| N i n a |
Hoje é o primeiro dia de aula depois das férias. Meu penúltimo ano nesse inferno.
Eu e Adam viemos de carro por conta do meu pé, mais ainda sim, chegamos atrasados. Muitíssimo atrasados.
Encontrei Anna e depois Max, ambos correndo para a aula, tão atrasados quanto nós.
As aulas foram chatas, exatamente como sabia que seriam, mas suportáveis. Consegui passar despercebida, como desejava.
Ouvi murmúrios sobre terem me expulsado da Royal de Londres, com certeza espalhados pelas bailarinas da minha academia. Não perco nem um pingo de energia em tentar desmentir; eu não preciso. Sei o que aconteceu e meus professores e superiores também. Representar minha academia no Royal foi acabar calar todas as pessoas que diziam coisas ruins sobre a minha dança e sobre o meu corpo em relação à dança.Adam está me esperando na saída, segundo a mensagem que me manda, mas antes decido ir ao banheiro, porque vamos direto para a minha consulta com a Dra. James e depois eu tenho que resolver pendências na academia, ainda sobre Londres.
O prédio está deserto, então espero encontrar o banheiro vazio, mas não é isso que acontece.
Assim que adentro, eu vejo Natalie. Ela está ofegante, com o rosto molhado de lágrimas e aparentemente tendo um ataque de pânico.⠀⠀— Vo-você.... tá be-bem? — Digo, aproximando-me.
⠀⠀— Sim. Ficaria melhor se... se estivesse longe daqui. — Ela diz rápido demais e se enrola nas suas palavras.
⠀⠀— E-eu... Hum, água. — Pego minha garrafinha na bolsa e a entrego.
⠀⠀— Por que está me dando água? — Ela limpa o rosto.
⠀⠀— Pra prender su-sua respi...ração. — Afirmo. — Acabar com o ataque.
⠀⠀— A melhor forma de a-acabar com um desses é be-beijar o namorado de-de o-out-tra pessoa.— Ela resmunga entre soluços.
⠀⠀— Bebe. — Peço, não dando bola ao comentário, por mais verídico que seja.
Natalie acaba com a água rapidamente e os soluços diminuem.
⠀⠀— Você tá melhor?
⠀⠀— Por que tá me ajudando?
⠀⠀— Ataques de-de pânico sã-são horríve-veis. — Suspiro. — Por que você tá a-assim?
⠀⠀— Não importa. — Ela se olha pro espelho.
⠀⠀— Importa.
⠀⠀— Importa tanto que estou aqui sozinha, Nina. — Ela diz com sarcamo.
⠀⠀— Não está sozinha. Es-estou aqui.
⠀⠀— Reconfortante estar com a garota que tirou meu ex de mim. — Ela ri.
⠀⠀— Eu não fiz isso. Você fez. — Dou os ombros. — Ele foi idiota em mentir, concordamos nisso. Mas você trata todo mundo mal, Natalie. O Adam não é assim e ele não gosta disso. — Digo de vez.
⠀⠀— Eu sei. Sou um lixo. Obrigada por me botar pra cima. Agora estou muito mais reconfortada. — Ela ri.
⠀⠀— Não é. É inteligente, talentosa e legal quando quer. É bonita como eu nunca vi ninguém da nossa idade ser. — Não hesito muito a ponto de gaguejar.
Acho que não tenho mais tanto medo de Natalie e do que ela pode pensar ou dizer de mim a ponto de ficar tão nervosa com as coisas que quero dizer. Não ligo muito para isso e para a sua reação. Se for negativa, tudo bem; preciso entender que o que eu digo é o que eu quero dizer, mas nem sempre o que a outra pessoa quer ouvir. Se eu aprender isso de verdade, dou adeus a uma boa parte da fobia. Acontece que é mais fácil em um banheiro sozinha com a ex do meu namorado, que com toda a gente em massa que realmente me põe medo.
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O Silêncio Entre Nós
RomansaHISTÓRIA EM EDIÇÃO | LEIA A INTRODUÇÃO Após a morte do pai de Nina Davis, ela desenvolve uma fobia social que a impossibilita de se comunicar com as pessoas de maneira direta, além de uma depressão severa que a mantém à margem do mundo, sempre tranc...