onze

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[Micaely on]

Você já se sentiu como se estivesse morto por dentro? Como se nada mais bastasse. Como se tudo agora fosse um nada, e o nada fosse um tudo. Ninguém mais pode ajudar, isso com certeza poderia não ter acabado assim, mas eu fui estupidamente idiota em confiar demais nas pessoas.

Já se passou uma semana desde que tudo aconteceu. Mas eu não me sinto melhor, muito pelo contrário. Acho que não vou superar isso. Eu gostava de verdade dele. Mas olha só o que ele me fez. E a Dani, nem se fala.

Meu dinheiro estava acabando, então tive a brilhante ideia de ligar para a Isabel, ela pediu que eu cuidasse dos filhos dela e do cachorro enquanto ela dava uma saidinha com as amigas. Sua casa era bem grande, tinha uma laje com piscina e Jacuzzi. No quintal havia um jardim, com lindas flores azuis e lírios.
Os meninos foram tranquilos a tarde toda, fizemos lanche e algumas brincadeiras. Com eles eu consegui esquecer um pouco tudo aquilo. No final da noite, a janta foi almôndegas, eles comeram muito e ficamos assistindo série, "Caçador de trolls", coisa assim. Já era bem tarde, eles estavam quase dormindo em cima de mim, então, levei-os para a cama e os cobri.
Aproveitei pra carregar meu celular, enquanto Isabel não chegava.

Eu estava quase cochilando no sofá quando ouvi o barulho da porta abrir. Me recompus e fui recebê-la. Ela me deu 100 reais e pediu que eu dormisse lá, já que estava tão tarde.
Aquela foi a primeira noite depois de então, em que o frio era opção. Fiquei no quarto de hóspedes, tinha uma cama de casal com várias almofadas e um banheiro bem espaçoso e perfumado. Ajustei o ar condicionado no 21°, porque, particularmente, eu detestava o frio. Tomei um banho longo. Deixei a água correr em cada cantinho do meu corpo, depois me enxuguei e fui deitar.

Na manhã seguinte, bem cedo, todos da casa fomos ao parque, Isabel comprou um cachorro quente para mim e pros meninos. Passamos algumas horas conversando até que ela tocou no assunto meio delicado.

- Como tá na universidade? - ela sorriu.

- Tá bem.- menti.

- Soube que vazaram um vídeo de uma garota de lá. É verdade?

Demorei um pouco pra responder.

- Acho que sim, como sabe?

- A diretora de lá é minha amiga.

Meu coração acelerou. Então ela sabia que eu não estava indo pras aulas ou que a garota era eu.
Fiquei em silêncio e ela continuou:

- Sabe Mica, na sua idade, eu era que nem você. Uma menina esperta, gentil e linda. - ela riu.- Nessa época, também fui alvo de uma aposta. Lembro que um dos garotos que dava em cima de mim, me levou para beber, logo eu, que nunca tinha bebido na vida.

Ela deu uma pausa e olhou para os meninos brincando com o cachorro.

- Postaram um vídeo meu, eu estava louca. Tinha bebido muito, até cair no chão. Depois vomitei na camisa dos garotos e bebi de novo, até meus pais chegarem no local e me levarem pra casa.- ela abriu um sorriso de saudade. - Me deram uma bronca e me deixaram de castigo por semanas. Não me deixavam sair de casa ou ter uma visita longa das minhas amigas.

Eu a olhei e vi, em seus olhos, um olhar sereno.

- Mas aquilo tudo me fortaleceu no final das contas. Aprendi a ser forte nas minhas decisões e em quem confiar. Meus pais me ajudaram. - ela olhou pra mim.- Já tentou falar com eles?

- Eles me expulsaram de casa pra fazer uma piscina no lugar do meu quarto, acha mesmo que eles se importam?

- Por que não tenta?

Oh Daddy ~ HLOnde histórias criam vida. Descubra agora