Capítulo 7: Admirável Grande Mundo

142 5 34
                                    

Sérgio sofreu em manter o pescoço erguido para contemplar a grandeza da namorada – tanto pelo ângulo quanto pelo medo. Petrificado, nenhum movimento voluntário em seu corpo a não ser o tremor, viu-a cruzar os braços, observando-o com os lábios comprimidos em satisfação e as sobrancelhas arqueadas como uma águia predadora.

Recentemente, só vira Eduarda com aquela expressão num tipo de acontecimento: quando chegava em casa com uma action figure nova. Assimilar o fato de que diminuíra a poucos centímetros de estatura, e que o temor lhe travava as articulações, fez com que despertasse à terrível verdade...

Ele era a miniatura nova.

Após passar uma mão pelo rosto para tirar uma mecha de cabelo negro da frente dos olhos, Eduarda sorriu. E quando falou, sua voz a Sérgio soou mais grave e cavernosa, ecoando aos seus ouvidos como se fosse reproduzida por alto-falantes, o que o rapaz entendeu também ser fruto de sua nova condição:

Você querendo me controlar... Parece que o jogo virou, não é mesmo?

Devido a ter perdido altura, um espaço se abrira, na sala, entre a posição onde Sérgio estava e o ponto em que Eduarda permanecia de pé. Endireitando o tronco, mas mantendo o cuidado de olhar para baixo, a garota ergueu um dos pés para efetuar o primeiro passo na direção do namorado...

E tudo tremeu.

O chão do apartamento era inteiro de assoalho, e passadas normais já reverberavam pela madeira quando Sérgio tinha altura normal. O efeito do Converse de Eduarda sobre as tábuas, agora, assemelhou-se a uma enorme rocha colidindo contra o piso, a sola pousando num estrondo – o impacto fazendo as pernas do rapaz bambearem e por pouco não levando-o a cair. Ver o tênis mais perto de si também reforçou suas dimensões: a Sérgio, aproximava-se do tamanho de um carro sedan, os cadarços espessos como cordas. Enquanto o sangue fervia em suas veias, cada pelo em seu corpo arrepiado, o homem reduzido teve o repentino pensamento da grandeza do pé de Eduarda dentro do calçado...

Não pode ser! – refletiu, inconformado e cogitando, ainda, se não adormecera enquanto jogava e aquela loucura não passava de um sonho, prestes a se transformar em pesadelo. – Estou na pior situação da minha vida, e ainda assim... excitado?

O segundo pé de Eduarda, no entanto, não lhe deu muito tempo para autodescobertas

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

O segundo pé de Eduarda, no entanto, não lhe deu muito tempo para autodescobertas. Também desceu sobre o tablado, causando novo terremoto – e dessa vez Sérgio escorregou, caindo sentado. As nádegas latejaram, a distância entre ele e a giganta encurtada ainda mais, quando levantou novamente a face e viu-a acima de si, encarando-o com um olhar baixo. Estava praticamente entre seus dois pés, a saia cobrindo suas pernas a partir dos joelhos balançando. Se a aba dela estivesse um pouco adiante, ele conseguiria enxergar... Não, naquela condição fragilizada, era melhor nem ousar tal pensamento!

Numa explosão indignada, Sérgio reergueu-se, agitando os braços.

– Duda, o que você f... – começou a esbravejar, mas calou-se subitamente, surpreso e incrivelmente envergonhado, tapando a boca com ambas as mãos.

Meu Amor na EstanteOnde histórias criam vida. Descubra agora