Capítulo 2

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Foi uma viagem longa, sem dúvida. Entretanto lá avistei a bendita placa 'BEM VINDO A MIAMI'. Oh bem, nova vida, cheguei.


-Então gostas? Se quiseres posso mandar pintar as paredes de outra cor! Decidi deixar assim porque é mais genérico mas posso mudar.

- Jú, isto está perfeito.

Já tínhamos percorrido o apartamento inteiro. Agora, estávamos na ultima divisão, o meu quarto. A minha prima morava num T2 bem espaçoso e, a partir de agora, eu também. Não que ela fosse milionária, mas vivia bem. Pelo menos melhor do que nós quando vivíamos naquela casa. Mas isso também não era difícil.

- Eu não estou a brincar, Rose. Quero que te sintas em casa. Se quiseres que eu...

-Júlia! Eu vivi a minha vida num quarto completamente velho e deteriorado. Tinha mais verde nas paredes do bolor do que branco. Para além disso, preto e cinzento é uma combinação que eu ,pessoalmente, adoro.-interrompi-a.

Ela anuiu, visivelmente orgulhosa da sua escolha. Eu não mentia. Sempre adorei preto e cinzento e literalmente qualquer coisa era melhor do que o meu antigo quarto.

-Bem, amanhã é segunda portanto tens aulas. Sei que provavelmente não queres, mas já perdeste demasiada matéria por causa daquele palhaço. Em que ano ficaste?

-Andei até ao 10ºano. Depois precisei de trabalhar porque ela não podia.

Não foi nada fácil abandonar os estudos. Não que eu fosse uma aluna de 20. Duvido que a minha média passasse de 14 para ser honesta, no entanto, é quando temos a nossa educação tirada de nós que percebemos a falta que ela nos faz.

-Eu percebo, prima. Vais recomeçar do 11ºano porque, para todos os efeitos, tens o 10ºano terminado.  Embora eu já esteja no 12ºano o nosso horário é minimamente parecido, portanto amanhã levo-te à escola.

A minha prima era mais velha do que eu 2 anos. Eu tinha 18 e ela 20. Ambas tínhamos os nossos problemas. Todos ligados a ele. Eu saí da escola porque a minha mãe deixou de conseguir trabalhar e ele ameaçou expulsar-nos e a Júlia perdeu o amor à vida durante uns anos por causa dos abusos dele. Desistiu da escola, perdeu amigos e simplesmente deixou a vida andar enquanto estava deitada na sua cama ou na casa de banho a cortar-se.  Eu ainda a tentei ajudar, mas foi mais ou menos quando ele nos isolou do resto da família. Só a voltei a ver agora, no funeral da minha mãe.

-Rose?

-Sim, Júlia?

- Espero que saibas que tudo o que fiz foi por ti.

E saiu do meu quarto, como se me tivesse dito que chovia lá fora. Sinceramente, eu queria ir atrás dela e perguntar-lhe o que queria dizer com aquilo. Mas eu tinha aulas no dia seguinte e duas malonas por arrumar.  Lá comecei a organizar tudo com uma playlist de Queen a animar o meu quarto e depois fui dormir para no dia seguinte conseguir levantar-me sem muitos atrasos.

-ROSEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE! Ou te levantas agora ou ficas em terra!

Calma, que horas são? Ai meu Deus, estou tão atrasada. Tinha de ser, não é Rose? Vamos lá dormir cedo para não nos atrasarmos e depois no que dá? Atraso pela certa!

-Já vou sair.

Vesti-me completamente ao calhas e fiz a minha higiene matinal. Corri para a cozinha e peguei numa maçã para ser mais rápido.

-Hum Rose? Tu tens noção que acabaste de lavar os dentes sem comer o pequeno almoço certo?- Ela diz enquanto se ri descontroladamente.

Juro isto só a mim. Comi a minha maçã e corri até à casa de banho para lavar os dentes, de novo,  porque sou burra, basicamente.

Quando terminei, voltei a correr para o carro e lá fomos rumo aquela que, mais tarde, seria a minha desgraça.

-Olha Rose, vou te avisar desde já. As coisas aqui não são as típicas cenas cliché que vês nas séries. As chefes de claque não são más, os nerds são respeitados e não há muito bullying. Podes te aproximar de quem tu quiseres, menos do Andrew. Rose, jura que não te vais aproximar dele.

- Porque Júlia?  Sabes o que acho de excluir pessoas, a minha vida toda fui excluída sem motivo e sabes que...

-ROSE!- interrompeu-me enquanto eu preparava um discurso digno de embaixadora da paz- Só, por favor, respeita-me desta vez. Não te digo por maldade ou preconceito. Aquele rapaz só traz problemas e acredita que não queres entrar nos problemas dele.

-Ok, juro.

Afinal, tenho uma escola inteira por conhecer, acho que não haverá problema em ignorar um aluno.



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