Deserving

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Eu sei que eu vou me arrepender disso. Porra, eu sei que eu vou. Principalmente se nos momentos finais que minha alma estiver deixando esse corpo já desgastado, passar um grande vídeo acusatório mostrando o porquê a minha
vida é o que é, por culpa minha, por escolhas minhas.

Talvez o momento do meu primeiro baseado, ou da primeira carreira de pó.
Ou do primeiro programa, quem sabe?
A última situação, eu tive que fazer, eu precisei.

E eu sei que eu vou me arrepender. Mas o que mais me faz me sentir um covarde, é nem ter me despedido da pessoa mais importante.

Junhyun. Meu filho. Meu único filho, e talvez a única coisa boa que tenha acontecido na minha vida. Uma pena para ele que foi na minha vida. Você merece mais, minha criança prodígio. Você merece tão mais, meu menino. Todos os dias que eu chegava em casa, e você me recebia com esse sorriso e perguntava como havida sido o meu dia "teve um dia bom, Papai?", e enchia o meu coração todinho de amor quando contava o que havia aprendido na escolinha.
Quando você aprendeu a ler, e me fez ficar uma hora e meia a mais em casa porque você queria ler pra mim seu livro preferido. Você não dormiria antes de contar como os três porquinhos escaparam do lobo mau. Você prometeu isso, e cumpriu. E quando você finalmente terminou, eu bati palma, te enchi de beijinhos e disse pra você o quanto te amava. E assim que deixei seu quarto, desabei de chorar pensando no que você merece, que com certeza não é um pai como eu. Nem ser cuidado por uma vizinha como a senhora Jung faz, mas ela é uma pessoa boa, e entende o que eu passo e cuida de você.
Mas não é isso que você merece. Você não merece sofrer bullying por ter um pai como eu, e nem entender o motivo... você não sabe o meu lado podre, meu pequeno, e sabe menos ainda o quanto eu me odeio por tê-lo... Eu não sou metade do que você pensa que eu sou...
Eu não sou um herói.
Você é o salvador aqui.
Você não merece ser excluído dos trabalhos da escola por seus coleguinhas serem proibidos pelos pais de falarem com você por terem medo de você ser como eu.
Você merece ser feliz.
Você merece ter amigos.
Você merece ser saudável e poder brincar na rua.
Você merece uma casa bonita, num bairro seguro, com uma mãe amorosa, um pai com um emprego digno, muitos brinquedos e desenhos também. Mas infelizmente, o bairro em que moramos é o pior da cidade. Sua mãe é uma outra viciada que te abandonou logo depois que nasceu, dizendo que não estava apta para tal. O trabalho do seu pai é como puta de rua ou dama de companhia. E eu ainda achei que poderia cuidar de você. Eu fiz o meu primeiro programa para ter mais dinheiro pra você, porque o meu vicio é tão forte, que mesmo me destruindo aos poucos, eu não consigo parar, e se cabe-me dizer, é quase impossível manter uma cidade que está completamente em ruínas.
Me desculpa, meu filho.
Eu sei que a senhora Jung cuidará bem de você, o filho dela também. Hoseok o ama como um irmão. Afinal, são eles que tomam conta de você quando eu estou com tanta cocaína ou qualquer outra merda dentro de mim para aguentar o programa noturno, que minhas pernas falham só de pensar em andar. Me desculpa, filho

Park Jimin, ah, Jimin... Você vai ficar tão decepcionado comigo... Você vai chorar muito, você é uma pessoa tão sensível... Eu nem sei como você acabou numa vida como a minha. Você planejava nosso casamento, e como seria decorado em tons de champanhe, e em orquídeas brancas com pequenas flores amarelas. Você ama o amarelo, e amarelo me lembra você, quase a mesma cor do sol, reluzente.
Porque você é assim: a luz na vida de qualquer um que esteja ao seu redor. Me pego pensando sobre como você ficaria lindo num terno de cor pastel, vindo em minha direção enquanto te esperava no altar. Mas isso não vai acontecer, você merece alguém melhor, alguém para te tirar dessa vida.
Você não merece isso.
Mas você tem o meu coração, e o de Junhyun também. Então por favor, cuide dele. Dê a ele o leite achocolatado que ele ama tomar assistindo seu desenho favorito. Ajude a não deixar isso pior do que já é. Eu sou fraco, mas vocês não precisam ser. Aguente firme. Mude de vida. E se o fizer, não abandone o Junhyun. Ele já perdeu coisa demais nessa vida.

Eu queria ser forte. Eu queria muito ser uma pessoa forte, mas a vida não me fez forte o suficiente.
Principalmente depois de hoje, quando uma tatuadora qualquer resolveu que seria engraçado postar um vídeo meu diante às traças, chorando desesperadamente. E os comentários que diziam "Deve ser uma putinha que perdeu o programa", todos caçoaram das minhas lágrimas. Mas não, a parte do garoto de programa eu posso até ser, mas a verdade é que eu sou apenas um pai que perdeu seu filho.
A justiça sabe que eu não presto pra cuidar de alguém, afinal, nem de mim eu cuidei.
Riram de mim, riram da minha dor, do meu sofrimento. Da minha perda.
Porque a minha situação, a minha vida não passa de uma piada pra vocês, não é mesmo?

"Insignificante." Foi isso que disseram, olhando aos meus olhos enquanto eu vomitava minhas palavras de dor
"Insignificante. Só mais um viciado que se prostitui pra continuar se drogando" Eu sei o que eu sou. Mas eu tenho vergonha do que eu sou, e talvez, eu deixe de decepcionar a todos quando deixar também de existir.

Junhyun e Jimin, eu os amo. Me perdoem por ser o que eu sou...
Ou agora, por deixar de ser.

-Jeon Jungkook, 23 de agosto de 2021



Pessoas, também tem uma versão felizinha no meu perfil já disponível, espero que vocês gostem, não se esqueçam de votar e recomendar a fic!
Obrigada <3

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