação que recebemos não me pareceu promissora. - disse Caller.
- Na verdade, eu queria confirmar a existência da W&W. Vamos lá, Caller, temos que voltar para a mansão. Já estou pronto para o próximo interrogatório.
Os dois andaram em direção ao carro, receosos dessa vez, ambos sentiram na pele o perigo daquela região. Enfim, chegaram ao carro. O motorista ao vê-los, prontamente abriu a porta para os dois cavalheiros e fitou o rosto brutalmente ferido de Caller.
Está tudo bem, senhor? Foram assaltados? - perguntou o motorista.
- Está tudo bem, bom homem, são ossos do ofício. - respondeu Caller com dor, mas tentando ignorar seus ferimentos.
Eles partiram em direção a mansão.---
Chegando na mansão, Harrison e Caller foram diretamente para a biblioteca. Harrison estava empolgado, pensativo e inquieto. As mãos do detetive estavam trêmulas.
- Tudo bem, Harrison? - perguntou Caller.
- Preciso de café. Café. Urgentemente. Por favor.
- Meu Deus. Abstinência de cafeína? Wallace, por obséquio, traga café para o cavalheiro aqui. - pediu Caller.
- Sim, senhor. - Wallace foi imediatamente.
- Harrison, terei que me retirar. Preciso examinar a arma do crime, talvez o assassino tenha deixado alguma pista no travesseiro. Eu mesmo farei a perícia. Volto o quanto antes. - disse Caller.
Harrison agarrou rapidamente a xícara de café trazida por Wallace.
- Tu... tudo bem. Eu só preciso de café. - a tremedeira de Harrison diminuiu.
- Você ouviu o que eu disse?
- Ah, claro. Bem pensado. Esquecemos completamente da arma do crime. Comece a perícia, os resultados serão de suma importância. Confio em você, amigo. - Harrison inexplicavelmente recuperou a postura.
- Até mais. Boa sorte. - disse Caller se retirando do cômodo.
Harrison permaneceu sozinho na biblioteca por aproximadamente vinte minutos, com a mão direita batia uma caneta na mesa, com a esquerda penteava o bigode, Sebastian surgiu na biblioteca.
- Com licença, Harrison. Temos que conversar. - disse Sebastian.
- Sim. Realmente precisamos. -
respondeu Harrison, enquanto enchia uma xícara de café.
- Ontem, pela manhã, colocaram um bilhete por baixo da porta do meu quarto... - Sebastian foi interrompido.
- Você recebeu uma ameaça. - afirmou Harrison, calmamente.
- O quê? Como? Como você sabe? - Sebastian estava atônito.
- Acalme-se, Sebastian. Você precisa permanecer calmo.
Sebastian suspirou, e sorriu.
- Manter a calma? Difícil. Alguém da minha família matou a minha mãe, está andando á solta pela casa, e me manda uma ameaça. Mas como você sabe?
- Eu vi a arma no seu cofre hoje cedo. Você estava internamente transtornado, eu vi nos seus olhos, você tinha uma arma, então, havia duas possibilidades. Você suspeitava de alguém e queria fazer justiça com as próprias mãos ou estava logicamente tomando alguma precaução, se protegendo de algo, foi ameaçado. Tudo ficou claro quando você me disse que recebeu um bilhete. Pode me mostrar o bilhete?
-Sim, está aqui. - Sebastian tirou o envelope do bolso e entregou para o detetive. Harrison leu atentamente.

VOCÊ ESTÁ LENDO
O assassino da invalidez
Mystery / ThrillerO detetive David Harrison é chamado para um caso intrigante, uma senhora afetada por diversas doenças que levaram-na à uma lamentável cadeira de rodas é encontrada morta em seu leito, a justificativa mais óbvia proposta pelos familiares para esse ac...