Tudo aquilo que não foi dito

Quem sou eu?

Tem dias nos quais não sei quem sou
Sinto-me absurdamente perdida
Não tenho um vislumbre de luz

A escuridão se infiltra em cada osso
Cada partícula do meu corpo
Parece que estou mais vazia
Nada tem cor
Nada tem sentido

E não acho que seja pessimismo
Ou como dizem "falta de Deus"
Na falta de um, acredito em todos
Sigo sempre uma rotina parecida
Há dias em que não consigo levantar
Sinto como se estivesse amarrada na cama

PE-TRI-FI-CA-DA.

Tem dias em que sinto uma tristeza tão profunda que parece doer
É como uma agonia pré morte

Você já viu um moribundo agonizando antes de morrer?
A sensação é de perigo eminente
Parece que alguma coisa muito ruim está para acontecer e serei inevitavelmente afetada por isso.

Me sinto inútil
Fracassada
Sem propósito
Para que eu eu sirvo?
Não sei o que fazer para dar certo
Não tem nenhuma fórmula mágica
Não é com um estalo de dedos
Que eu vou conseguir mudar
Todos esses pensamentos
Que plantaram na minha mente
Desde que eu era uma criança

Eu tenho tantas cicatrizes
Algumas feridas em carne viva
Mas não no corpo, na alma.
O terapeuta não vê, nem você
O mundo não teve amor para me dar quando eu era tão pequena
Arrancaram de mim a esperança
Fizeram com que eu me odiasse
Fizeram com que eu me sentisse uma criatura desprezível
Os danos foram feitos
Não se conserta um prato quebrado
Só dizendo para ele juntar todos os pedacinhos e voltar a ser inteiro
Não é tão simples como pensam

As vezes sinto um medo tão grande
De não conseguir vencer essa praga
Depressão é uma praga maldita
Sinto medo de nunca conseguir me amar e ser feliz nesse mundo
Não é que eu não esteja resolvida com o que eu sou
Eu amo quem eu me tornei
Mas ao mesmo tempo me sinto fraca
São tantas guerras na minha cabeça
Sinto como se todas essas vozes fossem me enlouquecer
Elas gritam mais alto e eu choro
As lágrimas só caem
Mas não me trazem alívio
Sinto meu coração virar chumbo

Hoje eu me levantei da cama.
Hoje eu consegui lavar uma louça
Lavar roupa, varrer a casa
Mesmo sem saber para onde ir
Eu venci a queda de braço com a tristeza (por enquanto, por hoje)

O tempo todo pessoas querem tipicar o que sinto como drama
Como covardia ou ingratidão
Não, eu não aceito que digam isso
Não quando sou eu que vivo cada maldito sofrimento e choro cada maldita lágrima e caio e me levanto

Eu não sei como a estrada termina
Não sei como a vida vai ser daqui para frente e isso é assustador
Não quero mais viver assim
Não aguento mais tanta dor
Mas não vou desistir de lutar
Eu sempre vou dar trabalho para a depressão e para a ansiedade
Eu sempre vou nadar contra a maré
Como eu sempre fiz esses anos

Eu não quero que sintam pena
Não quero ser o foco das atenções
Eu só não quero ser covardemente acusada de ser fraca e preguiçosa
Quando tudo que eu tenho feito
Minha vida toda é resistir
É me esforçar para sair do fundo do poço, e sei que faço o meu melhor.

Ainda sou muito nova
Mas idade não define nada
Números não podem me limitar
Eu sou mais que rótulos
Eu não sou um produto
Eu sou humana
Demasiadamente humana.