O FIM - P A R T E Q U A T R O

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Desviei os olhos do espelho quando ouvi que a porta do quarto se abrira.

A cabeça de Alejandra surgiu pelo vão.

– Oi, querida, como você está?

– Estou bem – assegurei, sorrindo ao ver aquele rosto familiar que tanto me acalmava. – Onde está Nic?

– Lá embaixo, alugando os ouvidos para um primo seu.

– Peça desculpas a ela por mim – falei, com uma leve careta.

– Você quer que eu fique por aqui? – ofereceu ela, correndo os olhos pelo quarto e vendo o vestido coberto pelo celofane, a roupa de baixo dobrada na cama e os sapatos alinhados, à espera de que eu os calçasse.

– Não, estou bem. Desça e vá resgatar sua pobre mulher.

Alejandra sorriu e se virou para sair .

– Ah, quase esqueci! – disse ela, voltando até a penteadeira e apertando de leve meu ombro.

Então tirou dois pequenos envelopes quadrados do bolso de seu casaco.

– Chegaram há pouco.

Peguei-os e olhei brevemente a caligrafia. Não reconheci nenhuma das duas. Eu não tinha tempo para ler nem mais um cartão agora: eles teriam de se juntar à considerável coleção, no primeiro andar.

– Então – continuou Alejandra, um pouco hesitante – vejo você na igreja?

– Estarei lá – falei suavemente.

Ela saiu, ainda me olhando por cima do ombro com uma expressão indisfarçável de amor. Peguei os dois espessos envelopes para colocá-los sob o peso de papel da penteadeira: o grande seixo liso e transparente que eu recolhera da margem do lago.

Deslizei os cartões para baixo dele e deixei meus dedos se demorarem no gesto, correndo sobre os veios da pedra cinza e sedosa, recordando...


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