🦄Camila🦄
- Senhora Keller - eu chamo e ela não me ouve, continua encarando a chávena de chá balacate, perdida em algum canto do seu interior onde guarda a dor da recente perda do seu filho.
Zack era um miúdo incrível, um jogador excepcional de futebol e todos acreditávamos que não demoraria nada para ele assinar contrato com alguma equipe famosa de futebol europeu e ir jogar em grandes competições mundiais. Mas a vida é assim, não é mesmo? Você vive seus dias fazendo grandes planos de como será amanhã e se que esquece de que ninguém prometeu um novo nascer do sol ou uma hora a mais. No caso de Zack não havia sequer dez minutos a mais quando desligou a chamada após dizer até logo á mãe. Não houve mais logo. Ele foi atropelado ao atravessar a estrada bem em frente á lanchonete. Foi um dia horrível para todos, principalmente para mim que acabava de quebrar o seu coração e vi ele morrer nos meus olhos.
- Senhora Keller!
Ela desperta e me encara.
- Camila! - responde depois de um tempo me encarando como se não tivesse percebido ainda que era eu. Vejo olheiras debaixo dos seus. Ela parece ter envelhecido bastante nos últimos dois meses. Parece que a longa viagem que fez para longe daqui após a a missa do sétimo dia da tragédia não a havia deixado melhor em nenhum aspecto.
Eu sorrio de leve, nervosa. Vê-la traz de volta o peso da culpa que minha psicóloga teve imenso trabalho para aliviar.
- Eu vim perguntar se a senhora não quer que eu vá aquecer seu chá, não tocou nele e deve já estar frio. Ou quer alguma outra coisa? Bolinho para acompanhar?
Ela agradece mas não pede nada. O silêncio retorna e me sinto desconfortável. Sempre que ela olhava para mim chorava, agora sinto que está lutando para não deixar a poça de lágrimas em seus olhos transbordar. Eu não sabia que ela havia voltado da viagem, teria me preparado para aquele momento. Não sei o que fazer nem o que dizer, porque não há palavras que curem a dor da perda. Palavras de consolação apenas aliviam a consciência das outras pessoas, elas cumpriram o protocolo da humanidade, mas aos enlutados, só o tempo mesmo para amenizar a desolação, alguns vazios nunca são preenchidos. Eu sei do que falo.
- Camila, espera... - ela me pára quando dou a volta para o balcão - Você... Você pode se sentar um pouquinho comigo?
- Eu? - olho para os lados procurando uma fuga, mas a lanchonete está quase vazia àquela hora e não sei o que inventar. Se pelo menos o Marlon estivesse ali, ele me olharia com aquela cara infernal e eu poderia apontar-lhe como a razão de eu ter que recusar.
- Por favor. Eu só... só quero conversar um pouco. Lá em casa está insuportável.
Eu sinto meu peito aquecer e minha garganta apertar, não quero sentar. Se o fizer ela vai me arrastar para a sua tristeza também e eu não quero chorar por seu filho. Não mais. Quero só me lembrar dele e sorrir como era inevitável ao lado dele. Zack era alegria e vida, muito especial para mim, só queria que ele tivesse partido sabendo do lugar único que ocupava na minha vida.
Sentei-me e senhora Keller sorriu-me de forma nervosa, suas mãos apertando a chávena.
- Eu voltei da viagem ainda esta manhã e fui á escola como fazia antes. Você sabe como ele odiava conduzir e eu tinha que lhe levar como uma criança, não é?
Eu sorrio com ela.
- Sim. Nós brigávamos bastante quando íamos sair os dois. Eu tenho medo de conduzir e ele odiava. Sempre deixávamos o carro na garagem e íamos de taxi.
- Só no dia do baile de boas vindas ele pegou as chaves sem ninguém lhe mandar. Ele disse que tinha uma princesa por levar a um baile e ela merecia o melhor naquela noite. - ela limpa suas lágrimas e levanta os olhos para mim - Ele gostava muito de ti, Camila.
Eu disse que ela me faria chorar. Assinto com a cabeça enquanto limpo minhas lágrimas.
- Eu também, senhora Keller. Zack era meu melhor amigo, tínhamos tanto em comum.
- Eu não sei se é apropriado revelar segredos dele agora, mas ele te amava mais que isso, Camila. Ele estava apaixonado por você e, naquele dia, saiu de casa decidido a se declarar para ti porque estava obcecado com a ideia de estares a gostar de outra pessoa e não queria te perder. Eu liguei para perguntar se havia conseguido, porque vocês eram perfeitos um para o outro, mas ele disse que me contava tudo ao chegar a casa. Nem pude supor nada pelo seu tom de voz, sabes que ele escondia bem suas emoções, não é mesmo?
