Papai e eu nos acomodamos numa mesa no canto do bar, como de costume.
Um murmúrio lamentável percorria a taberna inteira. Não haviam músicos tocando, muito menos o velho Taylor contando suas histórias mentirosas e engraçadas. Também não haviam risadas ou homens bêbados brigando uns com os outros. Ninguém andava muito animado ultimamente, desde que as pessoas vinham desaparecendo. A Lareira bruxuleava, e dava a taberna um ar monótomo e chato.
- Já passa da hora de você tomar sua primeira bebida, não acha? - Perguntou papai.
Ele era um homem alto, de músculos definidos e acentuados como um touro, talvez pelo fato de ser um lenhador. Mas como ele dizia, “um par de braços grandes atrai as mulheres e espanta os homens”.
Naquela noite em particular, nos cobríamos com peles de urso e usávamos luvas. O inverno chegara com força.
— Não gosto de bebidas. - Respondi, com toda seriedade que um garoto de 13 anos poderia ter.
— Não sei que tipo de homem você vai ser. - Retrucou, suspirando de desânimo.
— O tipo que fica sóbrio. - Papai sorriu
— O que vão querer hoje senhores. - Perguntou minha irmã, que trabalhava como garçonete na taberna. Ginna era uma mulher bonita, extremamente parecida comigo. Seu rosto era um pouco redondo, com as maçãs do rosto altas como as da mamãe, e pele clara. Seus cabelos eram longos e brancos como o meu, e isso causava certa excitação nos homens dali. O que de certo modo fez papai ir para a taberna do Balt todos os dias para vigiá-la. Ele negava, mas qualquer um que o conhecesse saberia.
— Uma caneca de cerveja por favor. - Disse papai, apertando suas bochechas. Ginna bufou, praguejou alguma coisa que eu não entendi e saiu taberna a dentro.
— Até quando pretende vigiar Ginna? - Perguntei.
— Não estou vigiando. - Disse, em tom sério. - Estou tomando conta dela. Você sabe quantos tarados têm por ai? Não é difícil alguém sequestrá-la ou coisa pior.
— Você não pode protegê-la o tempo todo papai. - Argumentei. - E eu não aguento vir aqui todos os dias com você. Isso é tedioso. - Mais tarde, eu viria a me arrepender dessas palavras, mas no momento mamãe não me queria perto dela, e eu teria que acompanhar meu pai aonde quer que ele fosse.
- Que tipo de filho é você, que não gosta de passar um tempo com seu pai! - Brincou, bagunçando meu cabelo. - Seu rosto ficou sereno, e fumaça saiu da sua boca enquanto falava. Tomou um gole longo de cerveja, e bateu a tampa do caneco na mesa.
— Sabe, a cor do seu cabelo traz sorte. O branco é uma cor pura, porque nele cabem todas as outras cores, é um sinal de força. E você e sua irmã são assim, sou muito orgulhoso por isso. - Bagunçou meu cabelo novamente. - Eu não tive a sorte de vocês. — Sorriu.
— Já ouvi isso antes, mais vezes do que eu poderia querer. - Falei, irritado.
— Como consegue ser tão ranzinza? Sorria um pouco moleque!
— Vou sorrir quando estiver em casa.
— Se acalme, sua mãe só está triste com o que vem acontecendo. - Disse papai, tentando me consolar. Debrucei a cabeça sobre a mesa.
— Não tenho culpa se meu irmão sumiu... eu estou triste por ele também, e nem por isso não quero ela por perto. - Senti lágrimas começarem a brotar em meus olhos, e me segurei para não chorar ali.
— Não é só seu irmão, muitas outras pessoas da vila vem desaparecendo Damion. Não seja egoísta, dê um tempo para sua mãe se recompor. - Disse, sério.
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Cibérion
FantasyUm jovem garoto sofre uma séries de desventuras em sua vida, até que se depara com um novo mundo onde quase tudo é possível, e desenvolve o seu desejo por vingança, que o leva a uma incrível jornada