Meu colega de faculdade veio me falar de um livro chamado O Nome do Vento. Ele dizia que a história se ambientava em uma época semelhante à era vitoriana, cheia de tramas e conspirações. Mas também haviam seres fantásticos e um personagem extremamente misterioso chamado Couti. No começo eu não dei muita bola mas depois de um tempo, vendo a maneira super-empolgada que ele se referia ao livro resolvi dar uma chance e peguei emprestado dele. Uma das, senão a melhor, decisões da minha vida de leitor.
Kote (segundo o livro algo como Kuouth mas eu na minha forma de pronunciar o V aparece. O autor também pronuncia o V. Esqueça o E), o dono de uma hospedaria de beira de estrada. Todas as noites os aldeões bebem e contam histórias naquele local. E algumas dessas histórias são sobre uma enigmática figura lendária do passado chamada de Kvothe, que em algumas versões é o herói e em outras o vilão. Um escriba viajante acaba então por chegar a hospedaria de Kote. Depois de um tempo analisando o proprietário do estabelecimento ele da-se conta de que de alguma maneira está diante do próprio Kvothe e pede-lhe que lhe conte a sua verdadeira história, afim de que ele possa registrá-la. Depois de um pouco de renúncia Kote/Kvothe cede ao pedido mas salienta que serão necessários três dias para que toda a sua trajetória até ali seja narrada. O Cronista (é assim que ele é referido mais frequentemente) tinha um compromisso inadiável mas pesando as coisas na balança opta por aceitar os termos do hospedeiro.
Kvothe nasceu numa trupe itinerante, os edena ruh. Sua infância foi marcada pelas artes e por muitas viagens. Ele é paixonado pela música do alaúde, um antigo instrumento de cordas medieval. Ele também aprende os princípios do arcanismo, uma espécie de ciência mágica. Mas uma tragédia ocorre numa dessas muitas viagens. Um grupo maligno conhecido apenas como O Chandriano assassina brutalmente toda a trupe de Kvothe! Só ele foi deixado vivo. A partir daí ele passa a enfrentar muitas dificuldades e tem que se virar para poder para sobreviver. Com muito esforço Kvothe consegue ingressar na Universidade, onde ele almeja continuar seus estudos para se tornar um arcanista completo e também investigar o Chandriano. Mas as coisas no mundo acadêmico também não são fáceis, é o que Kvothe logo percebe. Ele tem que lidar com dificuldades financeiras, preconceito, intrigas e armações e até uma paixão mal resolvida.
Eu diria que O Nome do Vento é algo no meio termo dos três últimos volumes de Harry Potter e a série Crônicas de Gelo e Fogo, mas que consegue ser surpreendentemente original em tudo. Patrick Rothfuss, o autor, não quer jogar com cartas repetidas. Os lugares que servem de cenário, a mitologia e a história dos Quatro Cantos (é assim que o universo fantástico da história é primeiramente identificado) e todo o sistema de conceitos do arcanismo; é tudo muito bem estruturado! O desenvolvimento dos personagens também é muito interessante e a leitura é muito cativante. O primeiro livro centra-se na adaptação de Kvothe dentro do ambiente da Universidade e em algumas aventuras nas imediações dela.
Já no Temor do Sábio, o segundo volume da Crônica do Matador do Rei (este é o título da série) Rothfuss expande seu universo. Ele retira Kvothe de dentro do ambiente acadêmico e o insere em uma empolgante viagem, repleta de descobertas, intrigas, reviravoltas e novos mistérios. O protagonista conhece novas terras e culturas e é possível aprender muito mais sobre coisas mencionadas no primeiro livro. A sexualidade também ganha um tom mais acentuado dentro do enredo e a personalidade de Kvothe é melhor trabalhada e desenvolvida em diversos aspectos.
Por mais que eu escreva aqui, não será o suficiente para que você entenda. Se quiser compreender a natureza da obra de Patrick Rothfuss você terá de lê-la e experimentá-la. E acredite: Se você tiver o mínimo de entusiasmo e não desanimar nos primeiros capítulos não se arrependerá. O estilo do autor é imersivo, influência de Neil Gaiman, um de seus principais inspiradores, segundo declarou ele mesmo em uma entrevista. Com uma boa leitura mergulha-se de tal forma dentro da trama que é muito fácil se apegar ao personagens e lugares, como se você já os conhecesse a anos.
Resumindo: É uma escolha muito inteligente começar a ler a Crônica do Matador do Rei ao meu ver.