E suas paixões também. Ele dizia estar apaixonado há anos e eu nunca percebi. Senhora Keller segura minhas mãos sobre a mesa.
- Camila, eu quero saber se pelo menos o meu filho morreu com o coração cheio de amor. Ele falou contigo? Você disse sim?
Eu desabo e choro. Eu vou magoa-la também e vai me odiar. Vai me achar culpada por destroçar seu filho apesar de ele ter sorrido e dito que estava tudo bem entre nós, que só havia se declarado porque queria aliviar seu peito, não aguentava mais segurar tanto amor assim só com ele.
Dinah apareceu como uma salvação naquele momento. Ela disse que o Justin precisava da minha ajuda com urgência ou a cozinha ia pegar fogo. Despeço-me da senhora Keller, mas ela me pára outra vez.
- Encontrei o Calton Jones e os meninos da equipe na escola e me falaram sobre o memorial de Zack no jardim dos fundos lá de casa, você vem?
- Claro, senhora Keller. Eu estarei lá.
Ela sorri assentindo e eu corro para a cozinha. Justin estava trabalhando com tudo na perfeição.
- De nada por te salvar do peso de confessar que você quebrou o coração do finado bonitão bem antes daquele motorista bêbado ir para cima dele com a camioneta. - Dinah diz, e embora eu não goste de como ela fala, me sinto grata a ela por isso. - Eu achava que ela não voltava mais para cá. Acha que a equipe da escola organizou o memorial de Zack para hoje por causa disso?
- Não sei dizer. Tivemos um no mês passado e ela estava ainda viajando.
Pois, a equipe de futebol organizou um convívio no jardim dos fundos da casa de Zack em sua memória quando completou um mês de morte. Nós sentamos lá como acontecia quando ele vivia, conversávamos sobre ele, muitas vezes rimos, comemos pipoca e batatas fritas de pacote e tomamos soda como ele gostava.
- Só espero que ela não arruine a diversão e torne nosso memorial num enterro. Eu ouvi que desta vez vai ter música, bebida de verdade e churrasco. Uma comemoração dos rapazes por ter passado para a competição estadual de futebol. Dedicaram a conquista ao ex-capitão, como em uma razão para vencer (the miracle season).
Os rapazes da equipe de futebol são, muitas vezes, idiotas demais com as pessoas, mas eles são, entre eles, uma equipe de verdade, dentro e fora do campo, eu aprecio bastante isso.
O sino toca indicando um novo cliente a entrar. Dinah olha para mim como quem manda ir atender. Ela está em greve, não vai atender ninguém enquanto o senhor Mendes ou o desgraçado do filho dele não aparecerem para nos comunicar do encerramento da lanchonete como deve ser.
- Você devia atender as pessoas e garantir que vendemos mais neste tempo do que já alguma vez fizemos, quem sabe o reizinho decide manter a lanchonete aberta. - eu digo.
Dinah coloca sua mão no meu ombro.
- Continue assim, Camila. O mundo ainda tem cor porque há pessoas que sonham rosa como você.
Eu pego meu bloquinho de anotações e caminho em direcção á mesa recém ocupada enquanto arrumo meu uniforme e páro em frente ao casal que acaba de chegar. Estou anotando seus pedidos quando meus olhos vão para a mesa onde estava a senhora Keller e meu coração bate tão forte que até dói ao ver a pessoa sentada ali com o braço estendido no encosto do sofá booth olhando para mim.
É ele. Eu tenho certeza, seu rosto fica claro em minhas memórias daquela noite de uma forma que não consegui fazer nos dias que se passaram. Aquele sorriso... Ele está sorrindo para mim e sinto meu estômago se revirar como borboletas voando no seu interior. Aquele sorriso é único, mesmo quando é discreto e medido como faz agora consegue iluminar a lanchonete inteira. Charlie? O que ele está fazendo aqui?©
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Señorita (A sexy and Hot Shawmila fanfic)
Hayran Kurgu[Baseada na nova sensação de Camila Cabello e Shawn Mendes "Señorita"] Quando Shawn descobre que a miúda que virou sua cabeça no clube é garçonete na lanchonete de seu pai, todo o seu mundo vira uma bagunça e ele fará de tudo para conquista-lá, nem...