O... Senhor Sebastian?

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Batidas na porta. Sebastian se remexeu na cama. O rapaz morava em uma pequena pensão no centro da cidade, em um dos apartamentos que ali haviam. O dono do lugar havia cedido a ele um quarto, quando Bast o ajudou a descobrir quem havia roubado seu suprimento de cerveja. Não era um lugar chique nem nada, mas era muito bom. Mais batidas na porta. Mais batidas, mais batidas e mais batidas. Aquele pesadelo sonoro não acabava. Bast grunhiu e enfiou a cabeça embaixo do travesseiro.

-John, atenda a porta! -Gritou ele, ainda com a cabeça escondida. As batidas continuaram. John não morava mais com ele, algo que sempre acabava esquecendo. Haviam tido um pequeno desentendimento que fez com que parassem de dividir o apartamento, e desde então, Bast havia se isolado ali. Com um grito de revolta, levantou-se e foi cambaleando até a janela, a qual abriu. O sol da manhã invadiu o recinto escuro e bagunçado, Bast piscou algumas vezes para se acostumar com a luz. As batidas continuaram.

-JÁ VOU.

Agarrou a primeira muda de roupas que viu e se vestiu depressa. Saiu do quarto e foi rumo à sala, rumo à porta da qual vinha o barulho todo. O resto do apartamento estava tão bagunçado quanto o quarto: papéis e livros estavam jogados e acumulados em diversos cantos, louça suja dominava a pia e também a mesa de centro da sala. Devido ao sono, teve certa dificuldade para abrir a porta, mas logo conseguiu. Quem estava do outro lado era um rapaz com aparência um tanto judiada: cabelo despenteado e um curativo no rosto. Ao ver Sebastian, o rapaz pareceu um pouco confuso e olhou para um pequeno papel que trazia em mãos.

-Hm, é aqui que mora o... -Olhou para o papel novamente -Sebastian?

-Sim. Sou eu. O que você quer? -O tom de voz do anfitrião não era nem um pouco convidativo.

O recém chegado pareceu um tanto apreensivo, e com certeza percebeu que havia acabado de acordar o outro.

-Talvez eu deva voltar mais tarde...

-Não! Fale. Eu só... -Bast passou as mãos pelo cabelo, tentando dar uma arrumadinha básica. Ajeitou a blusa que estava vestindo e tentou sorrir. Mas tudo isso só serviu para fazê-lo parecer um mendigo maluco. O outro rapaz limpou a garganta e murmurou um "certo".

-Bem, eu soube que você é investigador particular. Isso é verdade?

-Aham. Sou o melhor em pegar partes adúlteras de um relacionamento no flagra. -Bast estava zombando do que fazia, já que a maioria das pessoas achava que o serviço de um investigador particular se resumia a isso.

-Certo. Não, preciso que o... -O rapaz olhou Bast de cima a baixo, estava confuso quanto ao melhor modo de se referir ao detetive. -...senhor?

-Me chame de "você".

-Preciso que você investigue algo pra mim. Podemos entrar pra conversar melhor sobre o serviço?

Bast pensou por um segundo. Seu apartamento estava uma completa bagunça, se aquele rapaz visse a situação em que o lugar estava, certamente desistiria.

-Eu acho melhor conversarmos aqui fora. Estou realizando algumas atividades um tanto perigosas ali dentro e quero evitar de colocar civis em risco. -Era mentira, obviamente. Mas uma mentira necessária. Bast precisava de um cliente, precisava de um caso em que trabalhar, mesmo que fosse um mísero caso de adultério. Qualquer coisa que pudesse tirá-lo do apartamento e de suas dívidas seria muito bem vindo.

O rapaz então começou a contar porque estava ali: sua namorada estava desaparecida. Vanessa, uma linda jovem universitária que ele havia conhecido há 3 anos e que namorava há 1 ano. Ele contou ao investigador sobre a rotina da moça, que se resumia em: ir à universidade de manhã, voltar para casa à tarde e estudar o resto do dia. E às segundas feiras ela ensaiava balé no Centro Cultural. Não trabalhava, já que os pais eram nobres ricos e podiam pagar tranquilamente a faculdade da moça. Bast ouvia atentamente tudo o que o outro dizia, e em certo momento achou (por pura sorte) um bloquinho de notas e uma caneta no bolso da blusa, e usou isso para anotar tudo que fosse relevante.

-Vanessa e eu devíamos ter nos encontrado após o ensaio dela, na segunda, mas ela nunca apareceu, e eu tô muito preocupado com ela...

-Desaparecida na segunda, então... -Murmurou ele enquanto tomava notas. -Que dia é hoje?

-Hoje é quinta.

Ótimo. A vítima estava desaparecida já faziam...quatro dias, contando com segunda. A mente de Bast estava tão lenta, ele só queria deitar-se novamente e nunca mais acordar. Mas havia um cliente agora. E havia pegado o tipo de caso mais difícil que havia: desaparecimentos. Investigar aquilo seria bom para ele, talvez até servisse para tirá-lo da lama e colocá-lo nos holofotes novamente. Imagine só: "Investigador Particular encontra jovem desaparecida, filha de um rico casal de nobres". Isso seria INCRÍVEL. Um esboço de sorriso começou a surgir na face de Sebastian.

-Qual é seu nome? -Perguntou ele, olhando para o cliente.

-Gregório de Matos.

-Nomezinho mixuruca hein...

-O que?

-NADA. Vou organizar algumas coisas por aqui e começarei a trabalhar no caso, quando eu terminar acertamos o pagamento! -Bast virou-se para entrar novamente em casa, mas Gregório o abordou antes.

-Espera! -O moço tateou os bolsos até encontrar um envelope branco levemente amassado, o qual entregou ao detetive. -Veja isso como um incentivo. Um gesto de boa fé ou sei lá. Apenas encontre-a, por favor...

Hesitante, Sebastian pegou o envelope e olhou seu conteúdo, era dinheiro. Várias "verdinhas" repousavam ali dentro, e ao vê-las, o rapaz se sentiu verdadeiramente motivado. Mas claro, o que o motivava também era a justiça. A moça desaparecida devia ser encontrada.

-Bom, você não irá se arrepender. -"Eu acho..." pensou. Ele então entrou novamente no apartamento, deixando Gregório sozinho do lado de fora.

-Conforme for tendo progresso, me avise. Eu vou deixar meu endereço com o moço na recepção lá em baixo. -A voz do cliente se fez ouvir através da porta.

-Podexá chefia. -Respondeu Bast, enquanto olhava para o dinheiro do envelope e sorria feito um maníaco.

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⏰ Última atualização: Jun 18, 2019 ⏰

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