Capítulo 39

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A noite caiu, calma e fria. Para surpresa de Scarlett, Evans veio para jantar. Ela viu o marido entrar, tomar banho, se vestir, e descer junto com ela. Os irmãos, pela primeira vez em tempos, jantaram em paz. Depois, cada um seguiu pro seu canto. Scarlett tomou banho, vestiu sua camisola, e foi se deitar em silêncio. Evans fez o mesmo. A chuva, como sempre, caiu lá fora, violenta e impiedosa. Scarlett não conseguiu dormir direito. Estava enjoada. Comerá demais no jantar. Estava relaxando, quieta, quando percebeu que Evans estava inquieto. Inquieto demais pra ele, que costumava ter um sono tranquilo. Depois de alguns minutos, ela veio perceber que ele tremia. Lutou pra ficar quieta, mas o amor dentro de si por aquela criatura era grande demais pra deixa-la agonizando daquele jeito.

- O que você tem? - Perguntou, rouca, pro escuro.
- N -nada. - Respondeu baixinho, ainda tremendo.

Scarlett, não convencida, se levantou e acendeu as luzes. Além de tremer, ele soava. Ela se sentou do lado dele, sem saber o que fazer. Nunca o virá assim.

- Está queimando em febre. - Constatou, ao tocar a testa dele - O que... - Ela ia perguntar o que era, quando viu a pontinha branca do curativo dentre os cabelos densos dele - Evans, o que foi isso? - Perguntou, olhando a extensão do curativo, oculto pelos cabelos.
- Ma-Mark. - Respondeu, rindo, fraco, enquanto tremia.
- Merda. - Murmurou, tirando as cobertas dele.
- O que você ta fazendo? - Reclamou, tremendo mais ainda quando ela lhe tirou a coberta e lhe puxou, fazendo-o se sentar. - Pelo que me consta você s-sente n-nojo d-d-de mim. - Zombou, fraco.
- Quer calar a merda da sua boca? - Ele riu, e ela sorriu, antes de lhe colocar a camisa seca.

Scarlett vestiu mais uma camisa e um casaco nele. Trocou a fronha suada, e pôs seu travesseiro junto, colocando-o deitado novamente, só que mais aconchegado. Ela foi até o armário e pegou cobertas mais grossas, cobrindo-o logo depois. Ela olhou o curativo, mas esse não precisava ser trocado, estava limpo.

- O que você está sentindo? - Perguntou, preocupada, tocando a testa dele.
- Frio. E dor de cabeça. - Assumiu, derrotado.

Scarlett pegou uma compressa no guarda-roupas, e molhou com água fria. Voltou e pôs na testa dele. Aliviou um pouco da dor de cabeça que ele sentia. Porém, o fez ser invadido por um sentimento ruim, ele não sabia nomear. Traíra ela o tempo inteiro, mas agora que era o momento dele de sentir dor, ela o estava ajudando. Scarlett se levantou, pra ir preparar algo quente pra ele beber, quando a mão dele se fechou em seu punho, não com a força habitual, mas segurando-a.

- Fique. - Murmurou, olhando-a.
- Eu vou voltar. - Disse, perdida no olhar dele. Evans assentiu de leve e soltou o braço dela. Ela pegou seu hobbie, vestiu e saiu as pressas.

Scarlett foi até a cozinha e fez um chá bem forte pra ele. Voltou pro quarto, ele estava lá, do jeito que ela o deixou. Ela lhe deu o chá, ele agradeceu e bebeu. Pareceu ajudar. Pelo menos ele parou de tremer. Scarlett se sentou do lado dele, apoiando seus travesseiros na cabeceira da cama, e se encostando neles. Evans conversou um tempo com ela. Eles até riam às vezes. Parecia que os problemas dos dois tinham ficado trancados do lado de fora do quarto. Depois de um tempo, devido ao chá, Evans foi ficando sonolento, e ela encerrou a conversa, para deixa-lo descansar. Observou o marido cair no sono, tranquilamente agora. Tombou a cabeça pra trás e suspirou. As coisas podiam ser tão diferentes. Estava pensando nisso, minutos depois, quando Evans, afogado em seu sono, se virou pro lado, abraçando ela. A cabeça dele ficou pousada em seu seio, e metade do corpo dele por cima do dela. Ele se abraçou a ela, inconsciente. Scarlett prendeu a respiração, imóvel, olhando o marido. Mas ele continuou dormindo, e ela relaxou. Puxou o lençol e o cobriu direito. Depois de um bom tempo, ela se permitiu abraçar ele, pelas costas largas. Sentia tanta falta dele. Não sentia nojo agora. O perfume que vinha dele era dele mesmo. Aquele perfume masculino forte, que a embriagava. Foi assim que adormeceu.
Na manhã seguinte...

- Onde está Evans? - Perguntou Jéssica a Downey, despreocupada, entrando na mansão.
- Não se levantou ainda. - Respondeu, tranquilo.

Jéssica esperou por meia hora. Nem sinal de nada. Por fim, contra o aviso de Downey, rumou ao segundo andar. Downey, Mark e Kate foram atrás, por precaução. Se Scarlett tentasse enforcar Jéssica, alguém teria que separar. A mulher parou na porta do quarto de Evans e Scarlett, e a maçaneta estava aberta. Ela abriu a porta e travou. Downey riu, despreocupado. Kate sorriu, e abraçou o marido. Mark riu também. Jéssica ficou parada, com a cara transformada de ódio, observando a cena. Scarlett estava deitada, apoiada em seus travesseiros, e Evans por cima dela, abraçando-a firmemente. Os cabelos da loura estavam esparramados pelo travesseiro, uma mão dela o segurava pelas costas largas e a outra estava frouxa nos cabelos dele, evidenciando que ela estava o acariciando antes de dormir. Seu rosto estava inconscientemente abaixado, o que fazia seus lábios tocarem a testa dele. Evans tinha o rosto meio aconchegado nos seios dela, e dormia tranquilo.

- Podia ter ficado sem ver essa. - Debochou, rindo, e saiu dali.

Downey tirou Jéssica dali. A mulher resolveu passear pelos jardins, para esfriar a cabeça. Scarlett acordou meia hora depois. O tempo continuava frio. Ela se espreguiçou, e então percebeu o corpo mole de Evans sob o seu. Ela sorriu, e tentou se levantar. Mesmo inconsciente, Evans segurou ela com os braços firmes. Ela fez uma careta, e tentou sair de novo. Sem sucesso.

- Fica quieta. - Pediu, com a voz baixa e rouca, mas sorria de canto.
- Preciso me levantar. - Avisou, rindo.

Evans, muito de má vontade, soltou ela. Scarlett se levantou, e vestiu seu hobbie. Ele observava ela abraçado a seu travesseiro, ainda sonolento.

- Ainda sente alguma coisa? - Perguntou, ajeitando o cobertor dele.
- Dor de cabeça. Frio. - Murmurou, cansado. Parecia ter levado uma surra.

Scarlett tocou a testa dele, e ele ainda tinha febre. Não tão forte quanto a da madrugada, mas ainda era febre. Ela se permitiu dar um beijinho na testa dele antes de sair.

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