Cidadão Terrestre

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Cristian (Thaís)

  E hoje é mais um dos dias que eu finjo ser um cidadão terrestre.
Nos últimos anos eu me escondo aqui: no oeste da cidade de Riverstory, em um apartamento caindo aos pedaços que é posse do Jony (meu melhor amigo mas ele não precisa saber disso, certo? Certo).
  Eleé realmente vagabundo podre de rico, que usa cuecas viradas do avesso para não ter o "trabalho" de colocar naquilo que vocês chamam de máquina de lavar, sabe?Eu sempre me pergunto porquê de máquina de lavar e não limpadora de roupas ou qualquer nome como (pausa reflexiva): VENTILADOR!,que gira da mesma forma.
  No caminho do trabalho eu sempre passo na cafeteria da praça para provar uma das melhores coisas da Terra: o chocolate quente. A segunda melhor coisa é o samba.Eu amo samba e chocolate quente, nessa ordem, sem mudar um "a". Mas hoje a cafeteria resolveu fechar, então eu fiquei sentado num banco observando os humanos e as plantas, pensando: como que duas coisas tão distintas conseguem viver num mesmo ambiente tão bem?
  Eu estava "de boa" quando a "caixinha que fala" começa a tocar, e só pelo nome escrito na tela eu sei que é o Jony (ou seja: porque só ele me liga).
  Atendo, mas só depois de segundos, decido ser o primeiro a falar: 
  — Oi?
  — Onde você está, cara?
  — Indo trabalhar!
  — Você esqueceu?— ele diz em um tom de "como assim?"
  — Eu deveria lembrar?
  — Feriado da cidade. Tudo está fechado hoje.
  —AH SIM! Me falaram disso, mas eu esqueci.
  — Por onde a sua memória?
  —Ela está passeando por Marte em sua bike pink — escuto sua risada um tanto peculiar.
  — Liguei mesmo pra avisar que vou passar uns dias fora. — diz ele animado — Cinco dias, mais precisamente. Você vai ficar bem?
  — Pode apostar! — penso um pouco— Mas você vai ter de levar o gato, Jony.— eu preciso que ele leve o gato, porque se eu ficar sozinho com aquele gato, ele acaba comigo em três minutos. Ou até menos.
  — Okay, eu levo o gato.
  — Obrigado!— sorrio, grato por não precisar me preocupar com o gato. — Você é realmente top!
  —Não foi nada!-— ele para de falar- Você vai ter de ir ao mercado. — ele desliga. Provavelmente com medo de um "não".
  Coloco meus fones de ouvido para evitar que alguém se aproxime pedindo informação, e finalmente entro. O Jony me enviou uma lista sobre o que comprar, então eu só preciso achar os nomes nas prateleiras e pegar a embalagem mais legal. 
  Até o momento está tudo bem. Espero não estar me precipitando.
  Encontro o brócolis, e agora faz sentido o nome estranho.
  Vou procurar o cereal , mas ainda estou pensando em como alguém consegue comer aquilo sem reclamar.
  Fico tão distraído com aquilo, que acabo esbarrando em alguém:
  — Ai, me desculpa! Mil perdões! — me abaixo para pegar o que ela tinha deixado cair, e ao levantar, me deparo com aquele sorriso — E-e-eu sou um pouco distraído, á-a-as vezes.— e agora gago.

Um amor, uma curaOnde histórias criam vida. Descubra agora